domingo, 31 de julho de 2011

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO




  SEMANA DE 24 DE JULHO DE 2011, ÁS 19 h A 31 DE JULHO DE 2011, ÀS 18h:
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VICENTE
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MUNDO ... FOME E DESESPERANÇA NA SOMÁLIA

 MUNDO VASTO MUNDO - FOME E DESESPERANÇA
NA SOMÁLIA - ÁFRICA









 BAN KI-MOON
[jornal Folha de São Paulo, (SP - Brasil) 24 de julho de 2011, p. A3]

__________________________________________________________________________________
Para reverter a situação no Chifre da África, para oferecer esperança em nome de nossa humanidade comum, devemos mobilizar todo o mundo

__________________________________________________________



Em todo o Chifre da África, as pessoas estão famintas. Uma combinação catastrófica de conflitos, alto preço dos alimentos e seca deixou mais de 11 milhões de pessoas em extrema necessidade. A ONU está emitindo alertas há meses.

Temos resistido a usar a palavra fome -mas, na quarta-feira, reconhecemos oficialmente a realidade.
Há fome na Somália. E está se espalhando. Esse é um alerta que não podemos ignorar.


Todos os dias, escuto os relatórios angustiantes de nossas equipes. Refugiados somalis caminhando durante semanas para encontrar ajuda. Órfãos que chegam sozinhos, seus pais mortos, assustados e desnutridos, em terra estrangeira.

Dentro da Somália, ouvimos histórias terríveis de famílias que viram suas crianças morrer, uma a uma. Recentemente, uma mulher chegou a um campo de deslocados da ONU a 140 quilômetros do sul de Mogadíscio após três semanas de caminhada.

Halima Omar, que, hoje, após três anos de seca, mal sobrevive. Quatro de suas seis crianças estão mortas. "Não há nada pior que ver sua criança morrer diante de seus olhos porque você não pode alimentá-la", disse. "Estou perdendo a esperança."

Até para os que chegam aos campos muitas vezes não há esperança.Muitos estão muito fracos e morrem antes de terem recuperado a força. Para as pessoas que precisam de atenção médica, muitas vezes não há remédios. Imagine a dor desses médicos, que veem seus pacientes morrer por falta de recursos.
Para salvar vidas de pessoas em risco -mulheres e crianças são a grande maioria- precisamos de aproximadamente US$ 1,6 bilhão. Até agora, doadores internacionais deram apenas metade dessa quantia. Para reverter a situação, para oferecer esperança em nome de nossa humanidade comum, devemos mobilizar todo o mundo.

É por isso que falo hoje -para focar a atenção global nessa crise, para emitir o alarme e pedir ao mundo que ajude a Somália neste momento de enorme necessidade.


A situação é particularmente difícil na Somália. Lá, os atuais conflitos complicam os esforços de ajuda. As condições de operação são complicadas pelo fato de o governo nacional de transição da Somália controlar apenas uma parte da capital. Estamos trabalhando em um acordo com as forças de Al Shabaab, um grupo de milícia islâmico, para permitir o acesso a áreas do país controladas por eles. Mesmo assim, ainda há sérias preocupações com a segurança.
Também devemos reconhecer que Quênia e Etiópia, que mantiveram generosamente suas fronteiras abertas, enfrentam seus próprios desafios. O maior campo de refugiados do mundo, Dadaab, já está superlotado, com cerca de 380 mil refugiados. E milhares de outros refugiados aguardam.

Na vizinha Etiópia, 2.000 pessoas chegam por dia no campo de refugiados de Dolo. Isso se combina com uma crise de alimentos enfrentada por quase 7 milhões de quenianos e etíopes em casa.

Em Djibuti e Eritreia, milhares de pessoas também estão precisando de ajuda.

Acima de tudo, nós precisamos de paz. Enquanto houver conflito na Somália, não poderemos combater efetivamente a fome. Mais e mais crianças ficarão famintas; mais e mais pessoas irão morrer desnecessariamente.


Na Somália, Halima Omar nos disse: "Talvez este seja nosso destino -ou talvez um milagre aconteça e seremos salvos deste pesadelo".


Não posso aceitar isso como seu destino. Juntos, precisamos resgatá-la, bem como precisamos resgatar seus compatriotas e todas as suas crianças, desse pesadelo verdadeiramente terrível.

________________
BAN KI-MOON, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República da Coreia.




EMCONTO COM AS CIDADES - ALPHA E PAULA E THOMAS

EMCONTO COM AS CIDADES - 
POSTAGENS DOMINICAIS DE CONTOS 
QUE EXIBAM ALGUM DESTAQUE `CIDADE


CONTOS  ESQUECIDOS I

 Alpha e Paula e Tomas

Tomás havia acabado de se mudar e não havia conhecido ninguém ainda. Gastava boa parte de seu tempo jogando video game e por vezes lendo, poucas vezes na verdade. Sua mãe passava muito tempo em casa também. Isso fazia ela se irritar com a situação do filho. Ele sempre fora um garoto muito ativo, mas desde a mudança o rapazinho não colocara o nariz para fora de casa.

As coisas seguiram seu rumo até que a mulher se irritou com o filho e o mandou para a rua. Tinha ordem expressa para só retornar quando fizesse um amigo. A medida era extremada, mas a mãe esperava que gerasse algum resultado. Ao menos seu menino perderia aquela cor pálida de ficar sem pegar sol.

Tomás saiu e foi andar por aí. Deu voltas e voltas, conhecendo a vizinhança. Não parecia estar mais prócimo de fazer algum amigo do que quando saiu de casa, mas estava confiante. O bairro era legal, não tinha encontrado muitas pessoas pelas ruas, mas gostava do que via.

Encontrou uma praça e parou. Estava um pouco cansado após a caminhada e resolveu se sentar em um banco. O dia estava bom, azul e com ventos. Era bom sair de casa, mas meio tedioso ficar sozinho.

O garoto relaxou e não percebeu o outro rapaz se aproximando. Assim que Tomás o viu ele falou:

- Saia do meu banco!

A voz não foi tão alta assim, mas era firme. Ao menos tão firme quanto uma criança consegue ser. O menino não entendeu o que o outro poderia estar pensando exatamente. Seria aquele um novo meio de se fazer amizade?

- Mas tem tantos bancos em volta.

A resposta não foi bem recebida e logos depois que terminou de falar ele se viu puxado para fora do banco.

- Esse é o meu banco.

- Desculpe. Você podia ter me avisado.

Ele gostaria de tentar fazer amizade para poder voltar para casa, mas o garoto não colaborava muito. Aparentemente ainda estava irritado e para demonstrar isso empurrou Tomás, que era bem menor. Ele por sua vez se limitou a cair no chão.

Como que atraído pela confusão surgiu um garoto e se colocou entre Tomás e seu agressor.

- Alphonse.
Falou  o valentão. Pelo tom de voz os dois não pareciam se dar muito bem. Tomás não gostou muito como o nome de seu salvador soava, mas pelo que pode perceber ele também não, pois empurrou o irritadinho que tropeçou em alguma coisa e caiu para trás. Uma garota estava abaixada atrás dele, já com a intenção de derrubá-lo, um velho truque. Ela se levantou e o chutou que percebendo que estava sozinho contra três saiu correndo.

Alphonse se virou e deu a mão à Tomás.

- Ele é chato assim mesmo. Você é novo aqui?

- Sou sim. Estou procurando amigos.

- Acho que acabou de encontrar.

Falou a menina com um sorriso.

- Você vem com agente?

- Eu vou estar logo atrás de vocês.

E desde então os três estiveram juntos sempre que possível.

TEMPOESIA NAS CIDADES / CORA CORALINA

TEMPOESIA NAS CIDADES  
POSTAGENS DOMINICAIS DE POESIAS QUE EXIBAM  ALGUM DESTAQUE À  CIDADE


O VELHO SOBRADO

CORA CORALINA

Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
— um muro.

Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a " fortaleza " desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada.
D. Virgínia Vieira
- grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes e saraus antigos.
Cortesia. Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
-tão desusados...
O Passado...

A escadaria de patamares
vai subindo... subindo...
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares.

Salas. Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins, segurando
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim-do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
- manjerona.

sábado, 30 de julho de 2011

BOAS VINDAS A DANIELL FRAGA

BOAS  VINDAS A DANIELL FRAGA


DANIELLFRAGA80 SEJA MUITO BEMVINDO AO NOSSO BLOG.


OBRIGADO PELA HONRA QUE VOCÊ CONFERE AO NOSSO BLOG


VICENTE

A CENA URBANA NA ARTE DE JOÃO BOSCO (1)

A CENA URBANA NA ARTE DE JOÃO BOSCO (1)

 

DE FRENTE PRO CRIME

João Bosco

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão...


****************************

João Bosco/"De frente pro crime"  atualiza a cena urbana de todos os dias em - podemos dizer mais e mais - TODAS as cidades, ao menos as brasileiras. A violência crescente e sem controle, o medo de sair à noite e a autocondenação nossa, de todo o dia, à prisão domiciliar ... sem crime, sem julgamento e sem crime. Homicídios, latrocínios, assaltos, explosões de caixas de banco, sequestros ... e quanto temos  aprendido a banalizar e a nos resignar com tudo isso, ficando de costas pro crime, e fechando portas e janelas de casas e carros  para a cena urbana ... indignação? - só com o engarrafamento ... essa praga urbana que a cena impõe à nossa pressa ...

"Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...
"

A cena - "Tá lá o corpo estendido no chão" - é uma expressão da especularização e a pirotecnica com que determinada 'mídia' espetaculariza o crime; tudo muito coerente com a sociedade urbana do espetáculo que temos aprendido a admirar sob o signo da provisoriedade e da ausência de presentificação das coisas da vida e da cidade.

Vicente D. Moreira

sexta-feira, 29 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA ,,, (4)


MOBILIDADE URBANA:  PROBLEMA ANTIGO, NOVOS DESAFIOS (4)

[jornal Folha de São Paulo, São Paulo (SP - Brasil), 24 de julho de 2011, p. A3]

São Paulo na UTI

JOSÉ RENATO NALINI

________________________________________________________________________
Não é só o poder público o responsável: a cidade é de todos, e nenhum cidadão está liberado de se empenhar no processo de sua recuperação




A cada manhã, o paulistano acorda com notícias terríveis.

Mortes no trânsito, explosões de caixas eletrônicos, tão fácil obter material explosivo! Arrastões em restaurantes, sequestros, furtos e roubos de carro. Chacinas de jovens recrutados pelo tráfico, homicídios a esclarecer e vinculados a "queimas de arquivo".

 

Vive-se um clima de insegurança, a gerar difusa sensação de desamparo. Adicione-se a deturpação do esforço da Justiça Criminal com os "mutirões carcerários".

 

Explora-se a desconfiança no retorno do egresso ao convívio social e reforça-se a convicção de que aumenta a impunidade.

Não são os únicos dados em desfavor da vida paulistana. Há também o exagerado aumento dos moradores de rua. São milhares, a ocupar todas as regiões da cidade. Acena-se com o seu cadastramento, paliativo insuficiente. A legião é heterogênea: há os desempregados, os portadores de anomalia mental, os drogados. Não há como sustentar o direito a "morar na rua". Via pública se destina à circulação.

Outro indício de cidade enferma é a sujeira. Se a produção de lixo é maior do que a de outras urbes de análoga dimensão mórbida, como deixar de concluir que o paulistano está em deficit de consciência ambiental? Fealdade transparece ainda na pichação, sintoma de metrópole mal amada. Não é reconhecida qual instância de acolhimento.

O vilipêndio com agressões estéticas é próprio a quem não nutre o sentimento de pertença.

Esgarçados os laços de solidariedade, prolifera a violência. O trânsito é o fenômeno mais típico. Além dos acidentes, o estresse de caótica paralisação e congestionamento, algo provável a qualquer hora.[grifo nosso]

Tudo sinaliza a situação agônica do convívio na megacidade. O otimista dirá não ser assim. Muita coisa ainda funciona, a despeito das disfunções. Todos os dias, milhões acordam longe do trabalho, servem-se de péssimo transporte público, perdem horas no trânsito, ganham mal e, a despeito disso, se comportam com civilidade.[grifo nosso]

A capital bandeirante paga por seus erros. Fez escolha equivocada ao mutilar sua paisagem, ao sepultar seus rios, canalizar seus córregos, impermeabilizar seu solo, arrancar suas árvores, secar suas várzeas. Nada poderia resultar de bom dessa política de arrasa-terra.

Persiste na vocação ecocida e dendroclasta, desrespeita sua história. Elimina marcos arquitetônicos. Desestimula a preservação, demole parâmetros e torna a população carente de referenciais.

A opção preferencial pelo automóvel desprezou o pedestre, ser miserável, posto a respirar gás carbônico e partículas cancerígenas. O ciclista é também insultado, ameaçado, atropelado e morto. [grifo nosso]

Tudo vai desaguar em apatia e resignação. Fraturados os laços simbólicos, descrê-se da política e das instituições. Presságio de uma sociedade enferma. Tribos distintas disputam o exotismo do insólito. Algumas perseguem e espancam minorias. E pensar que São Paulo já foi uma cidade civilizada.

Quem a conheceu há poucas décadas o testemunha.

Hoje está na UTI e precisa de cuidados urgentes. Não é só o poder público o responsável. A cidade é de todos, e ninguém está liberado de se empenhar no processo urgente de sua recuperação.

JOSÉ RENATO NALINI, mestre e doutor em direito constitucional pela USP, é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de "A Rebelião da Toga", 2ª ed., editora Millennium.










quarta-feira, 27 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA ... (3)

MOBILIDADE URBANA: PROBLEMA ANTIGO, NOVOS DESAFIOS  (3)

Vicente Deocleciano Moreira

Nesta terceira postagem da série MOBILIDADE URBANA: PROBLEMA ANTIGO, NOVOS DESAFIOS inicialmente destaco, dos comentários sobre "Sampa" (Caetano Veloso) postados ontem, terça-feira, o de número 23, escrito por Sérgio Soeiro em 6 de novembro de 2008. Tal destaque se deve ao fato de ter sido o único comentário que fez alguma alusão (ainda que en passant e indiretamente)  ao problema da MOBILIDADE URBANA na capital paulista.  Mas mesmo assim, vale a pena citá-lo integralmente pelas informações queo comentário oferece ao leitor.

Vamos ao comentário:

23.  
A despeito de “Sampa” ter sido composta no final dos anos 70, Caetano procurou colocar nos versos a primeira impressão que teve da grande metrópole quando lá desembarcou, ainda na década de 60. Vindo de um espaço ainda muito ligado à natureza, o baiano sentiu o estranhamento diante de tudo o que viu, e procurou mostrar o conflito estabelecido entre inocência versus ciência, com esta última tornando-se responsável pela destruição dos valores realmente humanos, do aniquilamento e da insignificância do homem na cidade. Este conflito fica bem evidente nos versos: “E foste um difícil começo (…) E quem vem de outro sonho feliz de cidade / Aprende depressa a chamar-te de realidade…”. Os versos de “Sampa” expressam o fascínio e a repulsa, o conflito diante do novo e desconhecido, deixando implícita a ambigüidade da questão: Seria a felicidade possível naquela cidade?
Conhecer seus segredos, seus mistérios, encantar-se com sua sedução, atingir o topo das realizações, enfim tornar realidade os seus sonhos, eis o que todos os migrantes esperam ao chegar em “Sampa”.
A emoção ao “cruzar a Ipiranga com a São João” se dá pelo fato que ele desceu do ônibus que veio do Rio de Janeiro cujo ponto final era exatamente naquela esquina. Diante dos seus olhos lá estavam a Cinelândia, o bar Jeca, e o Brahma.
No verso “Da dura poesia concreta e tuas esquinas…” ele faz uma homenagem aos poetas paulistanos criadores do movimento modernista, onde se incluía a poesia concreta.
“A deselegância discreta de tuas meninas…” Se dá pelo fato de que naquele tempo Caetano era uma figurinha um tanto quanto exótica, daí sua grande cabeleira ter chamado a atenção das meninas que cochichavam com risinhos discretos.
Enquanto atravessava a São João para a Ipiranga, ainda atônito, procurava na multidão um rosto com quem pudesse se identificar, e na sua visão tropicalista achou de mau gosto o jeito dos paulistanos, mas também faz uma auto-crítica e considera que o erro estético não está, necessariamente, nos paulistanos, mas sim nele mesmo, pois sua mente se “apavora no que ainda não é mesmo velho / nada do não era antes” (da visão que trazia da sua cidade) e que ele talvez ainda não seja capaz de alcançar aquela modernidade pois ainda não é um “mutante”, e aqui ele faz uma homenagem aos seus amigos do grupo “Mutantes”, bem como à Rita Lee.
Refeito do primeiro impacto, o sentimento seguinte foi de solidão, pois embora no meio da multidão, não encontrava a sua própria imagem refletida nas feições dos paulistanos.
Diante da realidade do momento acha que encontrou o avesso do que sonhava.
Para se justificar da decepção, fala do lado ruim do que vê: filas, poluição, o povo oprimido, da modernidade, o novo excluindo o antigo, tudo tão diferente da simplicidade da sua terra natal.
No verso “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…” quer mostrar a dualidade para o bem e para o mal que existe em tudo e em todos.
Quando cita “Panaméricas”, ele se refere a um amigo escritor paulistano, José Agripino de Paula, autor do livro “Panamérica”.
“Túmulo do samba” é uma expressão atribuída a Vinicius de Moraes que afirmava que os compositores paulistas não possuíam ritmo e gingado de sambistas, que batizou São Paulo como o túmulo do samba, e considerava que o único local onde se fazia samba de verdade era nos “Quilombos”.
E por fim já aclimatado com a garoa, ele, junto com seus amigos baianos, curtem “Sampa” numa boa.
Comentário by Sérgio Soeiro — 6 de novembro de 2008

***************

O que venha a ser mobilidade urbana não é tão claro à primeira vista e na visão do leigo, do senso comum. Ainda assim, vale observar que - mesmo sem ter a clareza dos conceitos e implicações do fenòmeno (mobilidade urbana) -  denunciam questões de mobilidade urbana tanto  "O trem atrasou", na primeira metade do século XX e "Sampa" na segunda.

Por outro lado, ainda que não haja uma percepção clara do problema,  todos independentemente do estrato social a que pertença, de algum modo sofrem com os problemas de mobilidade urbana de sua cidade. Quem dirige carro ou qualquer outro veículo (seja próprio, seja de alguma empresa), quem anda a pé; quem utiliza ônibus, trem, metrô ...

Alguém, algumas famílias podem até não sofrer diretamente com a falta de saneamento básico ou de deposição adequada  e seletiva  dos detritos; mas todos e todas as famílias são, por assim dizer, penalizadas pelos problemas de mobilidade urbana. Problemas que não atingem apenas capitais e cidades grandes ou médias. Também em cidades pequenas, por exemplo os "simples" fatos de não encontrar estacionamento fácil, cômodo e seguro no centro; ou, na periferia,  não ser servido por transporte regular, seguro e reconhecido por lei ... temos aí problemas de mobilidade urbana.

Deixando de lado a perspectiva sincrônica adotada até aqui, também um olhar diacrônico identificará problemas de mobilidade urbana no passado de qualquer cidade do mundo. Quando as cidades, historicamente, se constituiram enquanto tal pessoas vindas de diversos lugares (inclusive do campo), passaram a construir e ocupar casas, a construir socialidades e a produzir e comercializar bens (nas feiras, mercados, mercearias) .... todas atraídas pelas vantagens que imaginavam existir nos embrionários núcleos urbanos. Seja através do crescimento vegetativo, seja pelo incremento das massas migrantes, estes núcleos cresceram mais e mais a ponto de o 'andar a pé' de um local para o outro tornar-se um ato cada vez mais cansativo e dispendiosos de tempo e dinheiro.  Isto obrigou a produção de liteiras, cadeiras carregadas por escravos, o uso de animais de montaria e de carga e, depois, de veículos  iniclamente de tração animal (carruagens, bondes ...)  para uma mobilidade mais cômoda e econômica no interior do espaço urbano. (ver ilustração abaixo).

(carraugem individual e liteira no Brasil colonial)

Na Santo Amaro da Purificação (Bahia - Brasil), em pleno século XIX, eram puxados por animais os bondes da Companhia Trilhos Urbanos (ilustração  abaixo|)

(bonde urbano de tração animal)

As  cidades do passado tinham tamanho era reduzido ... comparativamente às de hoje em dia. Mas isto não significava ausência absoluta de problemas de mobilidade urbana já nos séculos passados ao menos no Brasil.


___________

(a série de postagens continua sexta-feira, dia 28 julho)

terça-feira, 26 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA ... (2)

MOBILIDADE URBANA:  VELHO ´PROBLEMA, NOVOS DESAFIOS (2)
[letra e comentários extraídos de Análise de Letras de Músicas]

SAMPA

Caetano Veloso


Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa



Alguma coisa acontece
No meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

25 Comentários »
1.    
Caetano relata a triste realidade dos imigrantes nordestinos, na maioria os baianos que chegam à cidade de São Paulo, tendo certa decepção, observando a dura poesia concreta das esquinas em que é observado um grande número de pessoas utilizando drogas, fazendo de praças e viadutos suas moradas, da deselegância das meninas que vêem a principal fonte de renda a prostituição.O imigrante nordestino chega e não consegue vê o que sempre viu em seus sonhos, que seria a facilidade em chegar e mudar de vida, chamando o que vê de mal gosto, fazendo uma analogia com o mito de Narciso, que só conseguia vê o que era belo quando via seu próprio rosto no espelho(lago), ou seja o resto tudo era feio, nordestino não consegui vê nada de belo, para ele tudo o que era visto era de mau gosto, e a mente apavora o que ainda não mesmo velho, ele ainda tinha a capacidade de se adaptar no lugar de grande urbanização, com novas culturas e novos costumes, apesar de não ser um mutante. É como todo começo é sempre difícil, principalmente que sempre viveu em cidade pacata do interior, terá que depressa entender a nova realidade, por que é do avesso, do avesso, do avesso, ou seja, o imigrante chega e descobre que era tudo diferente do que pensava, começou a observar que para tudo é fila, tudo é dificuldade, principalmente do povo que que vive nas favelas sem segurança e com condições subumanas de vida, achando o estilo de vida uma verdadeira opressão. A força da grana que ergue e destrói coisas belas são grandes construções como arranha-céus que destroem a natureza e causam impactos ambientais reduzindo áreas verdades e expulsando espécies de animais, sendo difícil acordar e ouvir canto de galo e passarinho. Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas, grande número de indústrias e veículos que liberam grande quantidade de fumaça contaminando o meio ambiente, impedindo que o céu estrelado seja visto de forma nítida. Na verdade devido a grande quantidade de negros baianos que chegam à São Paulo, Caetano chega a comparar São Paulo como novo quilombo de zumbi, e esses baianos apesar da dificuldades podem curtir a cidade numa boa.
Comentário by GRANDE GÓES — 14 de maio de 2011
2.    
A INTERPRETAÇÃO DAS MÚSICAS DO ARTISTA SÃO DIVERSAS, NO ENTANTO HÁ UM CONSENSO DENTRE O QUE ELE QUERIA DIZER EM MUITOS TRECHOS DAS MÚSICAS .TENHO DÚVIDAS EM MUITOS DESSES TRECHOS E SE ALGUÉM SOUBER GOSTARIA DE SABER. EX; ” PANAMÉRICAS DE ÁFRICAS UTÓPICAS , DEPOIS , MAIS POSSÍVEL QUILOMBO DE ZUMBI” ” E EU SUPERBACANA VOU SONHANDO ATÉ EXPLODIR COLORIDO NO SOL, NOS CINCO SENTIDOS NADA NO BOLSO OU NAS MÃOS UM INSTANTE MAESTRO SUPER-HOMEM SUPERFLIT SUPERVINC SUPERVIVA SUPERSHELL SUPERQUENTÃO ” QUERIA SABER O SIGNIFICADO É ISSO POR ENQUANTO
Comentário by FERNANDO — 16 de março de 2011
3.    
O que a maioria ainda não comentou é que essa música, além de uma “fábula” da migração de um nordestino a uma grande cidade, também é uma homenagem ao MODERNISMO. O eu-lírico, ao conhecer a cidade, não entende “a dura poesia concreta de tuas esquinas”, numa referência à poesia concreta (além da óbvia referência ao concreto do asfalto). “Quando te encarei frente a frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi…” se refere às más críticas que a feira de arte moderna recebeu na época da sua realização (em 1922). O eu-lírico a princípio não se identifica com a arte, mas aos poucos ele vai compreendendo. “a mente apavora o que não é nem mesmo velho” reflete isso: o medo do novo. O modernismo foi um movimento de mudanças radicais na arte, e Caetano aproveita para fazer a ponte com o movimento do qual ele mesmo fez parte, a TROPICÁLIA, que pode ser considerada um “revival” do modernismo na década de 60. Ele faz isso citando os Mutantes, fazendo um trocadilho com ser “mutável”, aberto a novas tendências. Os versos finais da música, porém, fogem um pouco do tema fazendo uma crítica social à cidade de São Paulo.
Comentário by Pedro Paulo — 13 de março de 2011
4.    
Ainda não havia para mim Rita Lee, no meu entender, refere-se à música “Minas de Sampa” de Rita Lee que, segundo Caetano, é a mais completa tradução das “tuas meninas”.
Comentário by Mess — 8 de fevereiro de 2011
5.    
filha de americano com uma cearence “Rita Lee Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução”
nem precisa explicar pq ,né?
Comentário by Carol — 24 de janeiro de 2011
6.    
” Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução” filha de amaricano com cearence Rita Lee se encaixa como a mais completa tradução.
Comentário by Carol — 24 de janeiro de 2011
7.    
Olá gente!

Olha… Acho q o termo “sertanejo” julgado por Elaine Graziele, se encaixaria melhor como nordestino mesmo! Sertanejo = Alguém que vem do Sertão. Diferente da Realidade de caetano!
Comentário by William (fonoaudiólogo) — 30 de julho de 2010
8.    
Essa música pode ser analisada sobre várias perspectivas, imigração, conseqüências da urbanização, desigualdade social… E muito mais… Sou professora de geografia e costumo usar essa música quando trato de espaço urbano. Os alunos analisam em conjunto a letra, mas cada vez sai uma nova analise para a letra de Caetano.
Comentário by Natalia — 18 de junho de 2010
9.    
Gostei da interpretação feita para esse poema. E gostria de dar uma pequena contribuição. Quando Caetano fala “Eu vejo surgir teus poetas
De campos e espaços” está fazendo uma homenagem aos poetas Augusto e Haroldo de Campos. É interessante notar também a sonoridade dos versos “…sonho feliz de cidade” que sugere a palavra “felicidade”
Comentário by Benedita — 7 de junho de 2010
10.  
olá!!acredito que com essa música caetano veloso queira mostrar a dura verdade de um sertanejo que vai tentar a vida numa cidade grande e quando lá chega se depara com uma realidade totalmente diferente da por si vivida até aquele momento.atenta ainda para o fato da dificuldade do começo de vida em uma metrópole principalmente quando não há indícios de identificação do mesmo com esta cidade,porém o compositor declara que quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a acostumar-se com a nova realidade.a partir do momento que este se acostuma com a nova vida passa a sofrer a triste desigualdade presente no país onde os menos favorecidos tendem a sofrer nas filas de emprego,nas vilas e até mesmo nas favelas,pois o desenvolviemnto industrial favoreceu apenas os já favorecidos.naum poderei deixar de relatar ainda que na quinta linha do penúltimo paragráfo caetano cita a poluição ambiental causada pela fumaça das fábricas se sobrepondo as estrelas do céu,e essa fumaça transforma os campos,florestas,poetas,deuses da chuva em utopias.e através dessas utopias é que os nordestinos,todos preconceituosamente chamados de baianos podem passear na garoa de sao paulo e a curtir numa boa!!!!
Comentário by elaine graziele — 22 de maio de 2010
11.  
Em “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…”
acredito que ele refere-se ao fato de São Paulo ser o centro econômico do país, o qual naquele período urbanizava-se cada vez mais, fato observado, por exemplo, através da expansão da mancha urbana, com a construção de casas, edifícios, ou seja, com toda a grana daquela cidade, destruíam coisas belas
(mata atlântica) e erguiam edifícios (também belos).
Comentário by Natalia — 3 de maio de 2010
12.  
muito boaah
Comentário by duhda — 13 de abril de 2010
13.  
o camarada ai acho que interpretou erroneamente essa parte dos “mutantes” pelo menos no meu entender a palavra mutantes leva o sentido de mutável : ou seja nada do que não era antes (nada de novo)quando não somos mutantes(mutáveis)

também no trecho “por que és o avesso do avesso do avesso do avesso” leia-se “por que és você mesmo”
quando estudei raciocínio lógico quantitativo aprendi que uma negação de negação é uma verdade logo quando ele disser avesso do avesso ele diz que não és o avesso, quando disse-lo três vezes pois será o avesso e quatro vezes volta a não ser o avesso sendo ele mesmo
Caetano conhecedor do assunto demonstra em sua letra que aos olhos leigos(Baianos) ela pode parecer complexa, fria, disritmizada ou seja o avesso de seu entendimento para boa cidade, mas quem a repara e sobre ela reflete percebe que mesmo com a aparência de avesso(demonstrada por 4 avessos)ela não o é.

espero ter ajudado!
Comentário by thiago machado — 9 de abril de 2010
14.  
Olá! envio por aqui um recado para sérgio, seria possível analisar letras de Carlinhos Brown? procuro analisar mas encontro uma grande dificuldade, se puder me ajudar ficarei grata. Obrigada!
Comentário by Priscila — 26 de março de 2010
15.  
Conhece o mito de Narciso? Narciso era um jovem rapaz que, um dia, mirando-se nas águas de um lago, viu sua própria imagem e, encantado com a beleza, ali ficou admirando-se. Um dia tentou tocá-la, caiu e morreu afogado. No local nasceu a flor a qual chamamos Narciso.
Caetano diz que “Narciso acha feio o que não é mesmo espelho”, o que quer dizer que Narciso acha feio o que não é a sua própria imagem. Relacionando à canção, isso mostra o estranhamento dele ao que vê em sua chegada a São Paulo.
Comentário by Norma Suely Perrut — 21 de março de 2010
16.  
Gente, no trecho : ” É que Narciso acha feio o que não é espelho ” … qual a interpretação para isso?
Comentário by Kαmilα — 18 de fevereiro de 2010
17.  
Gostaria apenas de acrescentar sobre a frase “E os novos baianos te podem curtir numa boa” ..Um duplo sentido, Os Novos Baianos,(Baby, Pepeu, Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor), grupo da Bahia que recentemente também chegara em São Paulo e que aqui, em São Paulo, todo nordestino, preconceituosamente é chamado de baiano.
Comentário by José Aparecido — 24 de janeiro de 2010
18.  
Linda a letra, amei a interpreteção também. Gosto de pensar que “nada do que não era antes quando não somos mutantes” além da homenagem ao grupo, também refere-se a uma sensação experimentada pelos migrantes, imigrantes, ao chegarem à sua nova cidade, seu novo destino… não é fácil, tornamo-nos mutantes, é algo que não volta mais para trás. Antes não éramos mutantes, ou não nos percebíamos como tal. É uma sensação assustadoramente nova, daí o “a mente apavora o que não é mesmo velho…”
Comentário by Jorge João Grego — 20 de novembro de 2009
19.  
Tuas oficinas de florestas é uma referência ao Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Correia, outra marca paulistana.
Comentário by Gustavo Monteiro — 4 de agosto de 2009
20.  
concordo com a isabel,comentarios do Sérgio sao os melhores..
me manda mais e-mail Sérgio.
Comentário by fellipe.a.ferreira — 2 de junho de 2009
21.  
Isabel, boa tarde.
Olha, fico completamente envaidecido pelas gentis palavras de apoio. Muito obrigado, MESMO!. É gratificante saber que algo que fazemos com tanto prazer lhe esteja sendo útil. Acredite, faço isto por puro hobby. De tão apaixonado por música, desde bem novinho fuçava tudo que estivesse ao meu alcance para fazer pesquisas sobre meus ídolos e sobre as idéias que me inquietavam. Quanto mais carregadas de metáforas, maior era o desafio de desvendá-las, e, lógico, maior a satisfação. Mas não há nada de acadêmico nesse processo; eu apenas pesquiso e procuro colocar a minha visão. Creio que os autores preferem assim. Você não vai acreditar: trabalho com Engenharia Elétrica. Não é meu sonho, claro, mas tudo o que consegui até hoje devo à minha profissão. Se um dia eu ficar rico, me dedicarei mais às letras.
Um abraço.
PS: Se houver alguma letra de música que você deseje desvendar, terei prazer (se estiver ao meu alcance, claro) em ajudá-la.
Comentário by Sérgio Soeiro — 28 de maio de 2009
22.  
Gostaria de deixar aqui registrado que os comentários de Sérgio Soeiro são maravilhosos e nunca deixe de comentar.Tenho difilculdade de interpretação mais estou tentando melhorar, ou aprender se isso é possível.Só tenho uma curiosidade Sérgio trabalha em qual área????
Comentário by isabel — 27 de maio de 2009
23.  
A despeito de “Sampa” ter sido composta no final dos anos 70, Caetano procurou colocar nos versos a primeira impressão que teve da grande metrópole quando lá desembarcou, ainda na década de 60. Vindo de um espaço ainda muito ligado à natureza, o baiano sentiu o estranhamento diante de tudo o que viu, e procurou mostrar o conflito estabelecido entre inocência versus ciência, com esta última tornando-se responsável pela destruição dos valores realmente humanos, do aniquilamento e da insignificância do homem na cidade. Este conflito fica bem evidente nos versos: “E foste um difícil começo (…) E quem vem de outro sonho feliz de cidade / Aprende depressa a chamar-te de realidade…”. Os versos de “Sampa” expressam o fascínio e a repulsa, o conflito diante do novo e desconhecido, deixando implícita a ambigüidade da questão: Seria a felicidade possível naquela cidade?
Conhecer seus segredos, seus mistérios, encantar-se com sua sedução, atingir o topo das realizações, enfim tornar realidade os seus sonhos, eis o que todos os migrantes esperam ao chegar em “Sampa”.
A emoção ao “cruzar a Ipiranga com a São João” se dá pelo fato que ele desceu do ônibus que veio do Rio de Janeiro cujo ponto final era exatamente naquela esquina. Diante dos seus olhos lá estavam a Cinelândia, o bar Jeca, e o Brahma.
No verso “Da dura poesia concreta e tuas esquinas…” ele faz uma homenagem aos poetas paulistanos criadores do movimento modernista, onde se incluía a poesia concreta.
“A deselegância discreta de tuas meninas…” Se dá pelo fato de que naquele tempo Caetano era uma figurinha um tanto quanto exótica, daí sua grande cabeleira ter chamado a atenção das meninas que cochichavam com risinhos discretos.
Enquanto atravessava a São João para a Ipiranga, ainda atônito, procurava na multidão um rosto com quem pudesse se identificar, e na sua visão tropicalista achou de mau gosto o jeito dos paulistanos, mas também faz uma auto-crítica e considera que o erro estético não está, necessariamente, nos paulistanos, mas sim nele mesmo, pois sua mente se “apavora no que ainda não é mesmo velho / nada do não era antes” (da visão que trazia da sua cidade) e que ele talvez ainda não seja capaz de alcançar aquela modernidade pois ainda não é um “mutante”, e aqui ele faz uma homenagem aos seus amigos do grupo “Mutantes”, bem como à Rita Lee.
Refeito do primeiro impacto, o sentimento seguinte foi de solidão, pois embora no meio da multidão, não encontrava a sua própria imagem refletida nas feições dos paulistanos.
Diante da realidade do momento acha que encontrou o avesso do que sonhava.
Para se justificar da decepção, fala do lado ruim do que vê: filas, poluição, o povo oprimido, da modernidade, o novo excluindo o antigo, tudo tão diferente da simplicidade da sua terra natal.
No verso “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…” quer mostrar a dualidade para o bem e para o mal que existe em tudo e em todos.
Quando cita “Panaméricas”, ele se refere a um amigo escritor paulistano, José Agripino de Paula, autor do livro “Panamérica”.
“Túmulo do samba” é uma expressão atribuída a Vinicius de Moraes que afirmava que os compositores paulistas não possuíam ritmo e gingado de sambistas, que batizou São Paulo como o túmulo do samba, e considerava que o único local onde se fazia samba de verdade era nos “Quilombos”.
E por fim já aclimatado com a garoa, ele, junto com seus amigos baianos, curtem “Sampa” numa boa.
Comentário by Sérgio Soeiro — 6 de novembro de 2008
24.  
gostaria de saber mais sobre as analogias e metáfora dessa letra
Comentário by BEb — 5 de novembro de 2008
25.  
linda
Comentário by Sandra — 8 de outubro de 2008