CHÃO DE MEMÓRIAS URBANAS (4)-O FUTURO NAS LINHAS DO PASSADO: SALVADOR - BAHIA - BRASIL
O melhor o tempo esconde, longe, muito longe
Mas bem dentro aqui, quando o bonde dava a volta ali
No cais de Araújo Pinho, tamarindeirinho
Nunca me esqueci onde o imperador fez xixi
Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro
Trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir
Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos
E eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir
Rua da Matriz ao Conde no trole ou no bonde
Tudo é bom de vê, seu Popó do Maculelê
Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa
Não dá prá entender o Apolo e o rio Subaé
Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria
Mãe de Deus, será que esses olhos são meus ?
Cinema transcendental, Trilhos Urbanos
Gal cantando o Balancê
Como eu sei lembrar de você
(Caetano Veloso - "Trilhos Urbanos")
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
A "Companhia Trilhos Urbanos", com seus bondes puxados por burros, serviu Santo Amaro da Purificação (Bahia-Brasil), cidade natal de Caetano Veloso, nos séculos XIX e XX.
Mas é de Salvador, as três fotografias que tenho diiante de mim, neste momento: uma de 1875 que mostra o cotidiano de uma praça, localizada na Cidade Baixa, que veio a receber o nome Praça Marechal Deodoro; na segunda foto, de 1920, o Relógio de São Pedro (Cidade Alta) localizado no vértice de sua praceta (praça pequena: tenho, ainda, a praça (depois conhecida como "Praça Castro Alves").
A Praça Marechal Deodoro localizava-se (e ainda se localiza) a beira mar ou sobre o aterro que foi realizado sobre o mar e a praia originais. Um logradouro bem conservado em seu calçamento e jardins com destaque para um deles em que se observa uma vegetação rasteira que desenha uma estrela. Margeando os jardins pequenas árvores que parecem recém (im)plantadas. No mar, à semelhança de um pequeno porto, embarcações ancoradas e, no horizonte, a península de Itapagipe. Belos prédios, talvez trapiches. Homens de terno andam pelas ruas. Três carroças e respectivos carroceiros. E um bonde trafegando no sentido oposto ao das carroças.
No Relógio de São Pedro (até hoje (2010) assim se denomina, popularmente, o trecho da Avenida Sete de Setembro sob o 'olhar' do relógio, um homem e um adolescente em trajes de trabalho (parecem carregadores, trabalhadores braçais) cruzam, sobre calçamento em pedras, com homens de terno e chapéu. Um automóvel e uma carroça estão estacionados. Um bonde passa sob belos postes e kuminárias "art nouveau".
A foto da Praça Castro Alves é particularmente rica em detalhes: calçamento em pedras, e o 'abrigo' - equipamento com serviço de café e de bar onde transeuntes aguardavam o bonde; sobre seu teto, propagandas de "Guaraina" e "Guarany" e outras palavras pouco legíveis. Este 'abrigo', a exemplo de tantos outros que davam encanto à cidade, não mais existe. Inexiste, também, o prédio original do Cine Thetaro Guarany, embora os prédios que sediavam o jornal "A Tarde" e um outro fazendo esquina esquina com a então glamurosa Rua Chile ainda estão presentes. Há automóveis estacionados na praça e na Rua Chile. Quatro bondes cruzam a praça.
É fácil constatar, nas três fotos de diferentes logradouros e épocas, a presença de calaçamentos em pedras e a circulação de bondes elétricos. Parece que, mesmo sem que sequer pudéssemos então imaginar, profetizar, os bondes e seus trilhos apontavam não só para os dias daquele presente ... mas traçavam linhas que, do passado, apontavam para o transporte hoje (2010) mais recomendável para as cidades do presente e do futuro: o transporte de massa sobre trilhos. Sem falar no calçamento que áreas antigas de diversas cidades do Brasil e do Mundo lutam para preservar.
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