terça-feira, 26 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA ... (2)

MOBILIDADE URBANA:  VELHO ´PROBLEMA, NOVOS DESAFIOS (2)
[letra e comentários extraídos de Análise de Letras de Músicas]

SAMPA

Caetano Veloso


Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa



Alguma coisa acontece
No meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

25 Comentários »
1.    
Caetano relata a triste realidade dos imigrantes nordestinos, na maioria os baianos que chegam à cidade de São Paulo, tendo certa decepção, observando a dura poesia concreta das esquinas em que é observado um grande número de pessoas utilizando drogas, fazendo de praças e viadutos suas moradas, da deselegância das meninas que vêem a principal fonte de renda a prostituição.O imigrante nordestino chega e não consegue vê o que sempre viu em seus sonhos, que seria a facilidade em chegar e mudar de vida, chamando o que vê de mal gosto, fazendo uma analogia com o mito de Narciso, que só conseguia vê o que era belo quando via seu próprio rosto no espelho(lago), ou seja o resto tudo era feio, nordestino não consegui vê nada de belo, para ele tudo o que era visto era de mau gosto, e a mente apavora o que ainda não mesmo velho, ele ainda tinha a capacidade de se adaptar no lugar de grande urbanização, com novas culturas e novos costumes, apesar de não ser um mutante. É como todo começo é sempre difícil, principalmente que sempre viveu em cidade pacata do interior, terá que depressa entender a nova realidade, por que é do avesso, do avesso, do avesso, ou seja, o imigrante chega e descobre que era tudo diferente do que pensava, começou a observar que para tudo é fila, tudo é dificuldade, principalmente do povo que que vive nas favelas sem segurança e com condições subumanas de vida, achando o estilo de vida uma verdadeira opressão. A força da grana que ergue e destrói coisas belas são grandes construções como arranha-céus que destroem a natureza e causam impactos ambientais reduzindo áreas verdades e expulsando espécies de animais, sendo difícil acordar e ouvir canto de galo e passarinho. Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas, grande número de indústrias e veículos que liberam grande quantidade de fumaça contaminando o meio ambiente, impedindo que o céu estrelado seja visto de forma nítida. Na verdade devido a grande quantidade de negros baianos que chegam à São Paulo, Caetano chega a comparar São Paulo como novo quilombo de zumbi, e esses baianos apesar da dificuldades podem curtir a cidade numa boa.
Comentário by GRANDE GÓES — 14 de maio de 2011
2.    
A INTERPRETAÇÃO DAS MÚSICAS DO ARTISTA SÃO DIVERSAS, NO ENTANTO HÁ UM CONSENSO DENTRE O QUE ELE QUERIA DIZER EM MUITOS TRECHOS DAS MÚSICAS .TENHO DÚVIDAS EM MUITOS DESSES TRECHOS E SE ALGUÉM SOUBER GOSTARIA DE SABER. EX; ” PANAMÉRICAS DE ÁFRICAS UTÓPICAS , DEPOIS , MAIS POSSÍVEL QUILOMBO DE ZUMBI” ” E EU SUPERBACANA VOU SONHANDO ATÉ EXPLODIR COLORIDO NO SOL, NOS CINCO SENTIDOS NADA NO BOLSO OU NAS MÃOS UM INSTANTE MAESTRO SUPER-HOMEM SUPERFLIT SUPERVINC SUPERVIVA SUPERSHELL SUPERQUENTÃO ” QUERIA SABER O SIGNIFICADO É ISSO POR ENQUANTO
Comentário by FERNANDO — 16 de março de 2011
3.    
O que a maioria ainda não comentou é que essa música, além de uma “fábula” da migração de um nordestino a uma grande cidade, também é uma homenagem ao MODERNISMO. O eu-lírico, ao conhecer a cidade, não entende “a dura poesia concreta de tuas esquinas”, numa referência à poesia concreta (além da óbvia referência ao concreto do asfalto). “Quando te encarei frente a frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi…” se refere às más críticas que a feira de arte moderna recebeu na época da sua realização (em 1922). O eu-lírico a princípio não se identifica com a arte, mas aos poucos ele vai compreendendo. “a mente apavora o que não é nem mesmo velho” reflete isso: o medo do novo. O modernismo foi um movimento de mudanças radicais na arte, e Caetano aproveita para fazer a ponte com o movimento do qual ele mesmo fez parte, a TROPICÁLIA, que pode ser considerada um “revival” do modernismo na década de 60. Ele faz isso citando os Mutantes, fazendo um trocadilho com ser “mutável”, aberto a novas tendências. Os versos finais da música, porém, fogem um pouco do tema fazendo uma crítica social à cidade de São Paulo.
Comentário by Pedro Paulo — 13 de março de 2011
4.    
Ainda não havia para mim Rita Lee, no meu entender, refere-se à música “Minas de Sampa” de Rita Lee que, segundo Caetano, é a mais completa tradução das “tuas meninas”.
Comentário by Mess — 8 de fevereiro de 2011
5.    
filha de americano com uma cearence “Rita Lee Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução”
nem precisa explicar pq ,né?
Comentário by Carol — 24 de janeiro de 2011
6.    
” Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução” filha de amaricano com cearence Rita Lee se encaixa como a mais completa tradução.
Comentário by Carol — 24 de janeiro de 2011
7.    
Olá gente!

Olha… Acho q o termo “sertanejo” julgado por Elaine Graziele, se encaixaria melhor como nordestino mesmo! Sertanejo = Alguém que vem do Sertão. Diferente da Realidade de caetano!
Comentário by William (fonoaudiólogo) — 30 de julho de 2010
8.    
Essa música pode ser analisada sobre várias perspectivas, imigração, conseqüências da urbanização, desigualdade social… E muito mais… Sou professora de geografia e costumo usar essa música quando trato de espaço urbano. Os alunos analisam em conjunto a letra, mas cada vez sai uma nova analise para a letra de Caetano.
Comentário by Natalia — 18 de junho de 2010
9.    
Gostei da interpretação feita para esse poema. E gostria de dar uma pequena contribuição. Quando Caetano fala “Eu vejo surgir teus poetas
De campos e espaços” está fazendo uma homenagem aos poetas Augusto e Haroldo de Campos. É interessante notar também a sonoridade dos versos “…sonho feliz de cidade” que sugere a palavra “felicidade”
Comentário by Benedita — 7 de junho de 2010
10.  
olá!!acredito que com essa música caetano veloso queira mostrar a dura verdade de um sertanejo que vai tentar a vida numa cidade grande e quando lá chega se depara com uma realidade totalmente diferente da por si vivida até aquele momento.atenta ainda para o fato da dificuldade do começo de vida em uma metrópole principalmente quando não há indícios de identificação do mesmo com esta cidade,porém o compositor declara que quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a acostumar-se com a nova realidade.a partir do momento que este se acostuma com a nova vida passa a sofrer a triste desigualdade presente no país onde os menos favorecidos tendem a sofrer nas filas de emprego,nas vilas e até mesmo nas favelas,pois o desenvolviemnto industrial favoreceu apenas os já favorecidos.naum poderei deixar de relatar ainda que na quinta linha do penúltimo paragráfo caetano cita a poluição ambiental causada pela fumaça das fábricas se sobrepondo as estrelas do céu,e essa fumaça transforma os campos,florestas,poetas,deuses da chuva em utopias.e através dessas utopias é que os nordestinos,todos preconceituosamente chamados de baianos podem passear na garoa de sao paulo e a curtir numa boa!!!!
Comentário by elaine graziele — 22 de maio de 2010
11.  
Em “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…”
acredito que ele refere-se ao fato de São Paulo ser o centro econômico do país, o qual naquele período urbanizava-se cada vez mais, fato observado, por exemplo, através da expansão da mancha urbana, com a construção de casas, edifícios, ou seja, com toda a grana daquela cidade, destruíam coisas belas
(mata atlântica) e erguiam edifícios (também belos).
Comentário by Natalia — 3 de maio de 2010
12.  
muito boaah
Comentário by duhda — 13 de abril de 2010
13.  
o camarada ai acho que interpretou erroneamente essa parte dos “mutantes” pelo menos no meu entender a palavra mutantes leva o sentido de mutável : ou seja nada do que não era antes (nada de novo)quando não somos mutantes(mutáveis)

também no trecho “por que és o avesso do avesso do avesso do avesso” leia-se “por que és você mesmo”
quando estudei raciocínio lógico quantitativo aprendi que uma negação de negação é uma verdade logo quando ele disser avesso do avesso ele diz que não és o avesso, quando disse-lo três vezes pois será o avesso e quatro vezes volta a não ser o avesso sendo ele mesmo
Caetano conhecedor do assunto demonstra em sua letra que aos olhos leigos(Baianos) ela pode parecer complexa, fria, disritmizada ou seja o avesso de seu entendimento para boa cidade, mas quem a repara e sobre ela reflete percebe que mesmo com a aparência de avesso(demonstrada por 4 avessos)ela não o é.

espero ter ajudado!
Comentário by thiago machado — 9 de abril de 2010
14.  
Olá! envio por aqui um recado para sérgio, seria possível analisar letras de Carlinhos Brown? procuro analisar mas encontro uma grande dificuldade, se puder me ajudar ficarei grata. Obrigada!
Comentário by Priscila — 26 de março de 2010
15.  
Conhece o mito de Narciso? Narciso era um jovem rapaz que, um dia, mirando-se nas águas de um lago, viu sua própria imagem e, encantado com a beleza, ali ficou admirando-se. Um dia tentou tocá-la, caiu e morreu afogado. No local nasceu a flor a qual chamamos Narciso.
Caetano diz que “Narciso acha feio o que não é mesmo espelho”, o que quer dizer que Narciso acha feio o que não é a sua própria imagem. Relacionando à canção, isso mostra o estranhamento dele ao que vê em sua chegada a São Paulo.
Comentário by Norma Suely Perrut — 21 de março de 2010
16.  
Gente, no trecho : ” É que Narciso acha feio o que não é espelho ” … qual a interpretação para isso?
Comentário by Kαmilα — 18 de fevereiro de 2010
17.  
Gostaria apenas de acrescentar sobre a frase “E os novos baianos te podem curtir numa boa” ..Um duplo sentido, Os Novos Baianos,(Baby, Pepeu, Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor), grupo da Bahia que recentemente também chegara em São Paulo e que aqui, em São Paulo, todo nordestino, preconceituosamente é chamado de baiano.
Comentário by José Aparecido — 24 de janeiro de 2010
18.  
Linda a letra, amei a interpreteção também. Gosto de pensar que “nada do que não era antes quando não somos mutantes” além da homenagem ao grupo, também refere-se a uma sensação experimentada pelos migrantes, imigrantes, ao chegarem à sua nova cidade, seu novo destino… não é fácil, tornamo-nos mutantes, é algo que não volta mais para trás. Antes não éramos mutantes, ou não nos percebíamos como tal. É uma sensação assustadoramente nova, daí o “a mente apavora o que não é mesmo velho…”
Comentário by Jorge João Grego — 20 de novembro de 2009
19.  
Tuas oficinas de florestas é uma referência ao Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Correia, outra marca paulistana.
Comentário by Gustavo Monteiro — 4 de agosto de 2009
20.  
concordo com a isabel,comentarios do Sérgio sao os melhores..
me manda mais e-mail Sérgio.
Comentário by fellipe.a.ferreira — 2 de junho de 2009
21.  
Isabel, boa tarde.
Olha, fico completamente envaidecido pelas gentis palavras de apoio. Muito obrigado, MESMO!. É gratificante saber que algo que fazemos com tanto prazer lhe esteja sendo útil. Acredite, faço isto por puro hobby. De tão apaixonado por música, desde bem novinho fuçava tudo que estivesse ao meu alcance para fazer pesquisas sobre meus ídolos e sobre as idéias que me inquietavam. Quanto mais carregadas de metáforas, maior era o desafio de desvendá-las, e, lógico, maior a satisfação. Mas não há nada de acadêmico nesse processo; eu apenas pesquiso e procuro colocar a minha visão. Creio que os autores preferem assim. Você não vai acreditar: trabalho com Engenharia Elétrica. Não é meu sonho, claro, mas tudo o que consegui até hoje devo à minha profissão. Se um dia eu ficar rico, me dedicarei mais às letras.
Um abraço.
PS: Se houver alguma letra de música que você deseje desvendar, terei prazer (se estiver ao meu alcance, claro) em ajudá-la.
Comentário by Sérgio Soeiro — 28 de maio de 2009
22.  
Gostaria de deixar aqui registrado que os comentários de Sérgio Soeiro são maravilhosos e nunca deixe de comentar.Tenho difilculdade de interpretação mais estou tentando melhorar, ou aprender se isso é possível.Só tenho uma curiosidade Sérgio trabalha em qual área????
Comentário by isabel — 27 de maio de 2009
23.  
A despeito de “Sampa” ter sido composta no final dos anos 70, Caetano procurou colocar nos versos a primeira impressão que teve da grande metrópole quando lá desembarcou, ainda na década de 60. Vindo de um espaço ainda muito ligado à natureza, o baiano sentiu o estranhamento diante de tudo o que viu, e procurou mostrar o conflito estabelecido entre inocência versus ciência, com esta última tornando-se responsável pela destruição dos valores realmente humanos, do aniquilamento e da insignificância do homem na cidade. Este conflito fica bem evidente nos versos: “E foste um difícil começo (…) E quem vem de outro sonho feliz de cidade / Aprende depressa a chamar-te de realidade…”. Os versos de “Sampa” expressam o fascínio e a repulsa, o conflito diante do novo e desconhecido, deixando implícita a ambigüidade da questão: Seria a felicidade possível naquela cidade?
Conhecer seus segredos, seus mistérios, encantar-se com sua sedução, atingir o topo das realizações, enfim tornar realidade os seus sonhos, eis o que todos os migrantes esperam ao chegar em “Sampa”.
A emoção ao “cruzar a Ipiranga com a São João” se dá pelo fato que ele desceu do ônibus que veio do Rio de Janeiro cujo ponto final era exatamente naquela esquina. Diante dos seus olhos lá estavam a Cinelândia, o bar Jeca, e o Brahma.
No verso “Da dura poesia concreta e tuas esquinas…” ele faz uma homenagem aos poetas paulistanos criadores do movimento modernista, onde se incluía a poesia concreta.
“A deselegância discreta de tuas meninas…” Se dá pelo fato de que naquele tempo Caetano era uma figurinha um tanto quanto exótica, daí sua grande cabeleira ter chamado a atenção das meninas que cochichavam com risinhos discretos.
Enquanto atravessava a São João para a Ipiranga, ainda atônito, procurava na multidão um rosto com quem pudesse se identificar, e na sua visão tropicalista achou de mau gosto o jeito dos paulistanos, mas também faz uma auto-crítica e considera que o erro estético não está, necessariamente, nos paulistanos, mas sim nele mesmo, pois sua mente se “apavora no que ainda não é mesmo velho / nada do não era antes” (da visão que trazia da sua cidade) e que ele talvez ainda não seja capaz de alcançar aquela modernidade pois ainda não é um “mutante”, e aqui ele faz uma homenagem aos seus amigos do grupo “Mutantes”, bem como à Rita Lee.
Refeito do primeiro impacto, o sentimento seguinte foi de solidão, pois embora no meio da multidão, não encontrava a sua própria imagem refletida nas feições dos paulistanos.
Diante da realidade do momento acha que encontrou o avesso do que sonhava.
Para se justificar da decepção, fala do lado ruim do que vê: filas, poluição, o povo oprimido, da modernidade, o novo excluindo o antigo, tudo tão diferente da simplicidade da sua terra natal.
No verso “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…” quer mostrar a dualidade para o bem e para o mal que existe em tudo e em todos.
Quando cita “Panaméricas”, ele se refere a um amigo escritor paulistano, José Agripino de Paula, autor do livro “Panamérica”.
“Túmulo do samba” é uma expressão atribuída a Vinicius de Moraes que afirmava que os compositores paulistas não possuíam ritmo e gingado de sambistas, que batizou São Paulo como o túmulo do samba, e considerava que o único local onde se fazia samba de verdade era nos “Quilombos”.
E por fim já aclimatado com a garoa, ele, junto com seus amigos baianos, curtem “Sampa” numa boa.
Comentário by Sérgio Soeiro — 6 de novembro de 2008
24.  
gostaria de saber mais sobre as analogias e metáfora dessa letra
Comentário by BEb — 5 de novembro de 2008
25.  
linda
Comentário by Sandra — 8 de outubro de 2008



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