sexta-feira, 6 de maio de 2011

COPACIDADES (1) - SÃO PAULO

COPACIDADES (1)  - SÃO PAULO


[jornal Folha de São Paulo. São Paulo (SP – Brasil), 02 de maio de 2011, p. A5]

Por que São Paulo não pode ser sede da Copa

JAMES AKEL
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Ninguém que deseje o melhor para a cidade pode interromper por dois meses o seu complexo de turismo de negócios, de feiras, de eventos e de serviços
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O grande desejo político da cidade de São Paulo de ser sede da abertura da Copa do Mundo de 2014 causa tanta estranheza quanto o primário desejo político da cidade de ser sede do que quer que seja nessa Copa. Se não, vamos mostrar fatos contra os quais dificilmente os políticos envolvidos nessa aventura vão poder contraditar.
A Copa do Mundo é normalmente realizada nos meses de junho e julho. A ocupação média dos hotéis na cidade de São Paulo no mês de junho, de 2005 até 2010, é de 66,11%; no mês de julho, também de 2005 a 2010, é de 65,83%.
No detalhamento das médias acima, encontramos desde a média mínima mensal, de 62,10%, até a máxima, de 74,75%.
Considerando-se que, hoteleiramente, um número desse percentual significa que, para ter essa média mensal, o hotel tem que ter ocupação plena durante a semana, questionamos onde estão os quartos de hotel disponíveis na cidade que possam acomodar os tais turistas esportivos que apareceriam para os jogos da Copa de 2014.
São Paulo é uma cidade que vive  muito do turismo de negócios. Não é significativo o número de turistas que vêm apenas para passear, indo a teatros, museus ou qualquer coisa parecida. São Paulo é base do turismo de negócios, de feiras, de eventos e de serviços.
As feiras e eventos realizados na cidade são agendados na maior parte das vezes com anos de antecedência. A ocupação plena dos espaços nesse setor é tão grande que a própria Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTuris, busca um megaterreno para um novo empreendimento, maior que o Anhembi.
Ninguém, em sã consciência, que deseje o melhor para a cidade pode interromper por dois meses inteiros o complexo de turismo de negócios, de feiras, de eventos e de serviços de cidade que vive e sobrevive exatamente de tal turismo.
Vamos além neste estudo da futura invasão de turistas esportivos na cidade. Todos sabemos que esse tipo de turista, quando viaja, para onde quer que seja que vá se realizar uma Copa do Mundo, é quase um turista mochileiro. Tem como objetivo assistir aos jogos de futebol gastando o menos possível.
Ou seja, não é o tipo de turista que vai cobrir o buraco financeiro enorme causado por possíveis cancelamentos de congressos e de feiras na cidade.
Se o leitor, por acaso, neste momento, achar fantasiosamente que o empresariado hoteleiro vai construir novos hotéis para a Copa, quero informá-lo de que o empresariado hoteleiro, do capitalismo livre, da livre iniciativa, não é burro.
Todo mundo já sabe que os hotéis que foram construídos na África do Sul estão apenas com 20% de ocupação depois do final da Copa.
Ou seja, construir hotel para a Copa não dá futuro a ninguém.
Pelos dados oficiais da ocupação hoteleira da cidade de São Paulo, não há sequer disponibilidade hoteleira para atender a jogos comuns da Copa, quanto mais para a abertura desse evento.
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JAMES AKEL, jornalista, é conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa e autor do livro "Marketing Hoteleiro com Experiências". Foi presidente do Conselho Técnico de Hotéis de São Paulo.

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