sábado, 9 de julho de 2011

RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRAD. E RUPTURA (7)

RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRADIÇÃO  E RUPTURA (7)

"Deixaste de ser mãe para ser mulher da rua"
("Amor Fingido" - Silvinho)
Vicente Deocleciano Moreira
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Nota do Blogue
Hoje além segunda e terça próximas estarermos postando,  dentro da série RUA URBANA, ESPAÇO MASCULINO: TRADIÇÃO . E RUPTURA,  textos da minha autoria que farão uso reflexivo do imaginário transitado por três obras primas da MPB (Música Popular Brasileira). Nestas composições, a mulher rompe com a tradição da rua como espaço masculino ... mas paga um preço por tamnha ousadia: ser qualifiicada como prostituta, vadia, pecadora, doidivana, mulher afeita aos prazeres da orgia  - prazeres considerados marcada e tradiconalmente masculinos, acrescente-se.

Hoje, "Amor Fingido", de Silvinho (nascido na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro - Brasil, em 1930 ou 1931).

Segunda-feira, dia dia 11, "Oh! Seu Oscar", de Wilson Batista  (nasceu em Campos - Rio de Janeiro, em 1913) e Ataulfo Alves (nasceu em Miraí, Minas Gerais - Brasil - 1909; faleceu no Rio de Jasneiro em 1969)

Terça-feira, "Sob medida" de Chico Buarque de Hollanda, nascido no Rio de Janeiro em 1944.

Vamos juntos,

Vicente

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AMOR FINGIDO
Silvinho
Fingi, você não sabe porque
A dor que estais sentindo sei que preferes morrer
Falaram mal de mim quisera acreditar
Agora pede clemência arrependida quer voltar
Agora é tarde, há de pagar o seu pecado
Pois um amor fingido nunca deve ser perdoado
Fingindo, fosse cumprir o seu destino
Esnobando seu amor por cabarés e cassinos
Fingida está para sempre mas a culpa foi sua
Deixaste de ser mãe para ser mulher da rua
Mas se um dia voltares não te darei o meu carinho
As mulheres são falsas prefiro viver sozinho

Já no título, "Amor Fingido", a conta da mulher como o ser feminino. Feminino, em seu significado original, quer dizer Fé de menos, menos merecedor de fé. 'Fingida'. A mulher faz enigma para o mundo, para o homem. Faz enigma para a outra mulher.

Da mulher, quanto mais se fala menos se diz. "Fica louco quem quer entender a mulher" ... um dito popular brasileiro,

"O que quer uma mulher?" - indagou Freud e os pós-freudianos. Em uma conferência, na década de  30 (século XX), alguém da platéia pediu: "Doutor Freud, fale-nos sobre a mulher!". Ele respondeu: "Sobre a mulher, perguntem aos poetas".
Na composição de Silvinho, o  sujeito lírico é (em princípio) masculino; é o  'juiz' e o 'senhor  das ruas' que não perdoa - ao contrário, condena! -  a companheira arrependida por ter "deixado de ser mãe para ser mulher da rua". O antagonismo mãe X mulher da rua, lavrado como inconciliável, minera a dicotomia  santa (a mãe, a noiva, a esposa, a 'rainha do  lar') X puta (a mulher da vida, a mulher da rua, a vagabunda ... a prostituta).
Na cabeça da maioria dos homens, a esposa é a 'mãe', a 'santa' ... é aquela com quem se faz amor convencional ("papai/mamãe") em  que nem tudo pode ser feito ... como por exemplo felação e sexo anal. A amante, eventual ou contumaz, é a 'puta' ... aquela que faz tudo: geme e grita, faz sexo anal, sexo oral, poses acrobáticas e 'kamasútricas'.
Na medida em que  a rua urbana é espaço tradicionalmente masculino, quando  ela vai  para a rua (expulsa do lar ou  por vontade própria), quando ela  querer  de modo "ilegítimo" ocupar esse espaço DO homem ai (!) dessa 'louca' que se atreve a   falar desse lugar, a viver nesse lugar ... a rua urbana.
Outro brasileiro  dito  popular nos ajuda: "CABEÇA QUE NÃO TEM JUÍZO  O   CORPO PAGA"

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