HASSENPFLUG –
CENTRALIDADE URBANA (6)
CENTRALIDADE URBANA
Dieter Hassenpflug
Dieter Hassenpflug
(Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de Sociologia e História Social
da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus, em Weimar. Desde 2006 é o
diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus (IfEU). Diretor do Programa
Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo DAAD (Serviço Alemão de
Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor visitante da Universidade
Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em alemão, inglês e chinês.
(Continuação)
Na Europa
ocidental, por ser o lar de democracias mais maduras, preferia-se soluções mais
pragmáticas para o desafio da grande cidade. Ebenezer Howard – ao procurar por
alternativas para a superpopulosa, insalubre e inquieta metrópole de Londres –
deve ser visto como um pioneiro do planejamento urbano moderno. Arraigado às
tradições para além das utopias espaciais de socialistas precoces como Robert
Owen ou Charles Fourier até os protagonistas franceses da ‘paisagem
republicana’ e até mesmo do movimento da cidade ideal do Renascimento, ele
lançou uma solução de notável evidência: sua idéia básica era desenvolver uma
alternativa para a grande cidade industrial combinando as virtudes da vida
rural com aquelas da vida urbana. Eis sua mensagem: fica com o melhor daqueles
espaços e terás a “cidade-jardim”. Não foi por acaso que Howard, que viveu por
vários anos em Illinois, teve contato com o movimento City Beautiful. No Novo
Mundo, aprendeu a entender o código da “cidade-campo”, de um espaço que não é
nem cidade nem campo, mas ambos ao mesmo tempo.
Houve uma travessia
transatlântica reversa no conceito britânico de cidade-jardim. Howard a
idealizou usando esquemas das cidades ideais do Renascimento e do Barroco. É
por isso que os esquemas das cidades-jardim são fortemente radiais
concêntricos, assim como o centro primário e os subcentros. Usou, além disso, a
boa e velha tradição européia quando promoveu os centros das cidades-jardim
como centros comunitários e culturais, como lugares predestinados para serviços
coletivos e atividades de vizinhança.
Ao integrar o
melhor das cidades e do campo em uma cidade num jardim e um jardim numa cidade,
Ebenezer Howard encontrou o conceito-chave do urbanismo moderno. Desde então,
todos os planejadores urbanos modernos procuram por uma boa mistura e boa
organização espacial de aspectos urbanos e rurais, para superar as desvantagens
ambientais, econômicas, sociais, espaciais e culturais da grande cidade
industrial. Este conceito foi também aceito por outro movimento modernista,
baseado nas tradições racionalistas ou cartesianas. Os seus representantes
concordaram totalmente com a abordagem “cidade-campo”. Para eles, a cidade
moderna é um projeto que objetiva a melhoria da vida urbana, levando luz, ar
fresco e calor solar para dentro do denso, escuro e poluído tecido urbano.
Mas a visão dos
modernistas cartesianos continentais era bastante diferente daquela dos
protagonistas da cidade-jardim britânica. Enquanto os últimos encontraram o seu
ideal espacial em tradições que mantinham a memória da centralidade espacial,
os modernistas seguiram outro ideal.
Este eles não encontraram no passado, mas
no presente moderno: a máquina, um artefato sem centro, mas com um desempenho
fantástico. Um artefato que, baseado no conhecimento científico, funciona
independentemente das incertas fontes de energia naturais como vento, água, luz
do sol, é fácil de controlar (não empaca como os bois e os asnos) e desempenha
a preço baixo, rápida e eficientemente.
A máquina é o ídolo
da segunda fase, “madura” da industrialização. Este período, também chamado de
“fordista” é fundamentado em:Ciência: baseou-se
na produção em massa (“grandes séries”). Como Henry Ford foi o primeiro a
introduzir a produção em série na fabricação de automóveis, este período ganhou
o seu nome. Ao usar os resultados da pesquisa científica de Taylor, o carro se
tornou um produto de massa e assim um símbolo da emergente sociedade de
consumo. Em geral, o carro se tornou um tipo de veículo para o compromisso
entre as classes.
§ Um Estado intervencionista: especialmente na Europa
continental, soluções não mercadológicas na produção e distribuição do
bem-estar ganharam significativa influência. Um Estado redistribuidor se
desenvolveu para fechar a lacuna entre “trabalho e capital”.
§ “Consumo coletivo”: quando Manuel Castells (20)
assinalou a “cidade do consumo”, referia-se ao programa da cidade fordista.
Esta cidade dava ênfase à integração da classe trabalhadora ao prover bens e
serviços públicos, especialmente habitações disponíveis – operadas por
companhias de habitação social públicas.
§ Compromisso entre classes: sob a pressão das
centrais de trabalhadores (sindicatos) as vantagens de produtividades maiores
foram usadas para aumentar salários e para fixar a jornada de trabalho.
§
Sociedade do grande
grupo, corporativismo: a redução da influência do mercado pela política era
balanceada através de uma variedade de associações que lutavam pelos interesses
da sua clientela privada (21).
Não é nenhuma
surpresa que o paradigma da especialização, isto é, aumento da velocidade
(aceleração), eficiência econômica e desempenho técnico tenham influenciado
fortemente a produção espacial. Na “Carta de Atenas” do CIAM, lançada pelo
proeminente arquiteto franco-suíço Le Corbusier, estas regras fordistas foram
transformadas em um manifesto. Objetivando tornar a cidade mais eficiente e a
vida urbana mais saudável, a Carta promove a idéia de uma “cidade-máquina
polida e zoneada”, cujas principais recomendações espaciais são:
§ Zoneamento, isto é, especialização ou diferenciação
espacial separando todas as funções urbanas importantes como habitação,
trabalho, educação, consumo cultural, atividades de lazer, etc. Incrivelmente,
a Carta de Atenas não menciona o comércio varejista, isto é, a função comprar.
Este lapso realça a falta de importância dada à centralidade urbana.
§ Construção em fila ou linha orientada para o Sul
(“Zeilenbau”) para buscar a luz solar. Esta regra significa a rejeição às
práticas tradicionais de construção em bordas de quadras e à correlata produção
de espaços públicos.
§ Edifícios isolados e espaços verdes de separação
para compor uma cidade no verde, num parque. Esta era a interpretação
modernista da realização da “cidade-campo”, isto é, da combinação de aspectos
da cidade e do campo numa nova figura espacial.
§ Aceleração espacial pela melhoria da acessibilidade
através da provisão de infra-estrutura de tráfego pública e privada de alto
nível.
§ Alta qualidade da infra-estrutura urbana (sistema
de esgotamento, abastecimento de água e energia, coleta de lixo, etc.) de modo
a atender às grandes demandas higiênicas do planejamento urbano moderno.
HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA
CONTINUA AMANHÃ, SÁBADO
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