HASSENPFLUG –
CENTRALIDADE URBANA (4)
CENTRALIDADE URBANA
Dieter Hassenpflug
Dieter Hassenpflug
(Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de Sociologia e História Social
da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus, em Weimar. Desde 2006 é o
diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus (IfEU). Diretor do Programa
Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo DAAD (Serviço Alemão de
Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor visitante da Universidade
Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em alemão, inglês e chinês.
(Continuação)
Mas o que aconteceu
quando modelos ideais de cidades de produção espacial barroca fortemente
centralizadores migraram para o Novo Mundo e encontraram esta incipiente
paisagem republicana? O mais notável master plan urbano barroco foi feito pelo
arquiteto francês L’Enfant para Washington DC, a capital do país. Além disso,
Washington influenciou fortemente o designer urbano Peter Durham. Inspirado
pela estética do seu arranjo espacial barroco, ele esboçou uma cidade ideal
como master plan para Chicago e estabeleceu o então chamado movimento City
Beautiful. Este movimento, fazendo a travessia transatlântica reversa,
tornou-se também influente na Grã-Bretanha (13). Mas Durham permanece uma
exceção (14).
Sendo pragmáticos
de livre pensamento e modernos desde o princípio, os americanos estavam
interessados em bons negócios e consideravam correto se certas estruturas,
formas e figuras do espaço pudessem ajudar a melhorar o desempenho econômico.
Em vez de ser entendida como um fim em si mesmo, a cidade era considerada como
um meio para propósitos exteriores. Então, as cidades americanas –
especialmente nos tempos passados – devem ser consideradas, mais ou menos, como
efeitos colaterais espaciais da economia de mercado moderna ou, no máximo, como
um meio para melhorar os negócios. Mas estes efeitos colaterais (ou meios) são
muito singulares: demonstram que o capitalismo liberal é uma força que cria uma
nova centralidade – e assim uma nova cidade. Antes de examinar este fenômeno da
centralidade americana mais detalhadamente, devemos dar uma olhada na forma
mais típica de produção espacial no Novo Mundo.
Ao examinarmos
minuciosamente o desenho da Broad-Acre-City, percebemos que faltam elementos da
iconografia dos jardins barrocos (franceses) e ingleses, enquanto a grelha é
dominante. Apesar de fundamentada na arquitetura palaciana ocidental antiga e
usada pelo mítico primeiro urbanista Hipódamo de Mileto e por designers urbanos
romanos, a grelha se torna uma figura espacial americana típica e de imagem
relevante. Desde o terceiro presidente americano Thomas Jefferson (um
antiurbanista declarado) o sistema em grelha (o qual, segundo o Ato de Homestead
de 1862, fez uma medição suprema do desenvolvimento e prescrições espaciais) é
considerado um signo de igualdade e democracia. Desde então, a malha ortogonal
tem sido uma espécie de marca registrada da paisagem republicana americana.
Como uma conseqüência, planos renascentistas e barrocos eram rejeitados
freqüentemente por causa do seu simbolismo de hierarquia espacial. A
centralidade radial concêntrica era tida como incompatível com as visões de
igualdade e democracia. Assim, é pouco surpreendente o fato de encontrarmos
casos em que cidades começaram a ser construídas de acordo com os planos
barrocos e foram, passo a passo, sendo reintegradas ao sistema de grelha total
(por exemplo, Circleville).
Inacreditavelmente,
nem a orientação rural da população ou o sistema de grelha arranjado
administrativamente preveniu que a sociedade americana produzisse cidades com
um novo e muito forte tipo de centro. É um centro de negócios, produzido (ou
devo dizer “inspirado”?) pela mão invisível da economia liberal de mercado. Nós
o conhecemos por CBD (ou downtown). Este tipo de centro reflete o desejo dos
negócios de usar fatores de localização como alto valor simbólico e muito boa
acessibilidade. Não é nenhuma surpresa que os grandes negócios estejam juntos
em CBD’s para participar de economias de escala, efeitos positivos externos e
outras vantagens econômicas proporcionadas pelas sinergias deste espaço
excepcional (15).
Como o espaço
central é limitado, uma forte competição por esta área ocorre e o preço do solo
sobe vertiginosamente. Para diminuir a pressão do preço do solo, os prédios
altos – ou melhor: o elevador – foi inventado. Assim, o Novo Mundo se tornou o
pioneiro do arranha-céu e do conjunto de arranha-céus que formam o CBD. O CBD
deve ser tomado como um retorno – ou uma reinvenção não-intencional – da
centralidade urbana. A civilização norte-americana não procurou por centros ou
hierarquias espaciais – mas realizou ambos. O fez de uma maneira nova,
demonstrando que a grelha não é capaz de proteger contra a centralidade e a
hierarquia espaciais. O CBD nos mostra um novo tipo de hierarquia espacial que
parece ser justamente o oposto da européia. Enquanto a hierarquia espacial
européia é horizontal, a americana é vertical (16).
As fortes tradições
políticas na Europa certificaram – e ainda certificam – que os CBD’s não
puderam – e não poderão – aparecer nesta parte do mundo até hoje. Todos os
esforços para ‘criar’ distritos de negócios na Europa permanecem, por fim, mais
ou menos, o que eles são: tentativas políticas incapazes de substituir as
soluções do mercado liberal – mesmo espacialmente. O projeto francês La Defénse
em Paris, por exemplo, consiste em um CBD sintético (ou político). Depois de
muitos anos, sabemos que este moderno bairro nunca foi capaz de competir com o
centro velho (ou centros) de Paris. Permanece fraco e dependente da vida,
energia e suporte de instituições públicas. Uma análise similar pode ser feita
em Frankfurt/Main, o centro do tráfego aéreo alemão e financeiro europeu. Os
cerca de 20 arranha-céus não deram a esta cidade e à sua área metropolitana do
Reno-Main uma nova centralidade (americana). O Frankfurt Roemer e as cercanias
desta antiga praça do mercado se mantêm como lugar onde bate o coração da
cidade. Por outro lado, os arranha-céus são fortes suficientemente para
contribuir para um tipo de imagem híbrida relacionada com o centro de
Frankfurt/M. E alguns casos na Europa oriental, Varsóvia na Polônia, por
exemplo, nos mostra que espaços parecidos com CDBs emergem onde precondições apropriadas
existem (ou uma real economia de livre mercado e/ou uma ausência de
intervenções estatais).
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(continua amanhã, quinta-feira)
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