quarta-feira, 11 de agosto de 2010

FCCV - E, POR FALAR EM ELEIÇÕES...

FORUM COMUNITÁRIO DE COMBATE À VIOLÊNCIA (FCCV)
Leitura de fatos violentos publicados na mídia
Ano 10, nº 25, 09/08/10

E, POR FALAR EM ELEIÇÕES...


Estamos em plena safra de promessas com suas tempestades de juras saídas das agências de publicidade e cercando a nossa atenção com o intuito de nos persuadir quanto ao voto. É tempo de imagens de homens jovens, risonhos e maquiados concorrendo com fotos de senhores com sorrisos e maquiagens mais discretos. Todos eles competem com moças e senhoras que também controlam o sorriso conforme a idade e evidenciam o emprego de pintura sobre as faces. Em todos é possível notar o emprego da base e do batom quase indicando que boca de candidato é carmim e a face tem um cimento equalizador que se expõe a guisa de um quadro cuja moldura é dada por cabelos brilhosos e, às vezes, “abrilhantados”. Eles se espalham pela cidade através de placas e de tremulantes bandeiras empunhadas por um sem número de portadores que não trazem no corpo as marcas da vibração militante, ao contrário, parecem ser meros suportes padronizados, à semelhança da estrutura de madeira que escora os outdoors. Estes candidatos estão às vésperas de chegarem às telas da TV e às ondas do rádio.

As suas fotografias ocupam o espaço principal no que se refere à mensagem. Diferentemente da condição tradicional daquele que pede (como é o caso) as fotos não evidenciam a condição de solicitante, ao contrário, nelas se sobressaem impressões de personagens concorrentes cada um dos quais a sugerir o pódio como o seu lugar merecido, afinal em sua intransponível imparidade cada qual exibe uma qualidade peculiar capaz de fazer jus ao voto.
As marcas relativas à filiação partidária são obrigatórias e se expressam através do número do candidato e do nome do partido que, normalmente, aparecem em associação com as cores de cada agremiação. Mas cada um trata de encarnar virtudes pessoais através, especialmente, de seus slogans. Há candidatos de palavra, outros são de ação, uns apostam em sua própria família ao exibiram filhos, marido, pais, avós etc., enquanto outros se mostram em associação com forças transcendentais, em meio àqueles que evidenciam sua aproximação com causas sociais. Não é rara a oferta de paz e de segurança, mas ao que parece a saúde é o donativo que mais compõe a cesta de promessas dos candidatos.

Pelos recursos comunicacionais aqui tratados, em lugar de palavras têm-se fotografias e o jogo da multiplicação das bandeiras a sinalizarem a potência da oferta dos candidatos. O “consumidor” pode escolher pelo arremate de um lote proposto por anúncios constituídos por todos os cargos em disputa; mas também pode optar por um voto “criativo”, servindo-se de várias porções distintas disponíveis no cardápio eleitoral.

Seja qual for a estratégia de escolha, a julgar pelas promessas, não haveria qualquer chance de se arrepender, afinal, todas as juras dos candidatos representam soluções relevantes para os graves problemas enfrentados por todos os eleitores. Então, por que empregar o futuro do pretérito (não haveria) para expressar aspecto tão essencial ao conforto de todos?

A experiência exige a adoção de atitude prudente. O candidato deve ser visto, também, como um tipo de produto publicitário que conta com uma peculiaridade não concernente com as normas que regulam os outros produtos comercializados. Eles são exclusivamente promessas para um futuro e, portanto, não podem ser testados a exemplo das lâmpadas ou dos equipamentos eletrônicos quando da sua aquisição. E ainda costumam prometer aquilo que o eleitor mais deseja. Promoverão saúde, distribuirão justiça, garantirão educação pública e vão assegurar a solução para o problema da insegurança pública. E tudo isso com muita equidade social.

Entretanto, há aqueles que, não obstante o veto legal, se igualam às lâmpadas e aos eletrodomésticos e “se deixam testar” através de ofertas, a exemplo da doação de serviços de saúde, de itens de material de construção e de outros benefícios numa estratégia de persuasão conhecida como compra de votos. Muitos dos que têm as suas faces espalhadas nos outdoors adotam essa tática de “pré-teste” ou de pagamento antecipado como ferramenta de suas campanhas. Estas formas de convencimento são praticadas com certo grau de notoriedade em algumas áreas mais carentes. Também elas compõem o conjunto de formas de exposição do candidato no mercado eleitoral, se efetivando numa relação corpo-a-corpo. É quando as caras saem dos outdoors, libertando-se, por um instante, da pureza prevista pela plástica publicitária e, acreditando em seu próprio faro, buscam comprar o voto in natura, sem a sanção da lei ou a embalagem do mercado da propaganda.

Esta construção de voto resulta em um produto “clandestino” confeccionado a partir das mais variadas formas de miséria e de exclusão. Eis uma forma de violência que integra o tempo de eleições. Caberia aos sorridentes candidatos incluir em suas promessas e ações futuras o compromisso de superar esta forma de violência que não fica transparente nos ares de suas caprichadas imagens eleitorais.

De um modo geral, é necessária, também, a adoção de esquemas de cobrança e de acompanhamento dos vitoriosos, especialmente no que concerne à execução de promessas. Elas devem deixar de ser meras licenças na moda eleitoral.

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