sexta-feira, 16 de agosto de 2013

120 ANOS DE JORGE DE LIMA - "O ACENDEDOR ... (2)



ANÁLISE CRITICO-SOCIAL DO POEMA "O ACENDEDOR DE LAMPIÕES"

Por Lane Reis


O Acendedor de Lampiões foi um dos primeiros poemas de Jorge de Lima ainda em sua fase parnasiana que se pode perceber claramente pelo cuidado nos vocábulos sempre corretos na descrição do trabalho do acendedor de lampiões que é bastante objetiva, descritiva e impessoal, embora nestes versos Lima parece se compadecer deste tipo de trabalhador, fugindo  um pouco da estética parnasiana que não costuma  se envolver com suas temáticas.
                                   
                                       O Acendedor de Lampiões


Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
A medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita,

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua


Como dito anteriormente a poesia de Jorge de Lima demonstra diferentes faces acerca da percepção do universo humano, tendo um dom particular de expressar suas observações por meio da linguagem. Assim, nos primeiros versos Lima (1995) apresenta o personagem central do poema ao elaborar uma descrição do trabalho do acendedor numa linguagem lírica e bela como se pode observar nestes versos Lá vem o acendedor de lampiões da rua!/ Este mesmo que vem infatigavelmente,/Parodiar o sol e associar-se à lua/ Quando a sombra da noite enegrece o poente!.
Observe que os vocábulos “infatigavelmente”, “parodiar”, “enegrece” e “poente” demonstram a preocupação com a estética que é bastante característico da poesia mais formalistas, pois costuma se utilizar de um vocabulário mais culto e sofisticado, porém puramente descritivo que não tem pretensões de passar nenhum subjetivismo embora os vocábulos utilizados pelo poeta, nos permitam emocionar com as palavras, o que nos remetem a definição de “poesia” e “literatura” uma vez que para ser consideradas artes estas devem despertar no leitor alguma forma de sentimento.
Além disso, os vocábulos apresentados descrevem não somente o estado de ânimo que o acendedor de lampiões estava no momento em que realizava seu trabalho onde ele afirma/ Este mesmo que vem infatigavelmente/ e também suas ações retocadas por uma estética sofisticada, mas que não é somente movida pela necessidade de atribuir beleza aos versos, posto que para Paz (1982) a palavra solta simplesmente não é uma linguagem uma vez que é necessários uma associação entre signos e sons para que atribuam sentido e transmitam sentido.
Nos versos seguintes Um, dois, três lampiões, acende e continua/ Outros mais a acender imperturbavelmente/ A medida que a noite aos poucos se acentua/ E a palidez da lua apenas se pressente, pode-se observar que o poeta continua descrevendo o trabalho do acendedor agora dessa vez enfatizado pelo vocábulo “impertubavelmente”,  o que nos remete a ideia de que o acendedor realiza um trabalho  cansativo e repetitivo como  este sem  questionar e tal ideia pode ser reforçada pelo advérbio de modo “infatigavelmente” que demonstra que ele também realiza este trabalho  parar para descansar.
Isto também é corroborado por Paz (1982) quando afirma  a pluralidade de  termos e signos da palavra solta que se transforma na frase certa que transmitem o significado e se transforma na linguagem.Assim, por meio dos versos /Um, dois, três lampiões, acende e continua/ os numerais “um, dois, três” reforça ainda mais a ideia que se trata de um trabalho  que incessante e além de tudo necessário uma vez que para a cidade ser iluminada  dependia de seu trabalho que era tão importante quanto o do governador ou do prefeito da cidade.
Neste sentido, pode-se destacar a posição política do autor em relação à descrição de um trabalho como este uma vez que mostra um julgamento moral e ético acerca da exploração do trabalho de uma pessoa em suas dimensões sociais, o qual é produto de uma sociedade moderna e imposto pelas elites dirigentes. O olhar do poeta mostra uma postura ideológica distinta e contraditória  entre si, pois era filho de senhor de engenho, portanto, da classe dominante.
Sendo assim, pode-se observar  que Jorge de Lima neste poema em que ele mostra que o acendedor de lampiões  é um homem do povo que trás a lua para uma cidade assim como o sol ilumina o dia e colabora com a lua, posto que  somente sua luz sozinha é fraca para iluminar toda a noite.
Os versos da terceira estrofe: Triste ironia atroz que o senso humano irrita/Ele que doira a noite e ilumina a cidade/Talvez não tenha luz na choupana em que habita, mostra  o modo de viver humilde deste trabalhador através  da descrição da sua casa “choupana em que habita” que significa um casebre simples e miserável sem qualquer tipo de conforto como é acrescentado  anteriormente pelos vocábulos “não tenha luz”, revelando a realidade miserável  que essa pessoa vive.
A partir destes versos, percebe-se também que Jorge de Lima mostra as contradições inerentes na sociedade capitalista tão discutidos por Marx (1974), pois quem, um  indivíduo que realiza um trabalho tão importante para a  sua sociedade, mas  não ganha o suficiente para ter luz de lampião na sua casa, denunciando claramente a miséria e a exploração da sociedade sobre a classe trabalhadora
E para reforçar a ideia da denúncia das contradições da sociedade capitalista nos quatro estrofes os versos Tanta gente também nos outros Insinua/ Crenças, religiões, amor, felicidade,/Como este acendedor de lampiões da rua mostram o quanto o trabalho do acendedor de lampiões é desvalorizado socialmente uma vez que tem a mesma importância social de tantos outras profissões como  mostrado nos versos, mas não tem seus direitos reconhecido tantos quanto  as outras profissões nas mais diversas esferas sociais.
Muitos poetas e escritores fazem de seus poemas um instrumento de discussão de questões sociais através do qual se pode intervir e tratar de problemas de caráter social, político e religioso, denunciado e interpretando as mazelas sociais com o projeto de formular, veicular modificar ou aprimorar os conteúdos políticos na sociedade que, no geral, são bastante divergentes uns dos outros.
Cristovão (2003) afirma que a poesia trata-se de uma realização humana, portanto uma construção histórica que leva em consideração a realidade vivenciada pelos  poetas, utilizando-se de uma linguagem original que desperte no leitor  algo relacionado ao que está escrito, ou seja, consiste, muitas vezes, em linguagem uma metáfora com base na visão de mundo de seu autor em que estética se  mistura com a ética.

BIBLIOGRAFIA

MARX, Karl. O capital: volume 1, 11 ed. São Paulo: Centelha, 1974.
PAZ, Octávio. O ritmo. In:________. O arco e a lira. Trad. Olga Savary.  2 ed. Rio de Janeiro.



3 COMENTÁRIOS:

Diane disse...
Nossa!! Parabéns gostei muito da análise.procurei em muitos sites e blogs uma análise crítica da obra de Jorge Lima e não encontrei nenhuma á altura essa foi realmente muito boa, me ajudou muito com a minha antologia.
Lane disse...
Oi Diane

Obrigada. trata-se de um artigo que eu fiz para nota na faculdade. que bom que gostou se puder divulgar , agradeço.

Bjos
Mundo do Palmeiras disse...
Pode deixar que eu tambem divulgo, me ajudou muito no meu trabalho.

Obrigado mesmo!

Bjo

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