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Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A
formação de excedentes de produção dos produtores acredita-se ser a principal
causa da origem das feiras. E com as sobras de uns, contra as faltas de outros,
é que houve a necessidade de intercâmbio de mercadorias, a princípio
inter-grupos, sem a exigência de um lugar, onde a busca de se conseguir as
mercadorias que necessitam é mais intensa. A existência das feiras foi uma
solicitação natural de um ambiente que congregasse todos os produtos que se
estivessem disponíveis para outrem; e, neste contexto, seria importante que se
trocassem seus excessos em busca de outros produtos que não se houve
condições de produzir. Com isto, verifica-se a importância das feiras
para os tempos modernos.
Em
verdade, atribui-se à idade média, a oficialização das feiras, tendo em vista
que na época dos faraós, quer dizer, no período escravagista, bem como na fase
do feudalismo, não existiam tão acirradamente as feiras, por causa da produção
para auto-consumo. O sistema de trabalho da comunidade dos faraós era
estritamente voltado para produzir; e, em seguida consumir, porque os faraós
não tinham interesse em produzir para revenda; mas, a manutenção dos escravos
que deveriam produzir os bens de luxo para aqueles que detém o poder. Este
período de auto-consumo, também aconteceu na fase feudalista, pelo tipo de
manutenção que era comum para as pessoas que viviam nos feudos, que exerciam
uma espécie de escravismo.
Para
confirmar que as feiras tiveram realmente sua consolidação na idade média,
escreveu SOUTO MAIOR[1] (1978) que
as
influências das atividades comerciais de Bizâncio foram vis não somente para a
Idade Média, mas até para a Idade Moderna, pois o renovado contacto comercial
com o Oriente foi uma das causas principais do aparecimento de muitas cidades
do Ocidente europeu e a concorrência comercial estimulou os descobrimentos e a
expansão da civilização européia no século XVI.
Este foi o estímulo à expansão,
que fez com que os produtos do Extremo Oriente fossem distribuídos via
mediterrâneo com grandes lucros, tais como especiarias, perfumes, jóias e
sedas, muito procurados em tal época.
A
abertura para o Oriente fez com que os grandes comércios fossem implementados
fundamentalmente nas cidades de Veneza, Gênova e Pisa; e, desta forma,
aumentando a concorrência entre os vendedores da época das grandes aventuras em
busca de compra e vendas de produtos supérfluos e necessários, nos longínquos
pontos da terra. Com a missão dos mercadores da Idade Média, estimulou-se a
transação de compra e venda, e por extensão, a formação das feiras, envolvendo
drogas, musselinas, sedas, especiarias e tapetes, expostos em feiras livres.
Nesta estrutura comercial, determinam-se os preços pelas forças competitivas do
mercado, surgindo lentamente a concorrência entre os comerciantes medievais.
Na Bíblia
Cristã notam-se sinais de feiras já no período em que Jesus Cristo viveu na
terra, pois mesmo reconhecendo a fúria do Senhor, verifica-se a existência já
naquele período histórico, a presença dos mercadores como coloca MARCOS[2] (11:17) quando diz que
chegaram
a Jeruzalém, e, entrando no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e
compravam; derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de
pombos, e não permitia que se transportasse qualquer objeto através do templo.
Isto são
sinais fortes da influência das feiras convencionais, fundamentalmente, as
livres, na formação da era comercial dos tempos hodiernos e que aos poucos
estão desaparecendo, lastimavelmente.
Os ingênuos comerciantes do início da era cristã buscavam negociar seus excedentes e conseguir os produtos que lhes faltavam. Todavia, como ponto mais movimentado do povoado ou cidade onde viviam, escolheram a igreja, por ser um lugar de maior fluxo; e, conseqüentemente, maior possibilidade de vendas de seus produtos, Lá era negociado todo tipo de produto que a população necessitava, foi quando apareceu Jesus CRISTO, e expulsou-os bravamente, porque ali era casa de orações e não feiras livres, causando as maiores badernas em frente da casa do Senhor. Além do evento comercial, obviamente, aconteciam outros fatos obscenos que não eram do agrado do líder dos cristãos.
Retornando
a Idade Média, observa-se a importância das feiras, num pedido da população de
Poix ao Rei, para o funcionamento de um mercado semanal, e duas feiras; e, eis
o que respondeu o Rei:
recebemos
a humilde petição de nosso querido e bem amado Jeham de CRÉQUY, Senhor de
Canaples e de Poix... informando-nos que a mencionada cidade e arredores de
Poix estão localizados em terreno bom e fértil, e a mencionada cidade e
arredores são bem construídos e providos de casas, povo, mercadores,
habitantes, e outros, e também lá afluem, passam e tornam a passar, muitos
mercadores e mercadorias das vizinhanças e outras regiões, e isto é requisito,
e necessário à realização das duas feiras anuais e um mercado cada semana...
Por essa razão é que nós... criamos, organizamos e estabelecemos para a
mencionada cidade de Poix... duas feiras por ano e um mercado por semana.
Como se observa, as autoridades tinham grande
interesse quanto a colocação de feiras em suas regiões, porque, em verdade,
aumentaria o fluxo de recursos para aquele ambiente, como da mesma forma se
negociariam os da própria localidade.
Por isso,
ao pensar em mercados, fala-se em feiras. Disto surge uma diferença entre estes
dois pontos de análise, qual será?
os
mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria
agrícola. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negaciavam mercadorias por
atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o
centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos
pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as
mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Nordeste e Sul
cujo pensamento foi extraído dos
comentários de Leo HUBERMAN (1959) [3]
que trabalhou esta questão com muita eficiência e propriedade.
Ainda com este autor[4] faz-se referência a uma das mais importantes feiras, com a seguinte conclamação de 1349, sobre as feiras de Champagne; pois,
todas as
companhias de mercadores e também os mercadores individuais, lianos,
transalpinos, florentinos, milaneses, luqueses, genoveses, venesianos, alemãs,
provençais e os de outros paises, que não pertencem ao nosso reino, se
desejarem comerciar aqui e desfrutar os privilégios e os impostos vantajosos
das mencionadas feiras... podem vir sem perigo, residir e partir - eles, sua
mercadoria, e seus guias, com o salvo-conduto das feiras, sob o qual os
conservamos e recebemos, de hoje em diante, juntamente com sua mercadoria e
produtos, sem que estejam jamais sujeitos a apreensão, prisão ou obstáculos,
por outros que não os guardas das feiras.
É importante salientar que as feiras, desde os
tempo das verdadeiras feiras livres, os governos, ou mandatários de uma
localidade incentivavam aos participantes das feiras para conseguirem seus
benefícios.
Nos tempos modernos, as feiras têm diversificado ao
máximo possível o seu lastro de comércio, possuindo desde produtos sofisticados
até mínimas coisas que a classe mais pobre precisa. As feiras constituem
realmente o princípio fundamental que define mercado e como já se viu
anteriormente, serem diferentes, contudo, hoje se confundem. Numa abordagem
econômica, as feiras constituem um ponto de encontro entre compradores e
vendedores para trocarem seus produtos, se bem que hoje em dia, dadas as
concentrações oligopolísticas e cartelizações, as feiras que hoje coincidem com
os mercados, passam a ser apenas um contexto, por causa dos meios de comunicação.
O que se
nota nos tempos modernos, não são as feiras tradicionais ingênuas; mas, as
grandes bienais, que constituem as feiras mais sofisticadas ou uma maneira de
preservar os primeiros modos de formação dos preços. Paralelamente com as
bienais, existem também as exposições de animais, muito comuns no mundo
inteiro, que buscam claramente, os grandes comércios de animais e produtos
agrícolas situados particularmente, nos interiores dos Estados brasileiros. No
Nordeste, por exemplo, são famosas as feiras de gado de Feira de Santana, a
feira de Caruaru, cantada em prosa e versos, as feiras de gado da Paraíba que
originaram muitas cidades do interior nordestino, especificamente.
Inegavelmente,
as feiras contribuíram para o desenvolvimento e até mesmo da formação dos
mercados, quer seja oligopolístico ou mesmo monopolístico; e, neste sentido, é
que se ver o desaparecimento das tradicionais feiras que determinam preços
ingenuamente, entre compradores e vendedores. A falência das feiras é devido ao
que previu MARX, já no século XVIII, o poder de concentração e centralização da
economia industrial, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Portanto, o movimento voluntário entre compradores e vendedores é a melhor
forma do mercado atender a todos, sem prejuízo de alguém; mas, com ganhos para
todos os agentes participativos da economia.
No mundo
dos oligopólios, as feiras livres ficam no segundo plano do convívio comercial,
tendo em vista que, o que predomina hoje em dia é a formação de supermercados.
Os supermercados substituem as feiras livres e até mesmo, o comércio natural da
cidade, ao se considerar que tudo que se busque para o dia-a-dia do ser humano,
encontra-se nos supermercados. Dentro deste complexo de comércio existem as
subdivisões que funcionam como empresas individualizadas, com todas as funções
próprias e independentes, trabalhando a sua própria realidade. Portanto, nesta
estrutura de mercado já não existe a pichincha (pedir para baixar os preços) e
nem a competição acirrada na busca de conseguir consumidores, como no mercado
livre.
[1] MAIOR, Armando Souto. História
Geral. São Paulo, Editora São Paulo, 1978, p. 190.
[2] São MARCOS. A Bíblia Sagrada.
São Paulo, Stampley Publicações LTDa, 1974, p. 1021.
[3] HUBERMAN, Leo. História da
Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores, 1976, p. 31.
[4] HUBERMAN, Leo. História da
Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores, 1976, p. 30.
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