FCCV -FORUM COMUNITÁRIODE COMBATEÀ VIOLÊNCIASALVADOR -BAHIA - BRASILLeitura de fatos violentospublicados na mídiaAno 11, nº 30, 17/08//11 | |
ONDE ESTAMOS NESTE TABULEIRO? |
Acordar com manchetes que tratam da crise de sólidas economias é a mais nova oferta disponível no cardápio midiático. Nos últimos dias, os abalos chegam pelos anúncios do rebaixamento da nota da dívida americana que, de acordo com a agência de classificação de risco S&P, perdeu a posição de extrema confiança AAA para ocupar o segundo lugar representado pelo código AA+.
É interessante observar que em concomitância com o recuo americano, o Brasil se autoelogia por ter elevado o seu nível de confiança de BBB- para BBB, conforme agência japonesa R&I. Ou seja, o que para nós representa sucesso, para os americanos do norte seria a ruína, um fracasso capaz de abalar gravemente o mundo. Com a discreta alteração de grafia de AAA para AA+ é decretado um perigo em escala internacional, um viés de insegurança para o qual ainda não há mitos, ao contrário, é uma incerteza que corrói um universo mitificado, representado pela imagem de garantia inoxidável dos Estados Unidos da América.
A resposta pública e imediata do presidente americano diante do “catastrófico” anúncio foi pelo “rebaixamento” da agência S&P, colocando em dúvida a própria base de construção do juízo e atingindo a sua solidez. É se de imaginar que com a desqualificação daquele serviço de medição, o esforço empreendido por tantos países fascinados pela nota máxima perde a sua obstinada ilusão relativa ao cumprimento de metas baseadas em indicadores “muito lúcidos”. A imagem sólida dos medidores das agências de classificação é atingida, tornando-se discutíveis seus instrumentos e dando-se a impressão que também por ali “o rei está nu” e, quem sabe, não seria oportuno a criação de agências para avaliar as agências. Desse modo, a seriedade do jogo que confere notas às economias globais é atingida. O “campeonato” ganha ares de gincana escolar praticada por unidades de ensino de segunda categoria, portanto, um jogo para inferiores com regras ditadas pelos superiores.
Os indicadores não são a palmatória do mundo, eis a desilusão. Sua serventia é condizente com “meio mundo” de países que tentam “subir na vida”, mas para aqueles que se encontram no topo o medidor deve manter os ponteiros sobre o limite máximo de positividade, respeitando-se os lugares de honra, caso contrário o relógio é lançado fora, acusado de defeito grave.
As notícias relacionadas com este aspecto da reação dos Estados Unidos fazem lembrar as brincadeiras infantis quando um dos participantes é o dono do brinquedo e ao chegar a sua vez de perder a partida, ele muda a regra e, caso não seja acatada a sua sugestão, ele finaliza o jogo, retirando-se e levando consigo o seu brinquedo. As mesmas notícias também suscitam práticas do mundo dos adultos em nossa cultura, no que se refere ao respeito às regras do jogo (em jogo) no mundo social. Quem deve obedecer às leis do trânsito? Quem deve respeitar as normas que regulam as licitações? A quem são destinados os lugares nas longas filas?
Acatar as regras destinadas a todos parece ser um delírio em nosso contexto. O “todos” aí não tem sido tão avassalador quanto o vocábulo sugere. É “meio mundo”, mas não “todo o mundo”. Um dos grandes desafios da construção democrática não reside somente na inclusão dos excluídos dos direitos sociais e econômicos, mas também na integração no marco dos direitos por parte daqueles que se mostram acima da Lei e vivem de garantias que lembram o poder da criança de criar a sua lei por ser o dono da bola.
Por trás destas desatenções quanto às regras moram muitos dos determinantes da violência em nossa cultura. É sempre conveniente entender o jogo, conhecer as regras estabelecidas e defender as previsões que dão à dinâmica da vida garantias básicas de igualdade entre os atores em contínua competição. Quem sabe assim possamos despertar como atletas e como torcedores do jogo que tem como foco a nossa própria existência.
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