MOBILIDADE URBANA: PROBLEMA ANTIGO, NOVOS DESAFIOS (13)
[jornal Folha de São Paulo, São Paulo (SP - Brasil), 12 de agosto de 2011, p. A2]
FERNANDO DE BARROS E SILVA -
UM ASSUNTO PEDESTRE
SÃO PAULO - A calçada é a rua do pedestre. Não só, é claro. Em lugares que prestam, é também um espaço de lazer e convívio social. A urbanista americana Jane Jacobs dedicou três capítulos de seu livro "Morte e Vida de Grandes Cidades" (1961) à importância das calçadas.
Tinha Nova York -e o bairro de Greenwich Village- como referência. Escreveu um clássico a favor da mistura de atividades numa mesma área urbana -lugares onde se possa morar, trabalhar, comer, brincar, andar, ter acesso à cultura.
Subúrbios, condomínios fechados, bairros comerciais, shoppings, vias expressas, túneis, muros, grades -era contra esses monumentos da segregação urbana e social que a obra de Jacobs se levantava.
Com uma exceção ou outra (Higienópolis, Cerqueira César, Vila Madalena, Pinheiros e olhe lá), em São Paulo Jacobs foi derrotada. Os ricos segregaram os pobres nas bordas da cidade e se autoisolaram.
Numa cidade em que quase não existe vida urbana, que sentido há em falar de calçadas como espaço social e coletivo? O fato é que elas por aqui não conseguem nem mesmo cumprir a função de "rua do pedestre". Irregulares, intransitáveis ou apenas inexistentes (o que é muito comum na periferia), as calçadas são uma espécie de intervalo órfão, um espaço abandonado entre a casa (o espaço privado) e a rua (o espaço supostamente público, mas na prática privatizado pelo comportamento dos motoristas).
Mesmo que o poder público continue se lixando para as calçadas, a atual campanha da prefeitura tem o mérito de lembrar que os pedestres existem e são as maiores vítimas do trânsito na cidade (7.000 mil atropelamentos e 630 mortos em 2010, quase 50% do total de acidentes).
Numa cidade em que quase não existe vida urbana, que sentido há em falar de calçadas como espaço social e coletivo? O fato é que elas por aqui não conseguem nem mesmo cumprir a função de "rua do pedestre". Irregulares, intransitáveis ou apenas inexistentes (o que é muito comum na periferia), as calçadas são uma espécie de intervalo órfão, um espaço abandonado entre a casa (o espaço privado) e a rua (o espaço supostamente público, mas na prática privatizado pelo comportamento dos motoristas).
Mesmo que o poder público continue se lixando para as calçadas, a atual campanha da prefeitura tem o mérito de lembrar que os pedestres existem e são as maiores vítimas do trânsito na cidade (7.000 mil atropelamentos e 630 mortos em 2010, quase 50% do total de acidentes).
É difícil reconhecer nesta gestão um esforço civilizatório, de respeito à maioria socialmente inferiorizada. Mas se até um predador do tamanho de Maluf implantou o cinto de segurança na cidade, Kassab pode reduzir o morticínio dessas pessoas que insistem em não ter carro.
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