quarta-feira, 21 de setembro de 2011

FCCV - INDEPENDÊNCIA OU MORTE?

FORUM COMUNITÁRIO

 DE COMBATE

À VIOLÊNCIA

Salvador - Bahia - Brasil

Leitura de fatos violentos

publicados na mídia

Ano 11, nº 34, 12/09/11 

Leitura de fatos violentos publicados na mídia

Ano 11, nº 34, 12/09/11 

INDEPENDÊNCIA


OU MORTE?


Em 7 de setembro de 2011, o jornal A Tarde publicou o artigo “Poder das palavras”, de autoria do jornalista Luiz Lasserre. Embora não haja evidência de que o noticioso tenha decidido publicar o referido texto em razão da data em que se comemora a independência do Brasil, cabe indicar a feliz coincidência entre o valor atribuído ao dia e as ponderações que o artigo traz sobre as palavras.


O autor chama a atenção para o desencadeamento de um processo de crítica interna ao campo do jornalismo quanto à abordagem de problemas relacionados com a segurança e as suas formas de representações pela mídia. Evidencia o compromisso com alterações para superar o hábito de alimentar estigmas e simplificações em um domínio que comporta problemas muito complexos que são traduzidas em palavras no plano jornalístico.

O ponto de maior reflexão, entretanto, não se refere a uma avaliação endógena relativa à referida crítica no interior da prática jornalística. Em lugar disso, Lasserre mostra estar atento às palavras que estão sendo dadas às coisas públicas concernentes ao campo da segurança. Aponta, especificamente, uma coisa pública para concretizar as suas ponderações. 

A prática jornalística, por sua natureza cotidiana e repetitiva, forja um saber que pode ser caracterizado como soma, que é resultado de tantos casos semelhantes que são objetos de cobertura noticiosa. Desse modo, o repórter observa regras que ultrapassam os fatos em seu formato padrão e, ao mesmo tempo, os liga. No artigo referido, o elemento observado é a inconstância ou, talvez, inconsistência vocabular no que se refere à nomeação de um serviço básico do sistema de segurança pública.

A coisa inconsistentemente nomeada é mais conhecida sob o rótulo de delegacia, porém, o autor observa que “até alguns meses atrás, nem a Polícia Civil estava segura se tínhamos, aqui na Bahia, Circunscrições Policiais ou Delegacias de Polícia”. Essa “indecisão” foi superada por uma nova nomeação da coisa: Delegacias Territoriais.

As ponderações do analista avançam sobre outro termo lançado também recentemente – Bases Comunitárias de Segurança. E, diante das palavras ele pergunta: “Qual o conceito por trás do novo nome das delegacias? O que efetivamente mudou nestes meses no atendimento à população, nas condições ruins de trabalho dos profissionais e no cenário já retratado de tantas reportagens de celas superlotadas e fugas de presos?”. Ainda em suas indagações, questiona se o quadro de descrença dos cidadãos com relação aos serviços renomeados foi alterado.

O artigo segue, então, a discussão sobre a necessária relação entre palavras e atos para não se criar uma espécie de bifurcação ou antagonismo entre discursos e práticas.  É neste sentido que o problema apontado comporta um vínculo com a coisa nomeada como independência e festejada em sete de setembro.


Diz a lenda que houve um grito cujas palavras foram “Independência ou Morte”. Na nossa sociedade, o universo que envolve as violências é embalado pela exaltação e exortação à independência, mas, ao mesmo tempo, faltam as palavras para representar a morte, especialmente, as mortes violentas. Usando o termo de Lasserre, é também um “desafio” expandir a “independência” da palavra para a vida de cada cidadão, para que não caiamos numa releitura desencantada da nossa lenda pela qual de um lado ficaria a independência (a palavra) e por outro restaria a morte (a prática) para muitos filhos da Mãe gentil.

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