CRÔNICA DOMINICAL ... ÚLTIMO DOMINGO DO ANO DE 2010
Pathosurbi
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Não concordo com a idéia resignada e paralisante de que cada povo tem o domingo à tarde televisivo que merece.
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Tem se falado muito (muito não, ad mauseam!) sobre as dificuldades que as emissoras de TV têm enfrentado para, aos domingos - principalmente domingo à tarde - oferecer programação de "melhor nível" aos telespectadores; diz-se até que domingo à tarde é oferecido o "pior" da TV".
Julgamentos como "pior nível", "pior" ... e coisas que tais ... na verdade resultam da comparação entre o que as emissoras de TV lançam ao ar nos chamados 'dias úteis' e a sua programação dos domingos à tarde. Não que nos 'dias úteis' a programação seja exatamente um primor de verniz e de edificações culturais; mas, ao menos contra o "non sense" dos domingos à tarde, há alguns sinais de vida inteligente e de "sense" nas telinhas que iluminam pessoas, cortinas e sofás.
Diferentes cortinas, diferentes pessoas, e diferentes sofás traduzem as desigualdades sociais. Mas, ao menos na TV aberta, imagens de várias emissoras de TV chegam a diferentes pessoas, diferentes cortinas e diferentes sofás: pessoas diferentes dos diferentes segmentos sociais estão descansando domingo à tarde quando, na maioria dos casos, vêm, ao mesmo tempo, as mesmas imagens das diversas programações ds diferentes canais de TV.
São geralmente de "alto nível" as programações de TV que invadem a madrugada dos "dias úteis" e diminuem a solidão dos escravos da insônia. Quais e quantos trabalhadores estão acordados às duas e trinta minutos da madrugada?
Como, então, proporcionar programação que atenda uniformemente, às tardes de domingo, a infinidade de interesses das pessoas que, neste dia/momento, estão a descansar da labuta semanal (e a se preparar para a próxima labuta que começará a menos de 24 horas)?
Não sou muito relativista, mas reconheço que é humana, técnica e comercialmente impossível a uma emissora de TV aberta (pública ou não) oferecer programas ou programações de "bom gosto" para tão diversificados "gostos. Tão diversificados "gostos" quanto são diferentes os níveis sociais, econômicos e, sobremaneira, educacionais, dos telespectadores e do público em geral.
Apesar de tudo isso, e aqui vai meu frágil relativismo, defendo que a educação seja o fiel da balança e a medida de todas as coisas. Negar ou vedar aos olhos do povo o acesso à MPB (Música Popular Brasileira) de boa qualidade (a Velha Guarda, a Bossa Nova, o instrumental antigo e o contemporâneo, o chorinho ...), Chico, Tim Maia, Caetano, Gil, Djavan, Vanessa da Matta ... é um crime de lesa pátria. Incorre nesse mesmo tipo de crime privar as massas de concertos clássicos ou populares, filmes de arte, debates e outros recursos e meios capazes de elevar o espírito dessas massasé. Educar antes de qualquer teoria educacional - da moda ou fora de moda - mudar de atitude. Elitismo é querer o "filé mignon" só para sí e relegar o "chupa molho", a carne de segunda ou terceira embrulhada em papel dourado (ou não!)para a "plebe rude". Ainda existem, sim, exploradores e explorados.
Enquanto isso e, talvez,diante disso, talvez não haja dia/momento mais receptivo ao "non sense" do que o domingo à tarde. Bom, ótimo, para as elites porque o povão já começará a segunda-feira com o espírito entorpecido e estupidificado de asneiras dominicais. Mas não concordo que cada povo tem o domingo à tarde televisivo que merece.
Au Revoir
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