quarta-feira, 13 de junho de 2012

HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA (4)


HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA (4)

CENTRALIDADE URBANA

Dieter Hassenpflug

Dieter Hassenpflug (Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de Sociologia e História Social da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus, em Weimar. Desde 2006 é o diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus (IfEU). Diretor do Programa Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor visitante da Universidade Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em alemão, inglês e chinês.


(Continuação)


Mas o que aconteceu quando modelos ideais de cidades de produção espacial barroca fortemente centralizadores migraram para o Novo Mundo e encontraram esta incipiente paisagem republicana? O mais notável master plan urbano barroco foi feito pelo arquiteto francês L’Enfant para Washington DC, a capital do país. Além disso, Washington influenciou fortemente o designer urbano Peter Durham. Inspirado pela estética do seu arranjo espacial barroco, ele esboçou uma cidade ideal como master plan para Chicago e estabeleceu o então chamado movimento City Beautiful. Este movimento, fazendo a travessia transatlântica reversa, tornou-se também influente na Grã-Bretanha (13). Mas Durham permanece uma exceção (14).

Sendo pragmáticos de livre pensamento e modernos desde o princípio, os americanos estavam interessados em bons negócios e consideravam correto se certas estruturas, formas e figuras do espaço pudessem ajudar a melhorar o desempenho econômico. Em vez de ser entendida como um fim em si mesmo, a cidade era considerada como um meio para propósitos exteriores. Então, as cidades americanas – especialmente nos tempos passados – devem ser consideradas, mais ou menos, como efeitos colaterais espaciais da economia de mercado moderna ou, no máximo, como um meio para melhorar os negócios. Mas estes efeitos colaterais (ou meios) são muito singulares: demonstram que o capitalismo liberal é uma força que cria uma nova centralidade – e assim uma nova cidade. Antes de examinar este fenômeno da centralidade americana mais detalhadamente, devemos dar uma olhada na forma mais típica de produção espacial no Novo Mundo.
Ao examinarmos minuciosamente o desenho da Broad-Acre-City, percebemos que faltam elementos da iconografia dos jardins barrocos (franceses) e ingleses, enquanto a grelha é dominante. Apesar de fundamentada na arquitetura palaciana ocidental antiga e usada pelo mítico primeiro urbanista Hipódamo de Mileto e por designers urbanos romanos, a grelha se torna uma figura espacial americana típica e de imagem relevante. Desde o terceiro presidente americano Thomas Jefferson (um antiurbanista declarado) o sistema em grelha (o qual, segundo o Ato de Homestead de 1862, fez uma medição suprema do desenvolvimento e prescrições espaciais) é considerado um signo de igualdade e democracia. Desde então, a malha ortogonal tem sido uma espécie de marca registrada da paisagem republicana americana. Como uma conseqüência, planos renascentistas e barrocos eram rejeitados freqüentemente por causa do seu simbolismo de hierarquia espacial. A centralidade radial concêntrica era tida como incompatível com as visões de igualdade e democracia. Assim, é pouco surpreendente o fato de encontrarmos casos em que cidades começaram a ser construídas de acordo com os planos barrocos e foram, passo a passo, sendo reintegradas ao sistema de grelha total (por exemplo, Circleville).
Inacreditavelmente, nem a orientação rural da população ou o sistema de grelha arranjado administrativamente preveniu que a sociedade americana produzisse cidades com um novo e muito forte tipo de centro. É um centro de negócios, produzido (ou devo dizer “inspirado”?) pela mão invisível da economia liberal de mercado. Nós o conhecemos por CBD (ou downtown). Este tipo de centro reflete o desejo dos negócios de usar fatores de localização como alto valor simbólico e muito boa acessibilidade. Não é nenhuma surpresa que os grandes negócios estejam juntos em CBD’s para participar de economias de escala, efeitos positivos externos e outras vantagens econômicas proporcionadas pelas sinergias deste espaço excepcional (15).

Como o espaço central é limitado, uma forte competição por esta área ocorre e o preço do solo sobe vertiginosamente. Para diminuir a pressão do preço do solo, os prédios altos – ou melhor: o elevador – foi inventado. Assim, o Novo Mundo se tornou o pioneiro do arranha-céu e do conjunto de arranha-céus que formam o CBD. O CBD deve ser tomado como um retorno – ou uma reinvenção não-intencional – da centralidade urbana. A civilização norte-americana não procurou por centros ou hierarquias espaciais – mas realizou ambos. O fez de uma maneira nova, demonstrando que a grelha não é capaz de proteger contra a centralidade e a hierarquia espaciais. O CBD nos mostra um novo tipo de hierarquia espacial que parece ser justamente o oposto da européia. Enquanto a hierarquia espacial européia é horizontal, a americana é vertical (16).

As fortes tradições políticas na Europa certificaram – e ainda certificam – que os CBD’s não puderam – e não poderão – aparecer nesta parte do mundo até hoje. Todos os esforços para ‘criar’ distritos de negócios na Europa permanecem, por fim, mais ou menos, o que eles são: tentativas políticas incapazes de substituir as soluções do mercado liberal – mesmo espacialmente. O projeto francês La Defénse em Paris, por exemplo, consiste em um CBD sintético (ou político). Depois de muitos anos, sabemos que este moderno bairro nunca foi capaz de competir com o centro velho (ou centros) de Paris. Permanece fraco e dependente da vida, energia e suporte de instituições públicas. Uma análise similar pode ser feita em Frankfurt/Main, o centro do tráfego aéreo alemão e financeiro europeu. Os cerca de 20 arranha-céus não deram a esta cidade e à sua área metropolitana do Reno-Main uma nova centralidade (americana). O Frankfurt Roemer e as cercanias desta antiga praça do mercado se mantêm como lugar onde bate o coração da cidade. Por outro lado, os arranha-céus são fortes suficientemente para contribuir para um tipo de imagem híbrida relacionada com o centro de Frankfurt/M. E alguns casos na Europa oriental, Varsóvia na Polônia, por exemplo, nos mostra que espaços parecidos com CDBs emergem onde precondições apropriadas existem (ou uma real economia de livre mercado e/ou uma ausência de intervenções estatais).

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HASSENPFLUG – CENTRALIDADE URBANA  CENTRALIDADE URBANA -´Dieter Hassenpflug
(continua amanhã, quinta-feira)


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