terça-feira, 6 de julho de 2010

“Céu noturno avermelhado” – O. Sevá (4.1)

A ALMA NOTURNA DAS CIDADES (4.1) – “Céu noturno avermelhado” – O. Sevá


Nem sempre o segundo céu de uma cidade, vale dizer o céu mais próximo de cada um de seus habitantes e passantes, tem tessitura de néon, de flúor, tungsténio ou LED.

O trabalho do Prof. Osvaldo Sevá, publicado pelo UNIBLOG ENGENHARIA AMBIENTAL, nos leva a conhecer outros céus e outras cores dos céus de diversas cidades brasileiras de Norte a Sul, de Leste a Oeste deste imenso país.

ARSENIO OSWALDO SEVÁ FILHO é formado em Engenharia Mecânica de Produção (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), 1971); Mestre em Engenharia de Produção na área de Sistemas Econômicos, COPPE/ Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Doutor em Geografia Humana e Organização do Espaço (Université Paris I – Panthéon – Sourbonne, 1982); Livre Docente por Concurso na área de Mudanças Tecnológicas e Transfroamções Sociais no Instituto de Geociências/ Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aprovado em 1988.


Vamos pois, viajar no céu noturno avermelhado com o Prof. Dr. Osvaldo Sevá.


Céu noturno avermelhado


(versão inicial, Oswaldo Sevá, agosto 2002 )



Lugares estranhos onde vivemos, aos milhões, aglomerados: quando anoitece,
escurece pouco ou quase nada. Vai - se a luz do sol, liga-se mais eletricidade para iluminar as avenidas, ruas e praças das cidades, além de nossas casas, os prédios, os serviços que ficam abertos.

Se a noite for enevoada, se as nuvens estiverem baixas, ou chovendo, aí a reflexão e a difração dos raios multiplicam os tons da luz que chega aos nossos olhos. O céu noturno se transforma, adquire suas várias auras nada naturais: aura esbranquiçada, ou azul bem clara e brilhante, quando as lâmpadas são do tipo fluorescente, ou halógenas; aura amarelada, quase dourada, quando se usa lâmpadas de sódio.

Para milhões de brasileiros, a noite não é escura. Vêem um pedaço de céu ou de horizonte clareado, ou, pelas frestas de sua própria janela, as luzes da cidade, as luzes de alguma ou algumas fábricas, de um grande edifício, de um feérico shopping center e seu amplo estacionamento. Outros vivem as noites sob a claridade das luzes de um porto ou um aeroporto, de uma praça de pedágio... ou, de vez em quando, sob o clarão dos holofotes de um estádio de futebol, nas noites dos jogos, ou sob as luzinhas na noite de quermesse da igreja, ou os fogos na noite da passagem do ano.

Mas, muitas outras noites são clareadas também pelo fogo, que assusta, exige
providências e costuma destruir e fazer vítimas. E isto não é de hoje.

Quem mora perto dos pastos, das capoeiras largadas, dos cerrados, dos canaviais e dos eucaliptais sabe bem do cheiro e da côr do céu noturno alaranjado, fumacento das queimadas, a luz que clareia muitas noites nos períodos mais secos, quando o fogo come as plantas e o que estiver no rastro.

Além disto, milhares de brasileiros podem admirar os efeitos especiais da moderna tecnologia industrial refletidos no céu noturno avermelhado e altamente poluído por emissões industriais, tudo resultado de suas queimas de grande quantidade de combustíveis, principalmente de suas chamas e labaredas ao ar livre, e muitas vezes bem altas.

Melhor dizendo, esses brasileiros passam todos os seus dias e noites sob tais
efeitos, só que de noite, são ainda mais especiais. Um breve roteiro destes céus:

1. A fabricação de ferro-gusa, de ferro-ligas e de aço é uma das causas dos céus noturnos avermelhados pelo país afora.

As labaredas dos alto-fornos dos guseiros criam fantasmas na paisagem noturna de muitas cidades mineiras no entorno de Belo Horizonte: Sete Lagoas, Itaúna, São Gonçalo do Rio Acima, Divinópolis e algumas outras pelo estado de MG.

As tochas altas que queimam gases residuais das usinas de ferro - ligas e das
grandes siderúrgicas iluminam as noites poluídas das cidades mineiras de Ipatinga, de Timóteo, de João Monlevade, no “Vale do Aço”, de Ouro Branco, vizinho de Congonhas do Campo, as do Barreiro, zona Sul de Belo Horizonte, de São João del Rey, e do bairro Rancharia em Ouro Preto.

Usinas de aço e noites vermelhas se repetem em Tubarão, ES, em Simões Filho, BA ao lado de Salvador, em Volta Redonda e Barra Mansa, RJ, em Moreira César e em Sumaré, SP, em Charqueadas, RS, e algumas outras cidades.

2. Também as tochas de alivio de gases residuais das refinarias de petróleo, das unidades de processamento de gás natural, e das fábricas petroquímicas jogam suas chamas na boca das torres com noventa, cem, cento e vinte metros de altura.


(CONTINUA AMANHÃ - QUARTA-FEIRA - 7/julho)

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