segunda-feira, 11 de junho de 2012

FCCV - PARA A SEGUNDA-FEIRA NASCER MELHOR

FCCV - FORUM COMUNITÁRIO DE COMBATE À VIOLÊNCIA

SALVADOR - BAHIA - BRASIL

PARA A SEGUNDA-FEIRA NASCER MELHOR. Leitura de fatos violentos publicados na mídia Ano 12, nº 05, 11/06/2012

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Leitura de fatos 

violentos publicados na mídia

Ano 12, nº 05, 11/06/2012 


Nas segundas-feiras dos últimos anos, a mídia tem reservado um espaço para anúncios, em forma de somatório, das mortes violentas registradas nos fins de semana a exemplo do seguinte título: “SSP registra 23 homicídios em Salvador e RMS no fim de semana” (A Tarde on line, 4/6/2012).

A regularidade desta notícia tem comprometido a imagem culturalmente cultivada dos sábados e domingos como dias revitalizadores para aqueles que trabalham ou estudam. Eles se contrastam na nomeação corriqueira com os “dias da semana”, evidenciando-se como excepcionalidade temporal. É uma duração em torno da qual se pergunta: o que vou fazer no próximo fim de semana? Essa espécie de dúvida sugere a existência de tempo livre a ser preenchido pelo próprio indivíduo, fora dos compromissos impostos pela rotina do trabalho e do estudo.

Toda uma rede de serviços se oferece como resposta à inquietação quanto ao que fazer: cinemas, restaurantes, praias, bares, viagens curtas, ida a templos religiosos, esportes, visitas a amigos, festas etc. A agenda sofre restrições financeiras, impondo adaptações entre as escolhas de programas e a disponibilidade monetária dos indivíduos “livres”. As definições também levam em conta o gosto cultural, a situação de saúde dos sujeitos e as condições climáticas. Além de quesitos relacionados, cada vez mais as pessoas incluem a segurança como elemento a ser considerado quando da tomada de decisões quanto ao que fazer com o tempo livre.

É justamente neste tempo que cresce o número de óbitos violentos. Este registro permite a estabilidade da pauta referente ao tema aqui tratado, de modo que muitos meios de comunicação têm assegurado esta alusão em suas agendas de segunda-feira. Normalmente, o arco temporal compreende da noite de sexta-feira à noite de domingo. E assim, esta duração começa a ser “amaldiçoada” juntamente com os lugares para onde se destinam os jovens, pobres, negros, moradores das periferias, porque são eles os alvos visados para a composição do traço fúnebre dos fins de semana.

E se o tempo e o lugar fossem culpados pela alta letalidade poder-se-ia considerar a subtração do sábado e do domingo como forma de declinar as mortes violentas. Diante de tantas ideias insanas que têm sido anunciadas como medidas resolutivas de problemas, um recurso deste tipo poderia animar a população e com isto atingiria a finalidade última: causar polêmica e visibilidade para os autores e executores da invenção.

Como não é possível tirar tempo do tempo; também, não é viável alterar (em tempo hábil) o sentido que a cultura dá aos dias da semana; tampouco é factível contar com a renúncia dos meios de comunicação no que tange às notícias de mortalidade violenta, o mais sensato é refletir sobre a frequência anunciada, sua natureza e, em seguida, construir políticas públicas que visem à superação dos sábados e domingos enlutados para famílias que sonham com fins de semana revitalizadores.

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