TOTENS URBANOS
OS PROFETAS DO ALEIJADINHO
CONGONHAS DO CAMPO
MINAS GERAIS - BRASIL
(Antonio Francisco Lisboa - o "Aleijadinho")
(Antonio Francisco Lisboa - o "Aleijadinho")
[1730 - 1814]
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Profetas do Aleijadinho
Definição
Entre os anos de 1800 e 1805, sexagenário e bastante
enfermo, o artista mineiro Aleijadinho (1730-1814), realiza o conjunto de esculturas monumentais que marcaria definitivamente sua obra. Seu último projeto de vulto, os 12 profetas em pedra-sabão de tamanho quase natural, feitos para o adro dianteiro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, são um dos exemplos mais contundentes do desenvolvimento do barroco no Brasil, e talvez a sua última grande manifestação. O santuário mineiro começa a ser construído como pagamento de uma promessa feita pelo fiel português Feliciano Mendes em 1757. Espelhando-se no Santuário do Bom Jesus de Braga, Mendes, o primeiro ermitão,1 escolhe o Morro do Maranhão para edificação da nova igreja com o objetivo de transformá-lo em local de devoção à via-sacra de Cristo. Somente em 1796, na administração de Vicente Freire de Andrade, Aleijadinho é chamado a colaborar na obra. Com a assistência de auxiliares, executa até 1799 as 64 figuras em madeira, em tamanho natural, destinadas às seis capelas dos Passos da Paixão. Nesse ano solicitam-lhe as 12 esculturas em pedra-sabão, representando os profetas, destinadas à ornamentação do adro do santuário. Aleijadinho é responsável apenas pela parte escultórica do pátio, sendo o projeto arquitetônico de responsabilidade de Tomás de Maia Brito. Análises técnicas revelam que pela concepção arquitetônica original do adro as estátuas deveriam ter dimensões menores e serem colocadas em posição frontal. Aleijadinho transcende os dados previstos na arquitetura e cria um novo espaço subordinado à movimentação e ao tamanho de suas esculturas.
O conjunto de 12 profetas de Congonhas do Campo
configura-se como uma das séries mais completas, da arte cristã ocidental, representando profetas. Estão presentes os quatro principais profetas do Antigo Testamento - Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, em posição de destaque na ala central da escadaria - e oito profetas menores, escolhidos por um clérigo segundo a importância estabelecida na ordem do cânon bíblico. Nos três planos do átrio, esculturas ordenam seus gestos simetricam ente em relação ao eixo principal da composição. Abrindo a representação, estão Jeremias e Isaías de frente e atrás deles, no primeiro patamar, Baruc e Ezequiel. No terraço do adro encontram-se Daniel e Oséias, de perfil. Mais além, Jonas e Joel dão-se as costas e, finalmente, nos ângulos curvilíneos do pátio, Abdias e Habacuc erguem um dos braços, e nas extremidades do arco Amós e Naum apresentam-se de frente. Organizado segundo um jogo de correspondências, os profetas formam um conjunto unitário e ao mesmo tempo diversificado em suas partes, em perfeita organização cenográfica. Apesar da força expressiva de cada peça, é na comunicação estabelecida pela visão do grupo que a eloqüência de cada gesto atinge sua plenitude, como num ato de balé.
Analisadas individualmente, as figuras
dos Profetas em Congonhas do Campo apresentam deformações anatômicas ou acabamentos desiguais que indicam a colaboração doateliê de Aleijadinho. No entanto, a força do conjunto e seu poder de integração superam as avaliações individuais das obras. Sobre a iconografia das imagens, o historiador francês German Bazin aponta uma série de gravuras florentinas anônimas do quattrocento como fonte do artista mineiro. Em suas esculturas encontram-se o mesmo traço goticizante, como os panejamentos quebrados e em ângulos retos, e os elementos exóticos, como os barretes em forma de turbante "à moda turca". No entanto, é preciso ter em vista que a iconografia profética é cunhada na Idade Média, momento em que a representação dos profetas aparece sempre com o filactério (faixa de pergaminho com passagens bíblicas) e com a gesticulação eloqüente e vivaz. A pintura flamenga, em fins da era medieval, introduz os elementos "orientais" nessa iconografia. São comuns profetas com vestimentas exóticas na arte portuguesa entre 1500 e 1800, como é o caso das figuras no Santuário de Braga.2
Pelo menos dez dentre os 12 profetas
apresentam o mesmo tipo fisionômico jovem de traços elegantes com rostos estreitos, bochechas encovadas e maçãs do rosto salientes, barbas aparadas e longos bigodes. Apenas Isaías e Naum são envelhecidos e de bardas longas. Também no que diz respeito às vestes, todos trajam túnicas longas ou curtas cobertas com pesados mantos bordados nas bordas - à exceção de Amós, o profeta-pastor que traz manto semelhante aos casacos de pele de carneiro e gorro usado por camponeses da região do Alentejo. A escultura de Daniel com o leão a seus pés destaca-se do grupo. Muitos acreditam que, pela perfeição de seu acabamento, é uma das únicas esculturas inteiramente realizada pelo mestre mineiro. Notas
1 Indivíduo que cuida de uma ermida (pequena igreja ou capela em
lugar ermo ou fora de uma povoação).
2 Na
tentativa de buscar novas fontes para os profetas de
Congonhas, o estudioso Robert Chester Smith observa que em Portugal, nos séculos XVII e XVIII, há numerosos exemplos de f iguras orientais do Velho Testamento em azulejos policromados e em escultura, possivelmente conhecidos pelo Aleijadinho. Atualizado em 21/11/2005
Biografia
Aleijadinho
(Antônio Francisco Lisboa) nasceu em
Vila Rica no ano de 1730 (não há
registros oficiais
sobre esta data). Era filho de uma escrava com
um
mestre-de-obras português. Iniciou sua
vida artística ainda na infância,
observando o t
rabalho de seu pai que também era entalhador.
Por
volta de 40 anos de idade, começa a desenvolver
uma doença degenerativa nas
articulações.
Não se sabe exatamente qual foi a doença,
mas provavelmente
pode ter sido hanseníase
ou alguma doença reumática. Aos poucos, foi
perdendo
os movimentos dos pés e mãos.
Pedia a um ajudante para amarrar as ferramentas
em seus punhos para poder esculpir e entalhar.
Demonstra um esforço fora do
comum para
continuar com sua arte. Mesmo com todas as
limitações, continua
trabalhando na construção
de igrejas e altares nas cidades de Minas Gerais.
Na
fase anterior a doença, suas obras são
marcadas pelo equilíbrio, harmonia e
serenidade.
São desta época a Igreja São Francisco de Assis,
Igreja
Nossa Senhora das Mercês e Perdões
(as duas na cidade de Ouro
Preto).
Profeta Daniel (pedra sabão),
Santuário de Bom
Jesus de Matosinhos (Congonhas-MG)
Já
com a doença, Aleijadinho começa
a dar um tom mais expressionista às suas
obras de arte. É deste período o conjunto de esculturas
Os Passos da Paixão e
Os Doze Profetas,
da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos,
na cidade de Congonhas
do Campo. O trabalho
artístico formado por 66 imagens religiosas
esculpidas em
madeira e 12 feitas de pedra-sabão,
é considerado um dos mais importantes e
representativos do barroco brasileiro.
Carregamento da Cruz
(escultura
em madeira), Santuário de Bom Jesus de Matosinhos
(Congonhas-MG)
A
obra de Aleijadinho
A obra de Aleijadinho mistura diversos
estilos do barroco. Em suas esculturas
estão
presentes características do rococó
e dos estilos clássico e gótico.
Utilizou
como material de suas obras de arte,
principalmente a pedra-sabão,
matéria-prima
brasileira. A madeira também foi utilizada
pelo artista.
Morreu
pobre, doente e abandonado na cidade
de Ouro Preto no ano de 1814 (ano provável).
O conjunto de sua obra foi reconhecido como
importante muitos anos depois.
Atualmente,
Aleijadinho é considerado o mais importante
artista plástico do
barroco mineiro.
Principais
obras de Aleijadinho:
Talha
-
Retábulo da capela-mor da Igreja de
São Francisco em São João del-Rei
-
Retábulo da Igreja de São Francisco
de Assis em Ouro Preto
-
Retábulo da Igreja de Nossa Senhora
do Carmo em Ouro Preto
Arquitetura
-
Projetos de fachadas de duas igrejas
(Igreja de São Francisco em São João
del-Rei
e Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto).
Esculturas
- Os profetas de Congonhas do Campo
((Santuário do Bom Jesus)
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