sábado, 30 de julho de 2011

A CENA URBANA NA ARTE DE JOÃO BOSCO (1)

A CENA URBANA NA ARTE DE JOÃO BOSCO (1)

 

DE FRENTE PRO CRIME

João Bosco

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão...


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João Bosco/"De frente pro crime"  atualiza a cena urbana de todos os dias em - podemos dizer mais e mais - TODAS as cidades, ao menos as brasileiras. A violência crescente e sem controle, o medo de sair à noite e a autocondenação nossa, de todo o dia, à prisão domiciliar ... sem crime, sem julgamento e sem crime. Homicídios, latrocínios, assaltos, explosões de caixas de banco, sequestros ... e quanto temos  aprendido a banalizar e a nos resignar com tudo isso, ficando de costas pro crime, e fechando portas e janelas de casas e carros  para a cena urbana ... indignação? - só com o engarrafamento ... essa praga urbana que a cena impõe à nossa pressa ...

"Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...
"

A cena - "Tá lá o corpo estendido no chão" - é uma expressão da especularização e a pirotecnica com que determinada 'mídia' espetaculariza o crime; tudo muito coerente com a sociedade urbana do espetáculo que temos aprendido a admirar sob o signo da provisoriedade e da ausência de presentificação das coisas da vida e da cidade.

Vicente D. Moreira

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