terça-feira, 9 de agosto de 2011

FCCV - VEÍCULOS EMBRIAGADOS MATAM?!




Salvador - Bahia - Brasil



 

 

 

Leitura de fatos violentos

 publicados na mídia

Ano 11, nº 29, 08/08//11 

VEÍCULOS EMBRIAGADOS MATAM?!

Era noite e era noite. Era rua e era rua. Era jovem e era jovem. Era julho de 2011, e ela tinha 28 anos quando morreu ao não resistir aos ferimentos sofridos em acidente entre o seu Tucson e um Porsche. Era julho de 2011, e ele tinha 24 anos e morreu ao não resistir aos ferimentos sofridos em acidente envolvendo o seu corpo e um Land Rover blindado. Ela, advogada, e ele, administrador. 

As imagens relativas ao primeiro acidente dão conta de dois veículos destroçados, mas o proprietário do Porsche, um engenheiro de 36 anos, afirma que não estava dirigindo a 150 km por hora. De acordo com as suas declarações, concorda que dirigia acima dos 60 km máximos previstos para a via, mas não chegando à marca dos anunciados 150 km. Explicando a tragédia à Folha de São Paulo, ele assim se expressou: “A mensagem que eu gostaria de passar é que tudo tem um porquê. A gente tem que aceitar. Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus”.  

Deve-se observar que ao transferir a responsabilidade da morte da jovem para o Altíssimo, o acusado, indiretamente, se coloca como instrumento da vontade do Pai. Talvez, com este argumento, queira mais que uma simples absolvição e ambicione o reconhecimento, por parte da justiça terrena, de que o caso não pode ser confiado a instância de tão pouco valor em comparação os desígnios por ele alegados.  

Não obstante o emprego do referido argumento, o condutor do Porsche foi detido e pagou fiança de 300 mil reais para responder ao processo em liberdade. É provável que ele tenha interpretado o cumprimento deste dever como uma vontade do Alto, caso contrário, ele estaria ferindo a sua própria convicção ou se imaginando fora dos planos do Pai. 

 No segundo acidente, a vítima se encontrava na calçada quando foi atropelada pelo Land Rover e ficou gravemente ferida vindo a falecer no hospital cinco dias depois do acidente. Mais uma vez, as fotografias do carro virado na calçada dizem muito sobre a sua condução.  Em torno do caso pairou uma dúvida quanto a quem dirigia o carro quando do desastre. A hipótese que adquiriu maior credibilidade é aquela que descarta o proprietário do veículo como condutor, afirmando que a sua namorada guiava o automóvel no momento do atropelamento. Em seu depoimento, ela corrobora com essa versão.

Nos dois casos, há fortes suspeitas de embriaguez por parte dos motoristas, que são contestadas pelos seus respectivos advogados. Na primeira situação comentada, o condutor do carro justificou a velocidade acima da previsão legal por medo de assalto. No segundo acidente, a motorista informa que o seu parceiro estaria tão bêbado que não se equilibrava no banco e teria se projetado por sobre ela de modo a impedi-la de controlar o veículo. Com as justificativas dadas cabe discutir se ainda existe clima que comporte a existência de veículos nas vias brasileiras.

A questão de fundo, no que se refere à defesa dos acusados parece ser da seguinte natureza: é preciso negar a relação com ingestão de álcool e, ao mesmo tempo, encontrar um modo de justificar os desvios que resultaram em óbitos. Fugir de um assalto e ser perturbada por um bêbado são dois motivos plausíveis para atenuar ou, quem sabe, retirar a responsabilidade dos motoristas que dirigiam em alta velocidade.  Aliás, de acordo com as informações veiculadas pela mídia, o automóvel que atropelou o jovem tem uma espécie de currículo negativo no DETRAN que conta 26 multas –  dez por excesso de velocidade.


Assiste-se a um “fenômeno físico” impressionante: os carros correm desgovernadamente, como se assumissem o nome que a incauta civilização lhes deu: auto-móveis. Eis uma extravagante ficção que tem se tornado tragédia no mundo real. Em tempos de reflexão sobre o politicamente correto, talvez coubesse alguma ironia relacionada com a liberdade inventada para os motores e a ilusão de sermos meros objetos nas auto-vias. E a velocidade é tanta que não tem havido tempo para se lembrar que o corpo que pisa no acelerador é um pé de gente e, mesmo nos veículos de tipo “auto-auto” – automóveis automáticos – ainda restam mãos coordenadas por cabeças que executam comandos. Enfim, os carros podem ser hidramáticos, telemáticos etc., mas não são auto-móveis como foram batizados ante a “embriaguez” da velocidade empreendida pelos primeiros veículos.  Também não cabe lhes atribuir culpa de caráter transcendental diante da imperícia, da irresponsabilidade e da conduta criminosa. O carro é um móvel que é levado a qualquer espaço conforme a direção de quem o guia.

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