sexta-feira, 27 de agosto de 2010

BICICLETA, MOBILIDADE E INCLUSÃO SOCIAL (1)

O papel da bicicleta para a mobilidade urbana e a inclusão social



Arquiteto Sérgio Luiz Bianco
Coordenador GT Bicicleta ANTP

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Nota do Blog
(ANTP - Associação Nacional dos Transportes Públicos)


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Mais importante que uma ciclovia para a bicicleta é um caminho para o ciclista, pois esse é o caminho da cidadania.


O cenário


Esse ensaio se coloca dentro de uma realidade tanto econômica, quanta política como social e cultural. Estamos assistindo a grandes mudanças em nossa sociedade desde a questão do emprego onde a integração vertical é cada vez mais substituída pela terceirização e parcerias reduzindo o emprego formal, passando pela concentração econômica principalmente pelo sistema financeiro, pela globalização e por mudança de percepções dadas principalmente por novos paradigmas culturais e pelo excepcional avanço das comunicações, sem contar no grande processo de urbanização que o mundo vive, notadamente os países em desenvolvimento, colocando demandas sociais e problemas ambientais muito alem da capacidade dos estados em resolvê-las de forma isolada. Toda a reflexão aqui contida parte dessa percepção.

No campo dos transportes púbicos o que se vê hoje na maioria das cidades grandes e médias do Brasil é um momento de transição em que se nota uma desregulamentação dos sistemas existentes onde modais como o ônibus perde cerca de 25% da demanda entre 1994 e 2001 e pior, sua produtividade (medida entre passageiros transportados e distância rodada) caio no mesmo período de 2,2 para 1, 5, sem falar que pesquisa da NTU mostrou que o transporte clandestino esta presente em 63% das cidades brasileiras acima de 300.000 habitantes, o que mostra a gravidade da questão.

Dentro desse marco referencial que se pretende colocar a questão da bicicleta, levando em conta os caminhos que são postos pelos profissionais da área dentro e fora da ANTP como os mais prováveis para enfrentar os grandes desafios inerentes ao transportes e ao transito das nossas cidades, que na verdade se apresentam como os pressupostos, para que se formule políticas publicas especificas e exitosas, pressupostos como:

- Uma política tecnológica voltada para o aperfeiçoamento dos serviços e da gestão

- Uma gestão de recursos que distribua o ônus da mobilidade e garanta e sustentabilidade dos seus agentes a um custo tolerável para os usuários.

- A percepção de setores da sociedade que começam a clamar por uma nova cultura da mobilidade que de prioridade a formas de circulação coletivas, a pé e de bicicletas integrando em rede os diversos modos de transportes e garantindo a acessibilidade segura e confortável a todos os pontos das cidades.

- A cidade como ambiente de uso coletivo cujo acesso por meio de transporte deve ser dividido democraticamente entre os diversos meios priorizando no sistema viário respectivamente as pessoas com restrição a mobilidade, o pedestre, o ciclista, os meios de transportes coletivos e finalmente o transporte individual motorizado.


Dentro desse marco referencial cabe aos planejadores responder três questões em relação à bicicleta:

Qual o lugar da bicicleta no sistema viário?
Qual o papel da bicicleta nos sistemas de transportes?
Qual a imagem da bicicleta para melhorar a qualidade de vida?


A bicicleta seus primórdios no planejamento

A bicicleta surgiu no Brasil no fim do século XIX. A partir da década de 70, em função da crise do petróleo e de mudanças no padrão de comportamento das pessoas, que começaram a se interessar mais pelo cuidado com o corpo, é que surgiram as primeiras iniciativas com apoio de governos, no sentido de assumir a bicicleta como um modo de transportes a ser considerado. Em 1975 a Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo lançou a Operação Bicicleta que constava de um concurso de idéias sobre o tema e culminou com estudos para os municípios de Araçatuba e Indaiatuba. Em 1976 o GEIPOT publicou o manual Planejamento Cicloviário – Uma Política para as Bicicletas que passou a ser o grande texto sobre o tema no Brasil, e gerando estudos específicos sobre interseções, trechos lineares, estacionamentos e processos de planejamento.


Sempre que se fala de facilidades para circulação de bicicletas no Brasil o grande paradigma é Curitiba que desde a década de setenta agraves do IPPUC desenvolve procedimentos sistemáticos sobre a questão.

Hoje se pode afirmar que a importância da bicicleta cresceu ao olhar dos planejadores urbanos e de transportes, mas esta muito aquém das suas possibilidades. Analisando o trabalho publicado pelo GEIPOT em 2001 Planejamento Cicloviário: Diagnóstico Nacional vemos que ainda esta longe o dia em que poderemos comemorar o milésimo quilômetro de ciclovia implantado no Brasil, apesar de esforços como os da Cidade do Rio de Janeiro que independente de ser uma grande cidade, implantou um processo que já está dotando a cidade com um sistema cicloviário de mais de 100 quilômetros, e ha dezenas de cidades com implantações nessa direção.



(Continua amanhã, sábado, 28 de agosto)

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