quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CULTURA URBANA E EDUCAÇÃO ... (4 - FINAL)

CULTURA URBANA E EDUCAÇÃO - ME/SED - BRASIL (4 - FINAL)

ISSN 1982 - 0283
Cultura urbana e educação
Ano XIX – Nº 5 – Maio/2009
Ministério da
Educação
Secretaria de Educação à Distância


TEXTOS DA SÉRIE CULTURA URBANA E EDUCAÇÃO




Práticas inovadoras
NOVAS PRÁTICAS
Marcus Faustini1
Uma mãe voluntária dentro de uma escola tem a tarefa de colocar as crianças para to­mar banho no intervalo entre um turno e outro. Diante da constante resistência das crianças em tomar banho, ela começa a pensar no que fazer para aqueles “moleques gostarem de se limpar”. Começa a perceber que as crianças gostam de cantar funk im­provisado e cria “a hora do funk no chuvei­ro”. A partir desse dia, a hora do banho pas­sa a ser disputada por todos.
A pequena história acima pode parecer anedótica para alguns e até mesmo anti­pedagógica para outros. O fato é que ela demonstra uma bela estratégia estética e afetiva construída por essa mãe voluntária dentro do espaço-tempo da escola. Por ou­tro lado, para percepção de quem busca no­vas práticas pedagógicas, salta aos olhos a perspicácia da mãe que uniu afeto e incor­poração do imaginário das crianças para realizar a sua tarefa. Podemos nos arriscar e dizer que isto só foi possível porque ela é uma mãe voluntária e, desta maneira, acre­ditamos que qualquer construção de novas práticas dentro da escola, antes de inventar novos sistemas, deve garantir a presença de atores sociais diversos dentro do espaço escolar.
Nenhuma nova prática nasce sem a cultura da diversidade, sem a garantia diária, atra­vés de práticas, de que essa diversidade não será tida como um corpo estranho ou extra­ordinário, até mesmo na grade curricular. A estratégia desta mãe não pode ser vista como jocosa, singular e extraordinária. Ela só foi possível pela repetição da tarefa que lhe foi dada. Garantir o direito à repetição da presença diária desses diversos atores sociais dentro da escola e superar a eventu­alidade da presença comunitária são os ca­minhos para se criar o sentido de inovação. Não adianta convidar a comunidade para jornadas de sábados ou datas comemorati­vas escolares, se essa comunidade não for estruturante para as estratégias cotidianas de relacionamento, conhecimento e expres­são estética da escola.
1 Secretário de Cultura do Município de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro.27
O curioso é que essa defesa cabe em vários discursos já existentes e que são defendidos com inflexão militante por muitos intelectu­ais e agentes corporativos. Mas isso não tem sido suficiente para garantir a ampliação do universo da escola. Para que isso aconteça, é preciso empoderar a comunidade e esses atores sociais diversos nas decisões da es­cola. Novas práticas são a invenção de po­der. Então, para que elas existam é preciso criar um ambiente de­mocrático, de prática republicana, que seja capaz até mesmo de exprimir as diversas estratégias simbólicas presentes dentro e no entorno da escola.
Se acreditarmos que a escola é o primeiro lugar onde podemos experimentar o mun­do, como isso será possível se dentro da escola não existir a diversidade do mundo? Até então, essa diversidade do mundo só está presente dentro da escola através de ilustrações que o conteúdo escolar difunde. O conteúdo deve ser tratado como um ob­jeto que pode ser montado/desmontado por todos. Dessa maneira, ele será percebido como uma linguagem que produz sentido sobre o mundo.
A combinação de diversos atores sociais com a experimentação das linguagens e con­teúdos pode criar um ambiente favorável a novas práticas. Além disso, pode estimular para que os agentes pedagógicos tradicio­nais da escola se manifestem também como atores sociais e não apenas como elementos da “máquina de ensinar”. O professor pre­cisa deixar de ser o centro do poder dentro da sala de aula, e tornar-se um mediador de experimentação do mundo. Isso traz a possibi­lidade de esse agente poder se apresentar com sua identidade e estratégias individuais, no mesmo nível da mãe que criou a “hora do funk no chuveiro”. É a valorização da singularidade de cada pro­fessor, pois quando o colocamos como me­diador, ele pessoaliza o seu processo e tem a possibilidade de se relacionar com os outros atores sociais, também como indivíduo, e não mais como coletivos (grupo de aluno, grupo de pais, etc.). Acreditamos que, com essas estratégias, a experimentação será não só oportuna, mas necessária para esco­la. Assim como a própria presença da comu­nidade com sua criatividade territorial de­terminará o ambiente para novas práticas, para a inovação.
Se acreditarmos que a escola é o primeiro lugar onde podemos experimentar o mundo, como isso será possível se dentro da escola não existir a diversidade do mundo?28
Qualquer outra tentativa que apenas aponte para efeitos organizacionais ou de dinâmicas pode não ser suficiente para garantir essas novas práticas. Não é suficiente chamar “os meninos do hip-hop” para apresentações em datas festivas da escola se esse universo não estiver inserido estruturalmente no conteúdo da escola. Entretanto, ele não pode ser usado apenas como uma ilustração do conteúdo. O estudo da linguagem, da organização e da es­tética dessa manifestação, por exemplo, deve ser tão importante como o estudo do desco­brimento do Brasil. Isso é central não apenas pelo alcance do hip-hop, do cordel ou de ou­tra manifestação eleita como mediadora. O estudo da estética será determinante para uma escola que tenha a inovação como meta. A dimensão da expressão e da linguagem é decisiva para a construção de uma ética que aceite a diversidade de atores sociais, crenças e modos de viver. A mãe, do nosso exemplo inicial, é ainda apenas um caso raro e funcio­nal, assim como devemos ter muitos outros pelo país dentro das escolas e comunidades. Precisamos ter a coragem de ampliar as pos­sibilidades de esses casos acontecerem.29
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância
Direção de Produção de Conteúdos e Formação em Educação a Distância
TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO
Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira
Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Machado Mello de Sousa
Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Carla Ramos
Coordenação de Utilização e Avaliação
Mônica Mufarrej
Fernanda Braga
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
Consultor especialmente convidado
Ecio Salles
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Maio de 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário