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Nota do Blogue
Nesta quinta postagem da série MOBILIDADE URBANA: PROBLEMA ANTIGO, NOVOS DESAFIOS, vamos retomar, na íntegra, o artigo de José Renato Nalini, "Sâo Paulo na UTI" publicado na última postagem (da série), dia 29 de julho.
Vicente.
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[jornal Folha de São Paulo, São Paulo (SP - Brasil), 24 de julho de 2011, p. A3]
São Paulo na UTI
JOSÉ RENATO NALINI
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Não é só o poder público o responsável: a cidade é de todos, e nenhum cidadão está liberado de se empenhar no processo de sua recuperação
A cada manhã, o paulistano acorda com notícias terríveis.
Mortes no trânsito, explosões de caixas eletrônicos, tão fácil obter material explosivo! Arrastões em restaurantes, sequestros, furtos e roubos de carro. Chacinas de jovens recrutados pelo tráfico, homicídios a esclarecer e vinculados a "queimas de arquivo".
Vive-se um clima de insegurança, a gerar difusa sensação de desamparo. Adicione-se a deturpação do esforço da Justiça Criminal com os "mutirões carcerários".
Explora-se a desconfiança no retorno do egresso ao convívio social e reforça-se a convicção de que aumenta a impunidade.
Outro indício de cidade enferma é a sujeira. Se a produção de lixo é maior do que a de outras urbes de análoga dimensão mórbida, como deixar de concluir que o paulistano está em deficit de consciência ambiental? Fealdade transparece ainda na pichação, sintoma de metrópole mal amada. Não é reconhecida qual instância de acolhimento.
Não são os únicos dados em desfavor da vida paulistana. Há também o exagerado aumento dos moradores de rua. São milhares, a ocupar todas as regiões da cidade. Acena-se com o seu cadastramento, paliativo insuficiente. A legião é heterogênea: há os desempregados, os portadores de anomalia mental, os drogados. Não há como sustentar o direito a "morar na rua". Via pública se destina à circulação.
Outro indício de cidade enferma é a sujeira. Se a produção de lixo é maior do que a de outras urbes de análoga dimensão mórbida, como deixar de concluir que o paulistano está em deficit de consciência ambiental? Fealdade transparece ainda na pichação, sintoma de metrópole mal amada. Não é reconhecida qual instância de acolhimento.
O vilipêndio com agressões estéticas é próprio a quem não nutre o sentimento de pertença.
Esgarçados os laços de solidariedade, prolifera a violência. O trânsito é o fenômeno mais típico. Além dos acidentes, o estresse de caótica paralisação e congestionamento, algo provável a qualquer hora.[grifo nosso]
Tudo sinaliza a situação agônica do convívio na megacidade. O otimista dirá não ser assim. Muita coisa ainda funciona, a despeito das disfunções. Todos os dias, milhões acordam longe do trabalho, servem-se de péssimo transporte público, perdem horas no trânsito, ganham mal e, a despeito disso, se comportam com civilidade.[grifo nosso]
A capital bandeirante paga por seus erros. Fez escolha equivocada ao mutilar sua paisagem, ao sepultar seus rios, canalizar seus córregos, impermeabilizar seu solo, arrancar suas árvores, secar suas várzeas. Nada poderia resultar de bom dessa política de arrasa-terra.
Persiste na vocação ecocida e dendroclasta, desrespeita sua história. Elimina marcos arquitetônicos. Desestimula a preservação, demole parâmetros e torna a população carente de referenciais.
A opção preferencial pelo automóvel desprezou o pedestre, ser miserável, posto a respirar gás carbônico e partículas cancerígenas. O ciclista é também insultado, ameaçado, atropelado e morto. [grifo nosso]
Tudo vai desaguar em apatia e resignação. Fraturados os laços simbólicos, descrê-se da política e das instituições. Presságio de uma sociedade enferma. Tribos distintas disputam o exotismo do insólito. Algumas perseguem e espancam minorias. E pensar que São Paulo já foi uma cidade civilizada.
Quem a conheceu há poucas décadas o testemunha.
JOSÉ RENATO NALINI, mestre e doutor em direito constitucional pela USP, é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de "A Rebelião da Toga", 2ª ed., editora Millennium.
Hoje está na UTI e precisa de cuidados urgentes. Não é só o poder público o responsável. A cidade é de todos, e ninguém está liberado de se empenhar no processo urgente de sua recuperação.
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JOSÉ RENATO NALINI, mestre e doutor em direito constitucional pela USP, é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de "A Rebelião da Toga", 2ª ed., editora Millennium.
Do artigo, fizemos os seguintes destaques para exibir o vulto que a mobilidade urbana assume no espectro atual dos problemas de uma cidade - no caso, a maior do Brasil e da América Latina: Sâo Paulo ... capital do estado do mesmo nome.
"O trânsito é o fenômeno mais típico. Além dos acidentes, o estresse de caótica paralisação e congestionamento, algo provável a qualquer hora."
"Todos os dias, milhões acordam longe do trabalho, servem-se de péssimo transporte público, perdem horas no trânsito, ganham mal e, a despeito disso, se comportam com civilidade".
"A opção preferencial pelo automóvel desprezou o pedestre, ser miserável, posto a respirar gás carbônico e partículas cancerígenas. O ciclista é também insultado, ameaçado, atropelado e morto."
Nas principais cidades brasileiras, um certame internacional de futebol - a Copa do Mundo de 2014 - passou a exercer o papel, jamais praticado em tempo algum, por algum urbanista ou um político com discurso 'especializado' nas questões da cidade. O certame passou a 'enxergar' necessidades urbanas jamais vistas, ou melhor, jamais privilegiada por quem quer que fosse; uma delas, a mobilidade urbana.
A novidade do pensar a Copa tornou-se mais importante que o velho pensar a cidade.
Salvador, capital da bahia, demoliu o decano Estádio da Fonte Nova a fim de que hoje (agosto/2011) pudesse estar a construir uma arena (Arena Nova?). Porém a imprensa escrita da cidade dá, em seu noticiário cotidiano, infinitamente maior ênfase à polêmica (que parece interminável) entre BRT, VLT, um novo projeto de novo Metrô para a Avenida Paralela que, por sinal, é paralela à avenida que olha diretamente o mar ((chamada de 'Orla'), bela e também merecedora de atenção para seus velhos e específicos problemas de mobilidade urbana. Tudo isso sob o império da expectativa da Copa e, mais, das exigências da Federação Internacional de Futebol (a FIFA).
O privilégio à Avenida Paralela se deve ao fato de ser a única, na capital do estado da Bahia, a permitir ligação imediata, direta, enttre o aeroporto e a estação rodoviária/Shopping Iguatemi e adjacências.
Voltando a São Paulo, na varedade sem ter saído dela ou de qualquer outra cidade brasileira, o fato é que acidentes de trânsito, atropelos, agressões ao ambiente, transporte público de péssima qualidade, engarrafamentos/congestionamentos, o decanttado 'individualismo' do automóvel ... resumem e destacam, aqui e ali e num mesmo universo urbano (mobilidade urbana) os principais problemas das cidades do Brasil.
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