sexta-feira, 29 de junho de 2012

GILBERTO - URBANO - GIL (5)



GILBERTO - URBANO - GIL (5)

A RUA

Gilberto Gil

Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba

De uma rua, de uma rua
Eu lembro agora
Que o tempo, ninguém mais
Ninguém mais canta
Muito embora de cirandas
(Oi, de cirandas)
 
E de meninos correndo
Atrás de bandas
Atrás de bandas que passavam
Como o rio Parnaíba
Rio manso
 
Passava no fim da rua
E molhava seus lajedos
Onde a noite refletia
O brilho manso
O tempo claro da lua

Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão
Ê, Parnaíba passando
Separando a minha rua
Das outras, do Maranhão

De longe pensando nela
Meu coração de menino
Bate forte como um sino
Que anuncia procissão
Ê, minha rua, meu povo
 
Ê, gente que mal nasceu
Das Dores, que morreu cedo
Luzia, que se perdeu
Macapreto, Zé Velhinho
Esse menino crescido

Que tem o peito ferido
Anda vivo, não morreu
Ê, Pacatuba
Meu tempo de brincar já foi-se embora
Ê, Parnaíba
 
Passando pela rua até agora
Agora por aqui estou com vontade
E eu volto pra matar esta saudade.
Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão



A RUA recoloca Gil como um memorialista urbano. Ele fala de um tempo pretérito ... seu tempo de menino. A rua é um bem, uma propriedade afetiva registrada no cartório do coração.  Um registro que nos faz - a tod(a)s - dizer, afirmar que esta rua é a minha rua.

[Aliás já tratamos, neste Blogue, da rua como um bem afetivo]

Personagens do passado e da saudade voltama povoar as letras de Gil. Do Gilberto - urbano Gil.


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