HÁ UM ANO ... MÊS MILTON SANTOS (4)
sexta-feira, 10 de junho de 2011
MÊS MILTON SANTOS (4) - Análise Do Espaço E Seus Elementos
Análise Do Espaço E Seus Elementos Na Perspectiva De Milton Santos
MÊS MILTON SANTOS (4)
DEZ ANOS SEM MILTON SANTOS
- Por Daniel Gouveia de Mello Martins
- Publicado 27/04/2007
Segundo
Milton Santos, o espaço deve ser considerado como uma totalidade.
Entretanto, através de análises, deve ser possível dividi-lo em partes e
reconstituí-lo depois. Esta divisão deve ser operada segundo uma
variedade de critérios, entre os quais estão os elementos do espaço.
Os
elementos do espaço, por sua vez, seriam os homens, as firmas, as
instituições, o meio ecológico e as infra-estruturas. Os homens são
elementos do espaço, seja na qualidade de fornecedores de trabalho, seja na de candidatos a isso. As firmas têm como função a produção de
bens, serviços e idéias. As instituições produzem normas, ordens e
legitimações. O meio ecológico seria o conjunto de complexos
territoriais que constituem a base física do trabalho humano.
Finalmente, as infra-estruturas são o trabalho humano materializado e
geografizado na forma de casas, plantações, caminhos, etc.
A
enumeração das funções dos elementos do espaço mostra que eles são, de
certa forma, intercambiáveis e redutíveis uns aos outros. Ao mesmo tempo
que os elementos do espaço se tornam mais intercambiáveis, as relações
entre eles se tornam também mais íntimas e muito mais extensas. Dessa
maneira, a noção de espaço como uma totalidade se impõe de maneira mais
evidente.
Na medida em e que função é ação, a interação supõe interdependência funcional entre os elementos. Através do estudo
das interações, recuperamos a totalidade social, isto é, o espaço como
um todo e, igualmente, a sociedade como um todo. Pois cada ação não
constitui um dado independente, mas um resultado do próprio processo social.
Segundo
Milton Santos elementos do espaço estão submetidos a variações
quantitativas e qualitativas. Desse modo os elementos do espaço devem
ser considerados como variáveis. A cada momento histórico cada elemento
muda seu papel e sua posição no sistema temporal e no sistema espacial
e, a cada momento, o valor de cada qual deve ser tomado da sua relação
com os demais elementos e com o todo. Isso significa que eles variam e
mudam seu valor segundo o movimento da História. Se esse valor lhes vêm
das qualidades novas que adquirem, ele também representa uma quantidade.
Mas a expressão real de cada quantidade é dada como um resultado das
necessidades sociais e de sua gradação em um dado momento. Por isso
mesmo, a quantificação correspondente a cada elemento não pode ser feita
de forma apriorística. Neste caso a quantificação só pode se dar a
posteriori. Isso é tanto mais verdadeiro porque cada elemento do espaço
tem um valor diferente segundo o lugar em que se encontra.
Dessa
forma, cada lugar atribui a cada elemento constituinte do espaço um
valor particular. Em um mesmo lugar, cada elemento está sempre variando
de valor, porque cada elemento do espaço entra em relação com os demais,
e essas relações são em grande parte ditadas pelas condições do lugar.
Sua evolução conjunta num lugar ganha características próprias, ainda
que subordinadas ao movimento do todo, isto é, do conjunto dos lugares. O
valor da variável não é função dela própria, mas do seu papel no
interior de um conjunto. Quando este muda de significação, de conteúdo,
de regras ou leis, também muda o valor de cada variável. Somente
através do movimento conjunto é que podemos corretamente valorizar cada
parte e analisá-la, para, em seguida, reconhecer concretamente esse
todo.
Em
cada época os elementos ou variáveis são portadores de uma tecnologia
especifica e uma certa combinação de componentes do capital e do
trabalho.
As
técnicas são também variáveis, porque elas mudam através do tempo. Só
aparentemente elas formam um contínuo. Se, nominalmente suas funções são
as mesmas, a sua eficiência, todavia, não é a mesma. Em função das
técnicas utilizadas e dos diversos componentes de capital mobilizados,
pode-se falar de uma idade dos elementos ou de uma idade das variáveis.
Desse modo, cada variável teria uma idade diferente. O seu grau de
modernidade só pode ser aferido dentro do sistema como um todo, seja do
sistema local, em certos casos, seja do sistema nacional, e ainda, para outros, do sistema internacional.
Outro
fator importante a ser considerado é que as variáveis ou elementos
estão ligados entre si por uma organização. A organização se definiria
como o conjunto de normas que regem as relações de cada variável com as
demais, dentro e fora de uma área. Em sua qualidade de normas, isto é,
de regulamento, externa, pois, ao movimento espontâneo, sua duração
efetiva não é a mesma que a da sua potencialidade funcional. A
organização existe, exatamente, para prolongar a vigência de uma dada
função, de maneira a lhe atribuir uma continuidade e regularidade que
sejam favoráveis aos detentores do controle da organização. Isso se dá
através de diversos instrumentos de efeito compensatório que, em face da
evolução própria dos conjuntos locais de variáveis, exercem um papel de
regulador, de modo a privilegiar um certo número de agentes sociais.
Milton
Santos considera que, em função de suas relações, os elementos do
espaço formam um sistema. Tal sistema é comandado pelo modo de produção
dominante nas suas manifestações à escala do espaço em questão.
Pode-se
também falar na existência de subsistemas, formados pelos elementos dos
modos de produção particulares. O sistema é comandado por regras
próprias ao modo de produção dominante em sua adaptação ao meio local.
Estaremos, então, diante de um sistema menor ou correspondente a um
subespaço e de um sistema maior que o abrange, correspondente a um
subespaço e de um sistema maior que o abrange, correspondente ao espaço.
Cada sistema funciona em relação ao sistema maior como um elemento,
enquanto ele próprio é, em si mesmo, um sistema. Caso o subsistema a que
referimos seja desdobrado em subsistemas, a mesma relação se repete,
cada um dos subsistemas aparecendo como um elemento seu, ao mesmo tempo
em que é também um sistema, se se consideram as suas próprias
subdivisões possíveis. E cada sistema ou subsistema é formado de
variáveis que, todas, dispõem de força própria na estruturação do
espaço, mas cuja ação é de fato combinada com a ação das demais
variáveis.
Assim,
concluímos que o espaço é um sistema complexo, um sistema de
estruturas, submetido em sua evolução à evolução das suas próprias
estruturas. Cada estrutura evolui quando o espaço total evolui e, por
sua vez, a evolução de cada estrutura em particular afeta a evolução da
totalidade.
As estruturas e os sistemas espaciais evoluem segundo três princípios: a ação externa, o intercambio entre os sistemas e a evolução interna, particular de cada parte ou elemento do sistema tomado isoladamente.
Através
da noção de sistema, analisamos os elementos, seus predicados e as
relações entre tais elementos e tais predicados. Quando a preocupação é
com as estruturas, sabemos que se essa noção de predicado é aliada a
cada elemento, sabemos, antes, que sua real definição depende sempre de
uma estrutura mais ampla, na qual aquela se insere.
SANTOS, Milton. Espaço e Método.
Editora AMPUB Comercial Ltda. 1985
SANTOS, Milton. Espaço e Método.
Editora AMPUB Comercial Ltda. 1985
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