Vicente D. Moreira - especial para o Blogue CIDADE
Um diálogo mais que possível ocorre, e sugere amplos horizontes de reflexão, entre "Lamento Sertanejo" (Dominguinhos e Gilberto Gil) e "Sampa" (Caetano Veloso):
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Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.
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Alguma
coisa acontece npo meu coração
Que
só quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João
É
que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de
tuas esquinas
Da deselegância discreta de
tuas meninas
Ainda
não havia para mim Rita Lee
A
tua mais completa tradução
Alguma
coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a
Ipiranga e a avenida São João
Quando
eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei
de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É
que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda
não é mesmo velho
Nada do que não era antes
quando não somos Mutantes
E
foste um difícil começo
Afasta
o que não conheço
E
quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te
de realidade
Porque és o avesso do avesso
do avesso do avesso
Do
povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da
força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da
feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de
campos, espaços
Tuas oficinas de florestas,
teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do
samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
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Vamos lá. Um 'sertanejo', ou seja, um migrante
vai viver/morar/trabalhar numa cidade grande, numa
materópole. São Paulo, por exemplo. Afinal, a cidade,
o habitat de origem desse migrante, dessa família, não
lhe oferece as mínimas condições de vida e de trabalho
que justifiquem a permanência lá.
vai viver/morar/trabalhar numa cidade grande, numa
materópole. São Paulo, por exemplo. Afinal, a cidade,
o habitat de origem desse migrante, dessa família, não
lhe oferece as mínimas condições de vida e de trabalho
que justifiquem a permanência lá.
Como era - talvez! - de se esperar, Sampa
é um planeta diferente, poucos braços abertos,
poluição severa, barulho ensurdecedor, formigueiro
humano, congestionamentos sem fim. Enfim ... São Paulo.
A desadaptação inicial tem as cores vivas de sua realidade
esmaecidas, não necessariamente dia -a - dia ... mas
mes a mes, ano a a ano ...
é um planeta diferente, poucos braços abertos,
poluição severa, barulho ensurdecedor, formigueiro
humano, congestionamentos sem fim. Enfim ... São Paulo.
A desadaptação inicial tem as cores vivas de sua realidade
esmaecidas, não necessariamente dia -a - dia ... mas
mes a mes, ano a a ano ...
Porém, "o irremediável remediado está ..." consola
o dito popular. Essa "estranha mania de ter fé na vida'
(Milton Nascimento - "Maria Maria") faz (ou obriga?) o
migrante a se adaptar a São Paulo e suas dores e delícias urbanas.
o dito popular. Essa "estranha mania de ter fé na vida'
(Milton Nascimento - "Maria Maria") faz (ou obriga?) o
migrante a se adaptar a São Paulo e suas dores e delícias urbanas.
Bem. O fato é que no Terminal Tietê (rodo-ferroviário)
é comum se ver imensos volumes de móveis e eletrodomésticos
sendo embarcados nos ônibus com destino ao Norte/Nordeste.
é comum se ver imensos volumes de móveis e eletrodomésticos
sendo embarcados nos ônibus com destino ao Norte/Nordeste.
São migrantes retornando, em definitivo, á terra natal? Não. na esmagadora maioria dos casos, são 'nordestinos' que vão visitar os parentes que aqinda permenecem morando lá "no interior do mato"; e aqueles volumes imensos são presentes a amigos e familiares; presentres que traduzem afetividade, e até gratidão; mas também são a prova de sucesso e de elevação (mínima que seja) do poder aquisitivo.
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