SALVADOR LACERADA. Editorial do jornal "A Tarde", Salvador, 21 de julho de 2010, p.A3)
Triste, pesarosa Salvador dos velhos casarões coloniais. Ainda belos de ver, de fora - mas quem neles reside, à falta de opções, coabita com o risco permanente. As chuvas se fazem anunciar, chegam, sepultam moradores e encontram autoridades, apesar das catástrofes no sudeste, e em Alagoas e Pernambuco, expostas à tragédia anunciada.
Há 111 prédios tombados que A TARDE mapeou. Tombados e esquecidos. O tombamento de fato vem com os aguaceiros. Há também 444 mil imóveis construídos irregularmente. Existe a Sucom, para o controle e ordenamento do uso do solo, o Crea, órgão técnico de engenharia e arquitetura, a Codesal, de defesa civil, o Iphan, tutor do patrimônio histórico e artístico, o PDDU costurado em sigilo. Leis em geral satisfatórias, no entanto remotas. A fiscalização é um logro.
Um dia, a "terra da felicidade", como diz a canção, desperta sacudida por temporais, às vezes pouco agressivos, mas resistentes - e se deixa lacerar. O final de semana ressaltou o martírio de Eliélson Carvalho Santos, de 40 anos, a quem um médico amparado por bombeiros amputou o braço esquerdo, para que o retirassem dois escombros de um prédio na Conceição da Praia. Três pessoas morreram em Pernambués.
Um desastre vem, passa, outros se formam qual nuvem pressaga. Porque inexiste até mesmo a tentativa de coordenação dos recursos disponíveis. Município, Estado, União parecem propensos a institucionalizar o sofrimento popular, não obstante o Projeto Documenta, da Caixa, para restauração de prédios, casarões, logradouros e o mais que a burocracia trava, emperra, retarda.
O perigo ronda o Comércio, com 30 casarões de alto risco, o Centro Histórico, com 24 em situação idêntica, e se adensa em 52 prédios de médio risco, mais 23 de baixo risco, no Barbalho, Nazaré, Saúde, Dois de Julho, Barroquinha e outros sítios. O estado já obtivera R$ 700 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para uma atrasada cirurgia facial.
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