sábado, 24 de agosto de 2013

CASTRO ALVES E A CENA AMERICANA


    O LIVRO E A AMÉRICA
    Castro Alves (*)

    Talhado para as grandezas, 

    Pra crescer, criar, subir, 
    O Novo Mundo nos músculos

    Sente a seiva do porvir.

    — Estatuário de colossos —

    Cansado doutros esboços

    Disse um dia Jeová:

    "Vai, Colombo, abre a cortina

    "Da minha eterna oficina...

    "Tira a América de lá".

    Molhado inda do dilúvio,

    Qual Tritão descomunal,

    O continente desperta

    No concerto universal.

    Dos oceanos em tropa

    Um — traz-lhe as artes da Europa,

    Outro — as bagas de Ceilão...

    E os Andes petrificados,

    Como braços levantados,

    Lhe apontam para a amplidão.

    Olhando em torno então brada:

    "Tudo marcha!... Ó grande Deus!

    As cataratas — pra terra,

    As estrelas — para os céus

    Lá, do pólo sobre as plagas,

    O seu rebanho de vagas

    Vai o mar apascentar...

    Eu quero marchar com os ventos,

    Corn os mundos... co'os
    firmamentos!!!"

    E Deus responde — "Marchar!"

    "Marchar! ... Mas como?...  Da Grécia

    Nos dóricos Partenons

    A mil deuses levantando

    Mil marmóreos Panteon?...

    Marchar co'a espada de Roma

    — Leoa de ruiva coma

    De presa enorme no chão,

    Saciando o ódio profundo. . .

    — Com as garras nas mãos do mundo,

    — Com os dentes no coração?...

    "Marchar!... Mas como a Alemanha

    Na tirania feudal,

    Levantando uma montanha

    Em cada uma catedral?...

    Não!... Nem templos feitos de ossos,

    Nem gládios a cavar fossos

    São degraus do progredir...

    Lá brada César morrendo:

    "No pugilato tremendo

    "Quem sempre vence é o porvir!"

    Filhos do sec’lo das luzes!

    Filhos da Grande nação!

    Quando ante Deus vos mostrardes,

    Tereis um livro na mão:

    O livro — esse audaz guerreiro

    Que conquista o mundo inteiro

    Sem nunca ter Waterloo...

    Eólo de pensamentos,

    Que abrira a gruta dos ventos

    Donde a Igualdade vooul...

    Por uma fatalidade

    Dessas que descem de além,

    O sec'lo, que viu Colombo,

    Viu Guttenberg também.

    Quando no tosco estaleiro

    Da Alemanha o velho obreiro

    A ave da imprensa gerou...

    O Genovês salta os mares...

    Busca um ninho entre os palmares

    E a pátria da imprensa achou...

    Por isso na impaciência

    Desta sede de saber,

    Como as aves do deserto

    As almas buscam beber...

    Oh! Bendito o que semeia

    Livros... livros à mão cheia...

    E manda o povo pensar!

    O livro caindo n'alma

    É germe — que faz a palma,

    É chuva — que faz o mar.

    Vós, que o templo das idéias

    Largo — abris às multidões,

    Pra o batismo luminoso

    Das grandes revoluções,

    Agora que o trem de ferro

    Acorda o tigre no cerro

    E espanta os caboclos nus,

    Fazei desse "rei dos ventos"

    — Ginete dos pensamentos,

    — Arauto da grande luz! ...

    Bravo! a quem salva o futuro

    Fecundando a multidão! ...

    Num poema amortalhada

    Nunca morre uma nação.

    Como Goethe moribundo

    Brada "Luz!" o Novo Mundo

    Num brado de Briaréu...

    Luz! pois, no vale e na serra...

    Que, se a luz rola na terra,

    Deus colhe gênios no céu!...

                                                             

    Do livro: "Poetas Românticos Brasileiros", vol. I, Editora Lumen, SP, s/ano

    (*)



      Castro Alves


      Poeta brasileiro

      Biografia de Castro Alves

      [fonte - E Biografias]


      Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro. O último grande poeta da terceira geração romântica no Brasil. Expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do realismo. Foi também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve 
      a beleza e a sedução do corpo da mulher. 

      É patrono da cadeira nº7 da Academia Brasileira de Letras.

    Castro Alves (1847-1871) nasceu na fazenda Cabaceiras, antiga freguesia de Muritiba, perto da vila de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia, em 14 de março de 1847. Filho do médico Antônio José Alves, e também professor da Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro.

    No ano de 1853, vai com sua família morar em Salvador. Estudou no colégio de Abílio César Borges, onde foi colega de Rui Barbosa, Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perde sua mãe. Em 24 de janeiro de 1862 seu pai casa com Maria Rosário Guimarães e nesse mesmo ano foi morar no Recife. A capital pernambucana efervecia com os ideais abolicionistas e republicanos e Castro Alves recebe influências do líder estudantil Tobias Barreto.
    Castro Alves publica em 1863, seu primeiro poema contra a escravidão "A Primavera", nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida estudantil e literária, mas volta para a Bahia no mesmo ano e só retorna ao Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.
    Castro Alves inicia em 1866, um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves parte para o Rio de Janeiro onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Vai para São Paulo e ingressa no terceiro ano da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
    Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa fere o pé esquerdo, com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 volta para Salvador onde publica "Espumas Flutuantes".
    Antônio Frederico de Castro Alves, morre em Salvador no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose.

Nenhum comentário:

Postar um comentário