sábado, 10 de agosto de 2013

REV DA CULTURA - O JOGO DA AMARELINHA - CORTÁZAR - 50 ANOS


DUPLA CIDADANIA

Em 2013, comemoram-se os 50 anos do lançamento de ‘O jogo da amarelinha’, um dos livros mais importantes do autor argentino Julio Cortázar. Ambientada em Paris e em Buenos Aires, a publicação reflete a vida e a obra do escritor, cujo imaginário divide-se entre essas duas cidades

POR: JOÃO CORREIA FILHO  /  05/08/2013
FOTOS JOÃO CORREIA FILHO
O Hôtel de Ville, no centro de Paris
Julio Cortázar é um desses escritores que não podem ser considerados de um único país, de uma única cidade. Filho de argentinos, nasceu na Bélgica, mudou-se para Buenos Aires ainda criança e ali viveu até 1951, quando adotou Paris como sua segunda pátria, passando lá suas últimas três décadas. Faleceu na capital francesa, aos 69 anos, e está enterrado no Cemitério de Montparnasse, no bairro parisiense de mesmo nome. Ano que vem, dia 24 de agosto, o autor completaria cem anos.

Sua obra, como era de esperar, tem reflexos dessa dupla cidadania, dessa dupla experiência que nos faz adentrar em Buenos Aires e Paris, referências presentes em livros como 
Bestiário (1951), Os prêmios (1960), Histórias de cronópios e de famas (1962), Todos os fogos o fogo (1966) e, principalmente, em O jogo da amarelinha (1963), ambientado nas duas capitais.
No conto 
Ônibus, por exemplo, publicado no livro Bestiário, Clara, a personagem principal, toma o coletivo 168 no bairro de Villa del Parque, região leste da capital portenha, em uma instigante viagem, na qual os passageiros carregam flores e a observam insistentemente, sem qualquer motivo aparente.
Pela janela do veículo, podemos entender um pouco da geografia e da vida de Cortázar. Viveu de 1934 a 1951 na Rua Artigas, 3246, bem próximo ao ponto de parada do 168, em um conjunto de casas e edifícios construído no início do século 20. Um dos prédios traz uma placa discreta, colocada em 2000 pela prefeitura de Buenos Aires, que anuncia que ali foi a morada do escritor. Foi seu último endereço antes de mudar-se para Paris, com 37 anos.

A geografia cortazariana também nos leva à Plaza de Mayo, que tem ao centro o monumento conhecido como Pirâmide de Mayo, descrita na novela 
O exame final (escrita na década de 1950 e lançada postumamente em 1986) como local de um misterioso ritual, no qual milhares de pessoas adoram ossinhos colocados em um santuário improvisado.
Ainda na região central, não podemos ignorar a influência dos cafés, confeitarias e galerias frequentados por Cortázar, como é o caso do London City Bar, da Confeitaria Richmond (fechada no ano passado) e da Galeria Güemes, que liga as movimentadas ruas Florida e San Martín.

CIDADE LUZ
Se o jovem Cortázar tinha como hábito passear a pé pelas ruas centrais de Buenos Aires, ao mudar-se para Paris, fez da capital francesa seu laboratório literário, flanando entre suas possíveis personagens. Isso talvez explique a precisa geografia parisiense nos primeiros capítulos de O jogo da amarelinha, lançado há exatos 50 anos, nos quais são citados locais como a Rue de Seine, Pont des Arts, Boulevard Sebastopol, Pont au Change, Tour Saint-Jacques, Place de la Concorde, a região do Châtelet, às margens do Sena, entre dezenas de outros.
Cortázar também volta os olhos para o metrô parisiense. No conto 
Pescoço de gatinho preto, publicado no livro Octaedro, em 1974, o movimento dos vagões atua como catalisador de quase toda a trama. Em Manuscrito achado num bolso, também de Octaedro, o personagem busca encontros nos subterrâneos parisienses, cujo mapa, segundo seu narrador, “define em seu esqueleto mondrianesco, em seus galhos vermelhos, amarelos, azuis e pretos uma vasta, porém limitada, superfície de subtendidos pseudópodes”.
É em tais ruas e ambientes que seus personagens circulam, quando não estão em seus apartamentos discutindo literatura, filosofia ou simplesmente refletindo sobre a condição humana de latinos vivendo em uma cidade europeia. Em uma frase emblemática, o narrador diz em um dos primeiros capítulos do livro: “Em Paris, tudo era Buenos Aires e vice-versa”.

Para quem segue os itinerários desse Cortázar franco-argentino, também se torna bastante emblemático o conto 
O outro céu, do livro Todos os fogos o fogo, no qual o personagem entra na Galeria Güemes, no centro da capital argentina, e sai em outra galeria, a Vivienne, no bairro parisiense da Opéra. Além de refletir a paixão de Cortázar pela atmosfera de tais construções, o conto simboliza a ponte entre as duas cidades, dois mundos unidos por um escritor universal, sem fronteiras.
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