quarta-feira, 6 de julho de 2011

RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRAD. E RUPTURA (4)

RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRADIÇÃO  E RUPTURA (4)



Vicente D. Moreira

A chamada "guerra dos sexos" tem tido como cenário privilegiado o trânsito de veículos  nas ruas urbanas. Essa guerra não é tão 'sangrenta' e devastadora a ponto de  não haver lugar sequer  para, como diria segundo   Durkheim,  a solidariedade  mecânica. Mas, devemos reconhecer que a solidariedade orgânica (ainda Durkheim) é mais vigorosa na ecologia humana das ruas rurais.

Homens e mulheres dirigindo, livremente (e coflituosamente), nas cidades têm elaborado - ao menos nas ruas das grandes e médias cidades brasileiras - uma socialidade mais propensa à disputa que à concórdia. O trânsito urbano, para além das estatísticas dos acidentes e respectivos óbitos e mutilações, supera os demais cenários e frontes da "guerra dos sexos" ... uma 'guerra' que não precisa de clangores e gritos para causar lesões de toda a ordem. Interessa-nos, aqui, as lesões de ordem simbólica.

Não somente os homens são agressivos; mulheres tambem o são. Tal reciprocidade belicista não é estranha a nenhum tipo de guerra: da militar  à conjugal (mais privativa, talvez), passando pelas ruas das cidades. Sabemos que esses três tipos (militar, conjugal, guerra das ruas) podem acontercer - sim - a céu aberto, nos domínios das ruas.  Essa reciprocidade porém, não consegue camuflar o exercício do poder  masculino na rua urbana.


Guerra verbal, homens ao volante acusam mulheres motoristas de "não saber dirigir nem estacionar", "lentidão", "insegurança" daí não darem passagem, 'não usam seteiras, 'não facilitam', 'são medrosas ... E mulheres os consideram "machões", "irresponsáveis", "preconceituosos e arrogantes", "destemidos e autoconfiantes em excesso" ...


A primeira instância de  divisão econômica ou socioeconômica de que se tem notícia foi a sexual. Ela marca as primeiros modos produtivos e o formato inicial da divisão do trabalho. Homens e mulheres faziam atividades diferentes e produziam bens diferentemente iniclamente tendo como base a maior força fíisica e massa muscular de um (o homem) e a menor (a mulher). Estamos falando da divisão sexual do trabalho. Os homens estavam fisicamente destinados à guerra, à caça de grandes animais, enfim aos trabalhos que exigiam maior força física. Às mulheres, quase sempre grávidas  desde  após a primeira menstruação,  a criação de aves e de pequenos animais domésticos, a horticultura, as tarefas culinárias, a presença pontual e assídua no nascimento de crianças e no velório de idosoos ou de jovens vitimados pelas gueras e pela caça floresta a dentro.

Enquanto os homens, de então, dispunham da RUA (territórios de guerra, de conquistas e de caça ... sempre longe de casa, do domicílio), as mulheres se dedicavam a afazeres que não as afastavam da casa e dos filhos. Quando, mais tarde, a força física natural do homem foi transformada em superioridade ideológica  e justificativa para o exercício autoritário do poder sobre elas e toda a comubnidade, os homens elaboraram  discursos que os colocavam, eles mesmos, como 'senhor e rei da rua', 'senhor de liberdade', 'senhor do azul do céu como se fora um pássaro sempre livre a voar.

Para as mulheres, o título de 'rainha do lar', 'mãe amantíssima' e sempre disposta,  com alegria, a sacrificar-se pelo marido, pelos filhos. A elas, a cor rosa da 'eterna inocência', da cor da alvorada que tinge as primeiras horas do árduo trabalho doméstico. A cor rosa do crepúsculo ... da espera da noite e da volta do marido, do companheiro.

Quando a ultrassonografia revela o sexo do bebê, o enxoval  é logo comprado, chovem presentes. Se for menino, enxoval azul; se for menina, enxoval rosa .






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