sábado, 31 de dezembro de 2011

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (3)

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (3)
 
“Feijoada completa é aquela que tem ambulância parada na porta”
 [Sérgio Porto /Stanislaw   Ponte Preta, jornalista (1923-1968)]


Vicente Deocleciano Moreira
 

 O caldo dava -  como brasileiros dizemos popularmente -  “sustança” ... e era bebido por  pessoas debilitadas fisicamente,  mas  bem nutridas financeiramente a ponto de ‘comprar’ mesas e salas privativas. A essas pessoas  as “casas de saúde”  serviam também refeições diríamos leves comparativamente aos pratos oferecidos por estalagens e tabernas.

De algum modo, com o passar do tempo e sob o imperativo de exigências  crescentes de sofisticação, a “casa de saúde” evolui para o  restaurateur que aparece, pela primeira vez na Paris de 1765. Mas um acontecimento tornou-se  fator  decisivo para esta evolução. O dono desse primeiro restaurateur foi processado por integrantes das guildas. As guildas eram  associações de auxílio mútuo que, criadas na  Idade Média, desde então controlava e normatizava o comércio de alimentos. Os traiteurs, integrantes dessas associações, se reservavam o direito exclusivo de servir refeições, mas perderam a causa para os  restaurateurs, os quais decidiram diversificar o modus operandi do serviço de refeições. 
A vitória dos restaurateurs incentivou transformações profundas da qualidade e na quantidade dos estabelecimentos. Porém, ainda que  os restaurantes de hoje praticamente nada tenham a ver com as antigas “casas de saúde”, a expressão restaurateur hoje (2011) é aplicada a proprietários de restaurantes.

Em fins do século XVIII, mais precisamente em 1782, Paris inaugura o primeiro restaurante de luxo de toda a Europa:  “La Grande Taverne de Londres”. Seu proprietário, Antoine Beauvilliers  escreveu, em 1814,  um  livro fundante da cozinha francesa: “A Arte da Cozinha Francesa” .

Em inícios do século XIX, Paris oferecia 500 restaurantes a franceses e visitantes; na segunda metade do século, Paris continuava sendo a cidade por excelência dos restaurantes
Aqui, ali, alhures, urbe et orbe, as cidades (Paris é “apenas” um exemplo), souberam capitalizar e captura as idéias primitivas dos estabelecimentos que, aqui e ali, fizeram nascer o que hoje (2011) chamamos de restaurantes.  Independente do tamanho e do grau maior ou menor de sofisticação de seus pratos, culinárias e serviços, de pratos e de seus preços, o restaurante é uma das opções mais prazerosas da socialidade  e da sociabilidade urbanas. 

Neles  não mais procuramos, necessariamente,  restaurar energias ... mas sim nos entregar – corpo e alma ad nauseam – aos caprichos, signos, símbolos e fados do mais poderoso templo do desejo: o restaurante.

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