A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (3)
“Feijoada completa é aquela que tem ambulância parada na porta”
[Sérgio Porto /Stanislaw Ponte Preta, jornalista (1923-1968)]Vicente Deocleciano Moreira
O caldo dava - como brasileiros dizemos popularmente - “sustança” ... e era bebido por pessoas debilitadas fisicamente, mas bem nutridas financeiramente a ponto de ‘comprar’ mesas e salas privativas. A essas pessoas as “casas de saúde” serviam também refeições diríamos leves comparativamente aos pratos oferecidos por estalagens e tabernas.
De algum modo, com o passar do tempo e sob o imperativo de exigências crescentes de sofisticação, a “casa de saúde” evolui para o restaurateur que aparece, pela primeira vez na Paris de 1765. Mas um acontecimento tornou-se fator decisivo para esta evolução. O dono desse primeiro restaurateur foi processado por integrantes das guildas. As guildas eram associações de auxílio mútuo que, criadas na Idade Média, desde então controlava e normatizava o comércio de alimentos. Os traiteurs, integrantes dessas associações, se reservavam o direito exclusivo de servir refeições, mas perderam a causa para os restaurateurs, os quais decidiram diversificar o modus operandi do serviço de refeições.
A vitória dos restaurateurs incentivou transformações profundas da qualidade e na quantidade dos estabelecimentos. Porém, ainda que os restaurantes de hoje praticamente nada tenham a ver com as antigas “casas de saúde”, a expressão restaurateur hoje (2011) é aplicada a proprietários de restaurantes.
Em fins do século XVIII, mais precisamente em 1782, Paris inaugura o primeiro restaurante de luxo de toda a Europa: “La Grande Taverne de Londres”. Seu proprietário, Antoine Beauvilliers escreveu, em 1814, um livro fundante da cozinha francesa: “A Arte da Cozinha Francesa” .
Em inícios do século XIX, Paris oferecia 500 restaurantes a franceses e visitantes; na segunda metade do século, Paris continuava sendo a cidade por excelência dos restaurantes
Aqui, ali, alhures, urbe et orbe, as cidades (Paris é “apenas” um exemplo), souberam capitalizar e captura as idéias primitivas dos estabelecimentos que, aqui e ali, fizeram nascer o que hoje (2011) chamamos de restaurantes. Independente do tamanho e do grau maior ou menor de sofisticação de seus pratos, culinárias e serviços, de pratos e de seus preços, o restaurante é uma das opções mais prazerosas da socialidade e da sociabilidade urbanas.
Neles não mais procuramos, necessariamente, restaurar energias ... mas sim nos entregar – corpo e alma ad nauseam – aos caprichos, signos, símbolos e fados do mais poderoso templo do desejo: o restaurante.
Neles não mais procuramos, necessariamente, restaurar energias ... mas sim nos entregar – corpo e alma ad nauseam – aos caprichos, signos, símbolos e fados do mais poderoso templo do desejo: o restaurante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário