segunda-feira, 30 de agosto de 2010

UNIRIC/ONU - "O Paquistão precisa da nossa ajuda imediata*,

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(Portugal jornal Público a 21/08/2010)

Actualidade
Cheias no Paquistão
Monday, 30 August 2010

O Paquistão precisa da nossa ajuda imediata*, Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU

No domingo passado, sob um céu de chumbo, no Paquistão, contemplei um mar de sofrimento. As águas arrasaram milhares de cidades e vilas. Foram destruídas estradas, pontes e casas em todas as províncias do país.

Do céu, vi milhares de terras agrícolas de primeira qualidade – o celeiro da economia paquistanesa – engolidas pela subida das águas. No solo, encontrei pessoas aterrorizadas, que vivem todos os dias com medo de não poderem alimentar os filhos nem protegê-los contra a próxima fase da crise que será a propagação da diarreia, da hepatite, da malária e da doença mais mortal de todas – a cólera.

A dimensão da catástrofe quase ultrapassa a nossa compreensão. Estima-se que, em todo o país, tenham sido afectados entre 15 e 20 milhões de pessoas. Este número é superior ao do conjunto de todas as populações fustigadas pelo tsunami no Oceano Índico e o terramoto de Caxemira, em 2005, o ciclone Nargis, em 2007, e o tremor de terra deste ano no Haiti. Pelo menos 160 000 quilómetros quadros, ou seja, quase o dobro da superfície de Portugal, estão inundados.

Por que razão o mundo tardou a aperceber-se da escala da catástrofe? Talvez porque não é suficientemente telegénica, não teve um impacto imediato e não proporciona cenas de resgate espectaculares. Um tremor de terra pode causar dezenas de mortes num instante, um tsunami pode fazer desaparecer cidades inteiras e a sua população num segundo. Pelo contrário, esta catástrofe desenrola-se em câmara lenta, agravando-se, à medida que o tempo passa. E está longe de ter acabado.

A monção poderia continuar durante semanas. Enquanto as águas se retiram de algumas zonas, produzem-se novas inundações noutros lugares, em particular no Sul do país. Claro que sabemos que isto está a acontecer numa das regiões do mundo que enfrenta maiores dificuldades e cuja estabilidade e prosperidade são do maior do interesse para todos nós. Por todas estas razões, as cheias deste mês de Agosto são uma catástrofe cujas consequências ultrapassam largamente as fronteiras do Paquistão. Constituem, de facto, uma das grandes provas a que a solidariedade mundial é sujeita no nosso tempo.

Foi por isso que a ONU lançou um apelo de emergência no montante de 460 milhões de dólares. Este número representa menos de um dólar por dia e por pessoa para manter com vida 6 milhões de seres humanos, incluindo 3,5 milhões de crianças, nos próximos três meses. O montante da ajuda internacional anunciada aumenta todos os dias. Menos de uma semana depois do lançamento do apelo, íamos já em metade do total pretendido. Mas isso não impede que a dimensão da resposta seja insuficiente face à dimensão da catástrofe.

Na quinta-feira, dia 19, a Assembleia Geral reuniu para acelerar os esforços colectivos. Se agirmos já, ainda é possível imepdir que as doenças hídricas façam uma segunda vaga de vitimas. Não é fácil organizar operações de socorro em lugares tão difíceis e, por vezes, perigosos. Mas vi fazê-lo em diversos regiões do mundo, desde as partes mais remotas e perigosas de África às cidades destruídas do Haiti. E vi-o esta semana, no Paquistão.

Numerosos organismos das Nações Unidas, grupos de ajuda como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho e outras organizações não governamentais ajudam o Governo paquistanês a fazer face à situação de emergência. Utilizando camiões, helicóperos e até mulas para transportar víveres para todas as regiões do país e chegar aos que estavam isolados e privados de ajuda, fornecemos alimentos para um mês a quase um milhão de pessoas. Aproximadamente o mesmo número dispõe agora de abrigos de emergência e são ainda mais numerosos aqueles que estão a receber água potável todos os dias. Graças à distribuição de kitsde prevenção da cólera, de doses de antídotos contra a mordedura de serpentes, kits de material cirúrgico e de sais contra a desidratação, estão a salvar-se cada vez mais vidas.

É um começo, mas é necessário dar um impulso enorme aos esforços actuais. Seis milhões de pessoas não têm o suficiente para comer; 14 milhões, em especial crianças e mulheres grávidas, precisam de cuidados de saúde de emergência. À medida que as águas se retiram, há que agir rapidamente para ajudar as pessoas a reconstruírem o seu país e a refazerem a sua vida.

Segundo o Banco Mundial, os prejuízos em colheitas perdidas ascenderiam pelo menos a mil milhões de dólares. Os agricultores precisarão de sementes, fertilizantes e de utensílios para voltar a semear, para que a colheita do próximo ano não se perca como a deste. Estamos já a assistir à subida em flecha dos preços de certos alimentos, nas grandes cidades do Paquistão. A longo prazo, será necessário reparar os enormes danos sofridos pelas infra-estruturas, desde escolas e hospitais a canais de irrigação e meios de comunicação e de transporte. As Nações Unidas também participarão nesse esforço.

Nos meios de comunicação social, ouvimos falar de um certo “cansaço”: os governos mostram-se relutantes em responder a mais uma catástrofe, hesitam em dar mais a esta região do mundo. A realidade é muito diferente. Os doadores estão a contribuir para a resposta a catástrofe no Paquistão e isso é animador. Se há alguém que deve estar cansado são as pessoas comuns que conheci no Paquistão – mulheres, crianças e pequenos agricultores, cansados de problemas, conflitos e conjnturas diferentes e que agora perderam tudo. No entanto, em vez de cansaço vi determinação, resiliência e esperança – esperança de não estarem sozinhos no momento mais sombrio da sua vida.

Não podemos simplemente ficar de braços cruzados e permitir que esta catástrofe natural se converta numa catástrofe provocada pelo homem. Acompanhemos o povo paquistanês em cada passo do caminho longo e difícil que o espera.



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