quinta-feira, 7 de julho de 2011

RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRAD. E RUPTURA (5)


·  RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRADIÇAO E RUPTURA  (5)

Revista
Estudos Feministas
Print version ISSN 0104-026X
Rev. Estud. Fem. vol.15 no.2 Florianópolis May/Aug. 2007
doi: 10.1590/S0104-026X2007000200018 

RESENHAS
Mulheres públicas, políticas de mulheres
Claudia Regina Nichnig
Universidade Federal de Santa Catarina

Mulheres em ação: práticas discursivas, práticas políticas.


SWAIN, Tania Navarro; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo (Orgs.). Florianópolis: Ed. Mulheres; Belo Horizonte: Ed. da PUC Minas, 2005. 360 p.
Tania Navarro Swain e Diva do Couto Gontijo Muniz organizam a obra Mulheres em ação: práticas discursivas, práticas políticas. Professoras do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília, as historiadoras estão à frente desse trabalho interdiscisplinar, composto por 13 textos de pesquisadoras de áreas diversas, em sua maioria historiadoras, que concentram seus trabalhos nas temáticas de gênero e estudos feministas.
Permeada por temas variados, a obra aborda como as diferenças culturais entre homens e mulheres impõem lugares e práticas diversas para os gêneros, determinando e modelando os sujeitos de acordo com o seu gênero.1 Pela forma de abordagem, a obra encontra-se dentro dos estudos da História Cultural.
Contrapondo-se às normas, costumes e práticas sociais impostas, os movimentos feministas do século XX repercutem os anseios de mulheres confinadas no espaço privado, também entendido no trabalho como uma construção discursiva; seguem para o espaço público e transformam o social, lutando em face de aparelhos reguladores como a legislação, a escola, a escrita literária, as revistas femininas, entre outros.2 As autoras de Mulheres em ação contam, a partir de uma perspectiva de gênero, a história de mulheres relegadas à invisibilidade, suas práticas e suas demandas.3
A socióloga Almira Rodrigues, em "Lugar de mulher é na política: um desafio para o século XXI", trata de questões relacionadas às práticas políticas de mulheres. Considera que "todas as relações sociais são relações de poder, e as relações interpessoais são também relações sociais" (p. 16), entendidas como campos políticos, pois reguladas pela legislação e políticas públicas.44 Ao afirmar que o sexo é político, pois contém também relações de poder, o feminismo rompe com os modelos políticos tradicionais, que atribuem uma neutralidade ao espaço individual e que definem como política unicamente a esfera pública, 'objetiva'. Dessa forma, o discurso feminista, ao apontar para o caráter também subjetivo da opressão, e para os aspectos emocionais da consciência, revela os laços existentes entre as relações interpessoais e a organização política pública (Branca Moreira ALVES e Jaqueline PITANGUY, 1991, p. 8).
Assim, Almira Rodrigues analisa a participação ínfima das mulheres na política brasileira e mundial e argumenta a necessidade de implantação de ações afirmativas para mudanças nesse cenário político. Analisa a incorporação das reivindicações dos movimentos feministas por partidos políticos e políticas públicas, acreditando na possibilidade real de mudança com as mulheres no poder, contribuindo para a construção de uma igualdade entre os gêneros e "para rupturas com visões fundamentalistas, sexistas, racistas, preconceituosas e discriminatórias" (p. 33). Apesar da importância da discussão trazida por Rodrigues, ela não apresenta com clareza as fontes utilizadas em sua pesquisa.
A maternidade como essência do feminino é debatida por Cristina Maria Teixeira Stevens em "Maternidade e literatura: descontruindo mitos". A autora analisa o discurso presente em obras, principalmente da literatura inglesa, algumas delas dialogando com o discurso da psicanálise, que consideram a maternidade como local de poder e opressão. Longe de ser um tema pacífico, até nos movimentos feministas, a maternidade é pensada não como um acontecimento biológico, mas como uma construção social, a partir das obras analisadas pela autora.
A problemática do corpo também está presente, com o texto "O campo da saúde coletiva à luz das relações de gênero: um diálogo difícil e conflituoso". A partir de recortes de gênero, Eleonora Menicucci de Oliveira e Wilza Vilela, dialogando com teóricos como Michel Foucault e Félix Guattari, tratam de desconstruir o binômio corpo feminino/corpo doente, em que o corpo feminino é desqualificado, pois o patológico o que não é normal é aquele que precisa ser regulado, medicalizado, controlado. A categoria "gênero" é útil para a análise dos processos de adoecimento, que se apresenta de forma diferente para homens e mulheres. O crescente número de mulheres vítimas de enfermidades mentais, de lesões por esforços repetitivos (LER), AIDS, entre outras, aponta uma maior exposição a fatores de risco e vulnerabilidade, o que demonstra a presença de discriminações de gênero no interior do discurso médico e das práticas de saúde.
As escolas como locais que reforçam as desigualdades de gênero é o tema apresentado nos textos de Diva do Couto Gontijo Muniz e Marie Jane Carvalho. "Mulheres, trabalho e educação: marcas de uma prática política", texto de Diva Muniz, mostra, a partir de uma pesquisa histórica realizada com professoras de Minas Gerais dos séculos XIX e XX, como o alcance das mulheres tanto aos bancos escolares como ao exercício do magistério foi marcado por questões de gênero. A autora percebe como os corpos das professoras foram moldados por redes de poder, presentes nos discursos, práticas e códigos das instituições escolares. Mostra também como as professoras mineiras apresentaram resistência aos processos de construção de subjetividades.

(AMANHÃ, A SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE DESTE ARTIGO)

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