terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (1)

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (1)


Mulher, você vai gostar:
Tô levando uns amigos pra conversar.
Eles vão com uma fome
Que nem me contem;
Eles vão com uma sede de anteontem.
Salta a cerveja estupidamente
Gelada pr'um batalhão
E vamos botar água no feijão.

Mulher, não vá se afobar;
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar.
Ponha os pratos no chão e o chão tá posto
E prepare as lingüiças pro tiragosto.
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão.

Mulher, você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar:
Arroz branco, farofa e a malagueta;
A laranja-bahia ou da seleta.
Joga o paio, carne seca,
Toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão.

Mulher, depois de salgar
Faça um bom refogado,
Que é pra engrossar.
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira.
Diz que tá dura, pendura
A fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão.

("Feijoada Completa" - Chico Buarque de Hollanda)

Vicente Deocleciano Moreira



Constituiu-se um dos mais  sinais mais primitivos e mais importantes do estágio inicial do (nosso) processo de hominização  a gestão sobre sua própria  base material de sobrevivência física e psíquica ou, em palavras mais simples, sobre sua  própria alimentação.  Certamente,  esta gestão recebeu os decisivos aportes das então incipientes práticas de  agrícultura e de criação,  inseminação, domesticação e abate de animais (pecuária, por assim dizer).

Nos primeiros instantes pós  evolução do ancestral comum entre nós e os macacos, sob franca divisão sexual do trabalho, o cultivo de raízes e arbustos e a criação e  abate de aves e pequenos animais esteve a cargo das mulheres. Aos homens, maior força física e massa muscular, a guerra e a caça de grandes animais, a pesca de peixes ,,, longe do espaço domiciliar. Porém, mesmo na fase da ingestão de alimentos crus  (carnes, vegetais) o que hoje ((2011 d.C.) chamamos de manejo culinário esteve, inicialmente, sob responsabilidade do talento feminino; este talento predominou também quando – após a descoberta do fogo e da cerâmica – a dieta incorporou novas alternativas a partir dos alimentos cozidos ou assados.
A descoberta do fogo não só incrementou essas alternativas dietéticas. Mas também contribuiu para a redução do tamanho dos maxilares e a ampliação da capacidade craniana. Tudo isso  num mundo que começava a experimentar o sedentarismo instigado pela agricultura (diversificada pelo cultivo do trigo, centeio e outros cereais) e pela pecuária (renovada pela criação e abate de porcos, carneiros e cabras).
O uso das mãos femininas e também masculinas foi potencializado pelas pedras lascadas, ossos, pedaços de madeira para mexer o conteúdo das panelas de barro; estas, de utilidade ímpar para o armazenamento da água.
Começam os tabus alimentares notadamente aqueles criados e impostos,  pelas diversas religiões em nome de seus deuses e ideais de pureza.
O pão nosso de cada dia tem ao menos 4 mil anos de existência. Em  2000 aC ele já era assado em fornos, com farinha peneirada depois de a massa ter recebido ervas aromáticas e azeite.

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