terça-feira, 26 de junho de 2012

GILBERTO - URBANO - GIL (2)

GILBERTO - URBANO - GIL (2)

LAMENTO SERTANEJO

Gilberto Gil

 http://www.cifraclub.com.br/gilberto-gil/lamento-sertanejo/

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo. 


Em "Lamento Sertanejo", o sujeito lírico é um nordestino, um sertanejo nordestinado a viver e 'ganhar o pão' na cidade e, mais que isso, um sertanejado tanto quanto (já) calejado pela luta com vistas à sobrevivência - sobrevivência em seu estado mais simples e primitivo - num ambiente societário e ecológico diferente, a cidade, em tudo diferente daquele que o viu nascer: o sertão, a seca, a caatinga

Em tudo diferente: a tessitura societária da amizade, que em nada lembra dos braços e do sorriso aberto de sua terra sertaneja natal; a alimentação, espelho daquele saudoso lugar. Preso em casa (e que casa!), sente falta da liberdade de ir e vir ... para além daquilo que está escrito na Constituição. A baixa densidade demográfica de seu torrão natal onde todos os poucos transeuntes sbaem para onde e por onde vão é, agora substituída, pela "multidão boiada caminhando a ermo". Boiada, aí, tanto no sentido da metáfora bovina como na sononímia do estar cansado (boiado).

O conforto desconfortável da cidade tenta - sem sucesso - substituir o desconfortável consforto de seu lugar de origem.

Resta o lamento, a saudade e - quem sabe! - os planos de um dia voltar.
 

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