A CIDADE NUA E NOTURNA DE ED MOTTA (5 - FINAL)
Vicente Deocleciano Moreira
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Além de visceralmente nua ... tudo exposto ... toda a fauna noturna exposta ... a cidade de Ed Motta é noturna e sangra atravessada pela voz merlot-suave-forte de Ella Fitzgerald cantando a sua própria “A night in Tunisia": (Tunis, تونس,à noite)
The moon is the same moon above you
Aglow with it's cool evening light
But shining at night, in tunisia
Never does it shine so bright
The stars are aglow in the heavens
But only the wise understand
That shining at night in tunisia
They guide you through the desert sand
Words fail, to tell a tale
Too exotic to be told
Each night's a deeper night
In a world, ages old
The cares of the day seem to vanish
The ending of day brings release
Each wonderful night in tunisia
Where the nights are filled with peace
Each wonderful night in tunisia
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Está sempre à noite a cidade de Ed Motta; não como um planeta vazio, mas uma floresta de sombras vivas onde personagens movidos pelos plurais inter-esses (mil "S")estão ali na acidez de uma solidão que só a noite urbana pode tecer.
O caminhar solo sob as luzes, como só o que pode restar, e o estar sempre provando que se está vivo advertem que a noite não é criança, é uma ameaça; a esta hora exatamente lugar de criança é a cama embalada por Morfeu; longe de berços pueris, Eros faz a fama e deita na cama na noite urbana de Ed Motta.
Fauno enlouquecido, a noite enfeita de desejos jantares e comidas no geral e nos varejos particulares. E, como uma epidemia sem controle, a noite de Ed Motta dissemina cheiros de amor e de sexo - inhacas! - e resfolega sob escombros de poesias concretas derretidas. E amanhã (se houver amanhã), a manhã não redimirá a noite de ontem. Noite total, nudez total, perdição total. Luzes apenas no início do túnel.
Sem que tenha sequer começado, está sempre chegando ao fim sob a ameaça do amanhecer; é apenas reconhecer que a noite é para profissionais, deles ela emana e em seu nome é exercida; é reconhecer, também, que não tarda chegar as trevas do dia e de seu poder certeiro de morte e de patologias trazidas pela solaridade da normalidade. Encarar o dia de frente? Jamais - no outono do Rio ou em Paris a palavra jamais é a mesmo. Ora a pronúncia ... façam-me um uiskei s'il vous plaît. Lá da França Pascal nos protege de nossa fotofobia: "O sol e a morte não devem ser encarados de frente"
Felizmente tudo é falso: latidos de cães e gemidos de amantes num açougue invadido pelo cheiro da fraqueza da carne úmida de caibros, câimbras e vales carnais e reflorestados que carecem de rios caudalosos(para viver; não importa que sejam sazonais. É viver o agora da noite na ágora do desejo.
Duas da manhã
Não fiz nada até agora,
Vou sair fora
Mais um dia se passou
E eu não posso parar
Essa é a hora
Vou caminhar na cidade
Vou ver o luar
Rompendo a madrugada
Sentindo o que a noite, tem pra me dar
Essa vida é tão igual
Tanta gente a vagar
Pro mesmo lugar
Já não vejo mais sentido,
Aonde essa estrada vai me levar
(“Baixo Rio” – Ed Motta)
Morcegos e corujas, uni-vos! pois a noite está lançada!
Vicente
RSVP.
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