segunda-feira, 19 de julho de 2010

CHÃO ... (3) - ASFALTAR, ASFALTAR, ASFALTAR ... ANTES QUE NOS CUBRA O BOM SENSO

CHÃO DE MEMÓRIAS URBANAS (3.1)


"Escrever, escrever, escrever ...
antes que nos cubra a demência ..."


(Antonio Brasileiro - poeta feirense/Feira de Santana)




ASFALTAR, ASFALTAR, ASFALTAR ... ANTES QUE NOS CUBRA O BOM SENSO


Vicente Deocleciano Moreira

vicentedeocleciano@gmail.com
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
http://www.viverascidades.blogspot.com




Calçamentos ("cabeça de nêgo", paralelepípedos, lajotas ...) e trilhos de ferro por onde passaram carruagens, automóveis, ônibus e (sobre os trilhos de ferro) bondes, de uma cidade, parecem transformados em seres animados (seres com alma pulsante) quando os transfigurmamos em museus a céu aberto. Quando os lemos como guardiães da identidade e da memória de uma cidade.

Calçamentos ("cabeça de nêgo", paralelepípedos, lajotas ...) e trilhos de ferro por onde passaram carruagens, automóveis, ônibus e (sobre os trilhos de ferro) bondes têm feito parte da ecologia da parte mais antiga de uma cidade; em muitas delas, esses calçamentos volta e meia sofrem ameças de serem sepultados por camadas e sobrecamadas de asfalto.

O asfalto, segundo as mentalidades provincianas, dá um toque de "modernidade" ao sítio urbano. Alma pequena, essa inspiração sempre e sempre volta a ameaçar o calçamento do Pelourinho, Santo Antonio Além do Carmo, Terreiro de Jesus e proximidades, em Salvador- sítios que estão sempre na mira dos abutres asfaltadores de plantão. Essas mesmas mentalidades insaciáveis de provincianismo levantam a bandeira da defesa da lógica do automóvel. Dirigir sobre tais tipos de pisos urbanos faz tremer e "faz folga" nos automóveis e outros veículos.

Foi essa mesma mentalidade que partiu da ameaça para o asfaltamento concreto e sepultou os paralelepípedos da Avenida Getúlio Vargas e ruas vizinhas em Feira de Santana (Bahia)para facilitar a "vida" dos automóveis. E, na capital Salvador, substituiu as pedras portuguesas do passeio do Porto da Barra, por plaquinhas de mármore para "facilitar" a vida de transeuntes e (eventuais e sazonais) praticantes matinais e crepusculares de "cooper". Uma das consequências disso nas duas cidades: aumento expressivo da temperatura principalmente no verão.

Foi essa mesma mentalidade que "iluminou" de trevas infernais a afirmação de um político brasileiro que disse que, se fosse prefeito de Roma derrubaria o Coliseu para facilitar a circulação de automóveis na capital italiana.


Trilhos urbanos têm tido, nas cidades subdesenvolvidas, os inglórios destinos do sepultamento asfáltico e da exumação. Cidades européias proporcionam encanto e elegância aos seus cenários urbanos mantendo trilhos que fazem bondes modernos e vistosos cortarem o centro da cidade onde também circulam transeuntes, ônibus e automóveis. Em Alagoinhas (Bahia - Brasil) a bela estação ferroviária São Francisco, de vigoroso e pujante estilo inglês, está abandonada e literalmente sucateada em suas estruturas e adereços de ferro. Vagões conduzem apenas cargas industriais sobre trilhos que cortam a cidade e, quando passam, "atrapalham" com encarrafamentos automóveis e motoristas impacientes.

Ponho-me a meditar sobre o pouco que retaria ao bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, sem os trilhos de seu famoso bonde; e também como a ausência deste veículo deixaria pobre e soliário os arcos (antigos aquedutos) do Largo da Carioca.

Peço aos leitores deste Blog, seguidores de alguma religião, que façam preces e orações para que a cidade do Rio de Janeiro jamais tenha ou eleja um prefeito que queira "modernizar" o calçadão de Cocapacabana substituindo-o por placas de granito e cimento.

"Modernizar" é mais fácil, barato e eleitoreiro do que conservar o calçamento, horizontalizando-o, nivelando-o e refazendo seus rejuntamentos.






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