sexta-feira, 15 de junho de 2012

HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA (6)

HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA (6)

CENTRALIDADE URBANA

Dieter Hassenpflug

Dieter Hassenpflug (Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de Sociologia e História Social da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus, em Weimar. Desde 2006 é o diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus (IfEU). Diretor do Programa Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor visitante da Universidade Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em alemão, inglês e chinês.


(Continuação)


Na Europa ocidental, por ser o lar de democracias mais maduras, preferia-se soluções mais pragmáticas para o desafio da grande cidade. Ebenezer Howard – ao procurar por alternativas para a superpopulosa, insalubre e inquieta metrópole de Londres – deve ser visto como um pioneiro do planejamento urbano moderno. Arraigado às tradições para além das utopias espaciais de socialistas precoces como Robert Owen ou Charles Fourier até os protagonistas franceses da ‘paisagem republicana’ e até mesmo do movimento da cidade ideal do Renascimento, ele lançou uma solução de notável evidência: sua idéia básica era desenvolver uma alternativa para a grande cidade industrial combinando as virtudes da vida rural com aquelas da vida urbana. Eis sua mensagem: fica com o melhor daqueles espaços e terás a “cidade-jardim”. Não foi por acaso que Howard, que viveu por vários anos em Illinois, teve contato com o movimento City Beautiful. No Novo Mundo, aprendeu a entender o código da “cidade-campo”, de um espaço que não é nem cidade nem campo, mas ambos ao mesmo tempo.

Houve uma travessia transatlântica reversa no conceito britânico de cidade-jardim. Howard a idealizou usando esquemas das cidades ideais do Renascimento e do Barroco. É por isso que os esquemas das cidades-jardim são fortemente radiais concêntricos, assim como o centro primário e os subcentros. Usou, além disso, a boa e velha tradição européia quando promoveu os centros das cidades-jardim como centros comunitários e culturais, como lugares predestinados para serviços coletivos e atividades de vizinhança.

Ao integrar o melhor das cidades e do campo em uma cidade num jardim e um jardim numa cidade, Ebenezer Howard encontrou o conceito-chave do urbanismo moderno. Desde então, todos os planejadores urbanos modernos procuram por uma boa mistura e boa organização espacial de aspectos urbanos e rurais, para superar as desvantagens ambientais, econômicas, sociais, espaciais e culturais da grande cidade industrial. Este conceito foi também aceito por outro movimento modernista, baseado nas tradições racionalistas ou cartesianas. Os seus representantes concordaram totalmente com a abordagem “cidade-campo”. Para eles, a cidade moderna é um projeto que objetiva a melhoria da vida urbana, levando luz, ar fresco e calor solar para dentro do denso, escuro e poluído tecido urbano.

Mas a visão dos modernistas cartesianos continentais era bastante diferente daquela dos protagonistas da cidade-jardim britânica. Enquanto os últimos encontraram o seu ideal espacial em tradições que mantinham a memória da centralidade espacial, os modernistas seguiram outro ideal. 

Este eles não encontraram no passado, mas no presente moderno: a máquina, um artefato sem centro, mas com um desempenho fantástico. Um artefato que, baseado no conhecimento científico, funciona independentemente das incertas fontes de energia naturais como vento, água, luz do sol, é fácil de controlar (não empaca como os bois e os asnos) e desempenha a preço baixo, rápida e eficientemente.
A máquina é o ídolo da segunda fase, “madura” da industrialização. Este período, também chamado de “fordista” é fundamentado em:Ciência: baseou-se na produção em massa (“grandes séries”). Como Henry Ford foi o primeiro a introduzir a produção em série na fabricação de automóveis, este período ganhou o seu nome. Ao usar os resultados da pesquisa científica de Taylor, o carro se tornou um produto de massa e assim um símbolo da emergente sociedade de consumo. Em geral, o carro se tornou um tipo de veículo para o compromisso entre as classes.


§ Um Estado intervencionista: especialmente na Europa continental, soluções não mercadológicas na produção e distribuição do bem-estar ganharam significativa influência. Um Estado redistribuidor se desenvolveu para fechar a lacuna entre “trabalho e capital”.
§  “Consumo coletivo”: quando Manuel Castells (20) assinalou a “cidade do consumo”, referia-se ao programa da cidade fordista. Esta cidade dava ênfase à integração da classe trabalhadora ao prover bens e serviços públicos, especialmente habitações disponíveis – operadas por companhias de habitação social públicas.
§  Compromisso entre classes: sob a pressão das centrais de trabalhadores (sindicatos) as vantagens de produtividades maiores foram usadas para aumentar salários e para fixar a jornada de trabalho.

§   
Sociedade do grande grupo, corporativismo: a redução da influência do mercado pela política era balanceada através de uma variedade de associações que lutavam pelos interesses da sua clientela privada (21).

Não é nenhuma surpresa que o paradigma da especialização, isto é, aumento da velocidade (aceleração), eficiência econômica e desempenho técnico tenham influenciado fortemente a produção espacial. Na “Carta de Atenas” do CIAM, lançada pelo proeminente arquiteto franco-suíço Le Corbusier, estas regras fordistas foram transformadas em um manifesto. Objetivando tornar a cidade mais eficiente e a vida urbana mais saudável, a Carta promove a idéia de uma “cidade-máquina polida e zoneada”, cujas principais recomendações espaciais são:


 § Zoneamento, isto é, especialização ou diferenciação espacial separando todas as funções urbanas importantes como habitação, trabalho, educação, consumo cultural, atividades de lazer, etc. Incrivelmente, a Carta de Atenas não menciona o comércio varejista, isto é, a função comprar. Este lapso realça a falta de importância dada à centralidade urbana.
 
 §  Construção em fila ou linha orientada para o Sul (“Zeilenbau”) para buscar a luz solar. Esta regra significa a rejeição às práticas tradicionais de construção em bordas de quadras e à correlata produção de espaços públicos.

 §  Edifícios isolados e espaços verdes de separação para compor uma cidade no verde, num parque. Esta era a interpretação modernista da realização da “cidade-campo”, isto é, da combinação de aspectos da cidade e do campo numa nova figura espacial.

 §  Aceleração espacial pela melhoria da acessibilidade através da provisão de infra-estrutura de tráfego pública e privada de alto nível.

 §  Alta qualidade da infra-estrutura urbana (sistema de esgotamento, abastecimento de água e energia, coleta de lixo, etc.) de modo a atender às grandes demandas higiênicas do planejamento urbano moderno.

HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA
CONTINUA AMANHÃ, SÁBADO

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