segunda-feira, 13 de junho de 2011

FCCV - VIOLÊNCIA E IMAGEM: VENCIDO PRAZO REALENGO

FCCV - FORUM COMUNITÁRIO DE COMBATE À VIOLÊNCIA

Salvador - Bahia - Brasil

 

Leitura de fatos violentos publicados na mídia

Ano 11, nº 21, 13/06/11 

 



VIOLÊNCIA E IMAGEM:
É VENCIDO O PRAZO DE REALENGO



Encontrar a Escola Municipal Tasso da Silveira nos espaços midiáticos já não é coisa trivial no último dia de maio de 2011. É preciso ter motivação específica para achar notícias que já no início do mês davam conta de que Realengo já passou.


Um informe da Agência Estado, de 4 de maio, marca esta passagem com uma denúncia de abandono: “Depois que a mídia foi embora, os assistentes sociais e psicólogos sumiram. Os pais que não podem pedir transferência já aceitam que o ano letivo foi perdido pois a escola entrou em obras e até agora nada de aulas”. Estas palavras são da mãe de dois alunos que “presenciaram o massacre, mas não obtiveram o atendimento psicológico prometido pela Secretaria Municipal de Educação”.

Com o intuito de contribuir para a superação do trauma, os alunos foram a uma sessão de cinema ver o filme Rio, e um grupo de estudantes das turmas do sétimo e oitavo ano visitou o Monumento aos Pracinhas com armas e roupas utilizadas pelos soldados da segunda guerra mundial. A explicação, dada pelos professores, para tão insólito passeio foi a necessidade de “tirar as crianças do ambiente da tragédia”.

Quem acompanhou a mídia nacional depois do dia 7 de abril ficou convencido de que o Rio de Janeiro poderia até não ser cuidado, mas Realengo sim, seria! A escola, os alunos, os pais, os professores teriam prioridade máxima no que se refere à atenção pública. O lugar se transformou em paixão nacional a partir do suporte midiático que fez do bairro um cenário para onde convergiram performances institucionais fabulosas que estabeleceram, em várias formas de prosa, um tipo raro de merecimento para aquele espaço urbano.

É fim de maio e para Realengo é passado o tempo midiático. No que concerne ao quesito prioridade, o bairro resta só com a escola, os pais, os alunos e os professores. Realengo já não recebe “aquele abraço”. Eis um problema que dificilmente pode ser advertido enquanto vige no espaço a “plenitude midiática”. Como reconhecer que não haverá efeitos práticos para tantas declarações emocionadas e comprometidas com a superação do trauma? Como insinuar que os efeitos práticos estão contidos nos próprios atos declaratórios, nas presenças corporais com seus persuasivos gestos?

A obra de reparação é instantânea e afeita a rompantes fraseológicos. Os seus sujeitos devem conduzir-se, imediatamente, para outros cenários de onde emergirão novas obras de locução com as suas eloqüentes e circunstanciais garantias aprazadas pelo tempo de mídia.

A duração da atenção midiática tem sido forte componente na definição do tempo de atenção mais consistente prestado pela ordem pública a uma determinada causa. E este não é um defeito da mídia, ao contrário, é uma deformação do poder público, que deve agir, prioritariamente, não para veicular a ação na mídia.

Experiências como a de Realengo evidenciam que as instituições internalizaram ao seu fazer um componente esdrúxulo: o parecer-fazer. Com a cura prioritária destinada à aparência, o marketing da obra é o que ela tem de mais concreto. Depois de feita a imagem, convém usá-la intensamente até findar a vigência do tempo midiático e depois, já fora de foco, improvisar respostas para as pendências reais como colocar as crianças paramentadas de soldados da segunda guerra para esquecerem que são aquelas que deram lugar para a liturgia político-midiática e para os negócios da caridade laica ligados às causas em seu estágio de rentabilidade simbólica proporcionado pela ampla cobertura de mídia.

A impressão de nulidade de efeitos positivos no que se refere a este estilo de obras é equivocada. O engano decorre de um cálculo instintivo que pretende verificar no solo acometido pela tragédia os sinais das melhorias prometidas, mas a busca frutuosa deve ser feita em lugares muito distantes do drama, nos quais o referido infortúnio só chega sob forma de acontecimento midiático. É por estes confins que as obras restauradoras são dadas e imaginadas como coisas concretas e que não podem ser tocadas, pura e exclusivamente, porque elas se encontram no distante e sofrido bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro.

Quando a mídia vai embora, desaparecem assistentes sociais e psicólogos e isto é sinal de que a obra foi concluída. Daí em diante, restam as etapas de manutenção. É quando o prefeito diz que o dinheiro e as coisas da prefeitura não pertencem a ele, como resposta às famílias que exigem indenização. Tal posicionamento não seria concebível nos dias de palco, mas agora se ajusta ao tempo de procrastinação de Realengo bastidor.














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