Vicente Deocleciano Moreira
"Sem pernas", menino coxo (daí seu apelido), personagem de "Capitães da Areia", do romancista baiano Jorge Amado (1912 - 2001) é a copnsciência do grupo de "capitães da areia" que perambula pelas ruas do centro antigo da cidade de Salvador (Bahia - Brasil) a assaltar e cometer furtos.
Ao menos em meados do século XX, meninos que sobreviviam e dormiam nas ruas de Salvador (sem escola e sem lar, pedindo esmolas, furtando ...) eram denominados de "capitães da (de) areia" Com o tempo, essa expressão foi caindo em desuso e tais crianças passaram a ser chamadas de "pivetes", "meninos de rua" ...
Os primeiros diias da vida do Sem pernas se confunde com a infância de muitas crianças pobres de inúmeras cidades do Brasil.
Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamva de "meu padinho" e que o surrava. Fugiu logo que pôde comnpreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. (AMADO, Jorge. Capitães da Areia. S, Paulo, Record, 1979, p. 35)
As desagradáveis lembranças da ´prisão acompanhariam Sem pernas durante toda sua vida, a cada minuto. Era noite, solddados bêbados se divertiam em fazê-lo correr com sua perna coxa em volta de uma saleta; em cada canto, havia um soldado com uma borracha que marcava as costas do pequeno prisioneiro quando este, vencido pelo cNunca is em seus sonhos sempre apreciam as cenas vividas na prisãoansaço, não mais podia correr ...e ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu aquele homem de colete cinzento que fumava um charuto (p. 35). Sem pernas dormia com dificuldade, pois em seus sonhos sempre apareciam as cenas vividas na prisão.
Sem pernas foi trazido ao grupo pelo Professor, o intelectual dos “capitães da areia” e logo destacou-se pela sua capacidade de fingir uma grande dor; e, com isso, enganava senhoras, cujas mansões eram roubadas pelo grupo já ciente da localização e conteúdo dos cômodos. O roubo era orientado pelas informações prestadas pelo Sem pernas, de volta da hospedagem que lhe fora facultada por essas maternais senhoras que, para aliviar a cosnciência, davam abrigo ao pequeno coxo.
... tinha verdadeira satisfação ao pensar em quanto o xingariam aquelas senhoras que o haviam tomado por um pobre órfão. Assim, se vingava, porque seu coração estava cheia de ódio. Confusamente deseja ter uma bomba (como aquela de certa história que o Professor contava) que arrasasse toda a cidade, que levasse todos pelos ares. Assim, ficaria alegre. Talvez ficasse também se viesse alguém, possivelmente uma mulher de cabelos grisalhos e mãos suaves, que o apertasse contra o peito, que acarinhasse seu rosto e o fizesse dormir um sono bom, um sono que não estivesse cheio de sonhos da noite na cadeia. (p. 35)
Era polêmico, zombeteiro e, acima de tudo, crítico mordaz. Num diálogo com um companheiro de grupo, critica os roubos que faziam, orientados pelos interesses de Gonzalez, espanhol intrujão que comprava jóias roubadas e agora estava a exigir que furtasse chapéus de feltro.
- Também paga uma miséria. E é interesse deste não dizer nada. Se ele abrir a boca no mundo não há costas largas que livre ele do xilindró...
(...)
- Não estou dizendo que não topo. Tou só falando que trabalhar para um gringo ladrão não é negócio. Mas se tu quer ... (p. 31)Observa-se no segundo parágrafo – fala do Sem pernas - a presença de um código de conduta escrito pelos valores morais dos “capitães da areia”. Para o pequeno coxo, Gonzalez não passa de um ladrão.
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(continua amanhã, segunda-feira)
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(continua amanhã, segunda-feira)
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