HASSENPFLUG –
CENTRALIDADE URBANA (5)
CENTRALIDADE URBANA
Dieter Hassenpflug
Dieter Hassenpflug
(Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de Sociologia e História Social
da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus, em Weimar. Desde 2006 é o
diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus (IfEU). Diretor do Programa
Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo DAAD (Serviço Alemão de
Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor visitante da Universidade
Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em alemão, inglês e chinês.
(Continuação)
A centralidade em tempos
proto-modernos
Jefferson, sendo um
embaixador na França no período pré-revolucionário (durante o ano de 1770),
pôde ter contato com os visionários da paisagem republicana francesa e suas
cidades novas. O arquiteto proto-revolucionário Claude Nicholas Ledoux era um
deles. Ele foi o designer das primeiras cidades-jardim (ou melhor: cidades
republicanas) e posicionou os símbolos de uma nova cultura burguesa nos seus
centros: em Chaux (1775-1759), em parte uma cidade construída real, uma casa de
um diretor, com duas salinas industriais em ambos os lados, é posicionada no
centro, refletindo a emergência da sociedade do trabalho e do capitalismo.
Outro master plan
de Ledoux, a cidade-jardim de Maupertuis, antecipou os ideais urbanos da
Revolução Francesa com a sua combinação de escola e prefeitura (um ‘templo da
razão’). Os templos revolucionários centrados na razão eram edifícios que
pareciam montanhas exteriormente e catedrais internamente. Moll, um arquiteto
com relações estreitas para com o poderoso comitê do bem-estar, propôs um
master plan para uma cidade de 100.000 habitantes. A cidade, com um arranjo em
grelha romano, apresentava um tipo de templo público da razão, um híbrido de
prefeitura e universidade, localizado no centro. Este edifício proeminente era
cercado por quatro jardins, um francês (barroco), um inglês (pitoresco), um
chinês (combinando dialeticamente o racional barroco e o pitoresco inglês) e
por último, mas não menor, um jardim científico (jardim botânico) simbolizando
o espírito da modernidade (17).
Jefferson já estava
de volta à América quando o revolucionário comitê do bem-estar, inspirado pelas
idéias de Jean-Jacques Rousseau, decidiu transformar a França inteira em um
jardim inglês. A idéia era sobre igualdade de justiça social e beleza: uma boa
sociedade com uma boa constituição que garante direitos iguais para todos,
justiça, liberdade de palavra, etc. se expressam em um paraíso como a paisagem
republicana. O jardim inglês era considerado como a representação espacial
ideal da república burguesa. Este deve ser tomado como a Broad-Acre-City
européia, como uma paisagem sem centro e hierarquia espacial. Mas este projeto
falhou desde o princípio. Era muito grande para a França, assim como para uma
sociedade de poderes sociais heterogêneos e díspares.
Entretanto, houve
um Estado europeu que esteve próximo do ideal de paisagem republicana de Rousseau.
Este foi o Principado de Dessau-Anhalt, um pequeno Estado alemão. Localizado no
vácuo da grande Prússia, foi abençoado por um compreensivo e moderno pensador
admirador das idéias do Iluminismo. Seu nome era Duque Leopoldo III, Franz de
Dessau-Anhalt e sua crença também inspirada por Rousseau. Um bom governo seria
refletido em uma paisagem pitoresca. Cidade e país belos, por um lado, e
liberdade e justiça, por outro, estão juntos (18). Partes dos seus belos
estados-jardim ainda existem (Dessau-Woerlitzer Gartenreich).
A idéia republicana
de rejeitar a centralidade espacial é uma idéia moderna. Ela permanece como ela
realmente era: uma visão. Incrivelmente, a história européia de procura pela
“ausência de centralidade” nos ensina sobre o seu colapso. Ao procurar evitar a
centralidade espacial, um novo e moderno tipo de centralidade foi criado.
A centralidade urbana nos tempos
modernos
De acordo com a
centralidade, devemos distinguir entre três períodos históricos (ou tipos de
desenvolvimento) da modernidade urbana: crescimento urbano extensivo, intensivo
e flexível. Estes períodos devem ser interpretados como camadas que se
superpõem e se interpenetram, mas que não substituem a(s) fase(s)
precedente(s). Na Europa, o primeiro período começou durante a primeira metade
do século XIX. Na Alemanha, tendo a industrialização se iniciado muito mais
tarde do que na Inglaterra, este período é então chamado de Gruenderzeit
(desenvolvimento incipiente da cidade industrial). Gruenderzeit foi um período
no último terço do século XIX, quando muitas empresas, firmas e marcas que
existem até hoje (como Siemens) se estabeleceram. Este período é também
caracterizado por um rápido crescimento urbano extensivo, estimulado por uma
nova economia de mercado orientada para o trabalho, denominada capitalismo.
Durante esta fase de incipiente acumulação, as cidades industriais sugaram
trabalhadores (operários migrantes) do campo em grandes quantidades, como
flutuantes. As cidades passaram por um crescimento explosivo e polarização social.
Entretanto, este
desenvolvimento não enfraqueceu a centralidade urbana existente. Pelo
contrário! Àquela época, os antigos centros das cidades puderam até melhorar as
suas qualidades centrais. Duas são as razões para esse fenômeno: primeiramente
a nova sociedade civil, conduzida por uma classe média e alta de
empreendedores, banqueiros, intelectuais, artistas, acadêmicos, cientistas,
funcionários públicos e muitos outros grupos de profissionais, adicionou
“templos civis modernos” aos centros existentes, como teatros, universidades,
bibliotecas, salas de concertos, museus, galerias de arte, etc., tornando-os
assim mais ricos e mais atrativos. Em segundo lugar, um novo sistema de
transporte de massa, que se tornou emblema do progresso e do poder industrial,
contribuiu para fortalecer os antigos centros: a ferrovia. Suas rotas em
combinação com rodovias arteriais e métodos tradicionais de construção como os
edifícios contornando as quadras, asseguraram que o padrão de crescimento
urbano continuasse radial concêntrico. A capital prussiana Berlim, uma das
metrópoles que mais e rapidamente cresceu no século XIX, é um bom exemplo deste
padrão tradicional de crescimento. De todas as direções chegavam trilhos à
capital, mas nenhum deles a cruzava. Todas as linhas paravam nas bordas do
centro da cidade. Nós contamos cerca de oito destas estações (Kopfbahnhoefe),
isto é, estações que os trens não podem atravessar, mas entram e saem pelo
mesmo caminho. Estes dois eventos, a atualização cultural burguesa dos centros das
cidades e o desempenho dos trens, cuspindo e sugando as pessoas exatamente na
borda dos centros das cidades, fez deste o período áureo para a centralidade
urbana.
A ascensão da
cidade moderna foi experimentada como um choque cultural. Este choque despertou
pesadas críticas por toda a Europa. Na Alemanha se propagou uma reação
conservadora sobre a experiência da grande cidade moderna. O pioneiro da
Sociologia alemã, Ferdinand Tönnies, a quem devemos agradecer por sua notável
maneira de distinguir entre “comunidade” e “associação” (também o título da sua
muito conhecida magnum opus), e o famoso autor Oswald Spengler (19) são
representativos deste ponto de vista crítico. Ambos adoravam a cidade medieval
da velha burguesia com a sua centralidade sócio-cultural, seus espaços públicos
encenados por belas fachadas empenadas. E ambos detestavam um desenvolvimento
urbano que, em sua opinião, levaria à degeneração das boas maneiras, dos
padrões morais e o qual distanciava o homem da natureza. No início do século XX
(especialmente após a Primeira Guerra Mundial), esta maneira babilônica de
encarar a grande cidade moderna se transformou em uma aversão aguda e agressiva
pela grande cidade. De acordo com a ideologia do movimento nacional socialista
de Hitler, a grande cidade era considerada um espaço infernal produzindo
‘quatro males’, que para serem exterminados, o Fascismo desenrolou a sua e
guerra física e cultural: “intelectualismo marxista, especulação capitalista,
guetos judaicos desraigados e tecnologia industrial suicida”
_____________________
_____________________
HASSENPFLUG –
CENTRALIDADE URBANA CENTRALIDADE URBANA -´Dieter Hassenpflug
(continua amanhã, sexta-feira)
(continua amanhã, sexta-feira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário