sábado, 25 de agosto de 2012

LUIS GOJZADA DA SOUSA - A ORIGEM DAS FEIRAS



Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A formação de excedentes de produção dos produtores acredita-se ser a principal causa da origem das feiras. E com as sobras de uns, contra as faltas de outros, é que houve a necessidade de intercâmbio de mercadorias, a princípio inter-grupos, sem a exigência de um lugar, onde a busca de se conseguir as mercadorias que necessitam é mais intensa. A existência das feiras foi uma solicitação natural de um ambiente que congregasse todos os produtos que se estivessem disponíveis para outrem; e, neste contexto, seria importante que se trocassem seus excessos em busca de outros produtos que não se houve condições  de produzir. Com isto, verifica-se a importância das feiras para os tempos modernos.
Em verdade, atribui-se à idade média, a oficialização das feiras, tendo em vista que na época dos faraós, quer dizer, no período escravagista, bem como na fase do feudalismo, não existiam tão acirradamente as feiras, por causa da produção para auto-consumo. O sistema de trabalho da comunidade dos faraós era estritamente voltado para produzir; e, em seguida consumir, porque os faraós não tinham interesse em produzir para revenda; mas, a manutenção dos escravos que deveriam produzir os bens de luxo para aqueles que detém o poder. Este período de auto-consumo, também aconteceu na fase feudalista, pelo tipo de manutenção que era comum para as pessoas que viviam nos feudos, que exerciam uma espécie de escravismo.
Para confirmar que as feiras tiveram realmente sua consolidação na idade média, escreveu SOUTO MAIOR[1] (1978) que 
as influências das atividades comerciais de Bizâncio foram vis não somente para a Idade Média, mas até para a Idade Moderna, pois o renovado contacto comercial com o Oriente foi uma das causas principais do aparecimento de muitas cidades do Ocidente europeu e a concorrência comercial estimulou os descobrimentos e a expansão da civilização européia no século XVI
Este foi o estímulo à expansão, que fez com que os produtos do Extremo Oriente fossem distribuídos via mediterrâneo com grandes lucros, tais como especiarias, perfumes, jóias e sedas, muito procurados em tal época.
A abertura para o Oriente fez com que os grandes comércios fossem implementados fundamentalmente nas cidades de Veneza, Gênova e Pisa; e, desta forma, aumentando a concorrência entre os vendedores da época das grandes aventuras em busca de compra e vendas de produtos supérfluos e necessários, nos longínquos pontos da terra. Com a missão dos mercadores da Idade Média, estimulou-se a transação de compra e venda, e por extensão, a formação das feiras, envolvendo drogas, musselinas, sedas, especiarias e tapetes, expostos em feiras livres. Nesta estrutura comercial, determinam-se os preços pelas forças competitivas do mercado, surgindo lentamente a concorrência entre os comerciantes medievais.
Na Bíblia Cristã notam-se sinais de feiras já no período em que Jesus Cristo viveu na terra, pois mesmo reconhecendo a fúria do Senhor, verifica-se a existência já naquele período histórico, a presença dos mercadores como coloca MARCOS[2] (11:17) quando diz que 
chegaram a Jeruzalém, e, entrando no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombos, e não permitia que se transportasse qualquer objeto através do templo
Isto são sinais fortes da influência das feiras convencionais, fundamentalmente, as livres, na formação da era comercial dos tempos hodiernos e que aos poucos estão desaparecendo, lastimavelmente.

Os ingênuos comerciantes do início da era cristã buscavam negociar seus excedentes e conseguir os produtos que lhes faltavam. Todavia, como ponto mais movimentado do povoado ou cidade onde viviam, escolheram a igreja, por ser um lugar de maior fluxo; e, conseqüentemente, maior possibilidade de vendas de seus produtos, Lá era negociado todo tipo de produto que a população necessitava, foi quando apareceu Jesus CRISTO, e expulsou-os bravamente, porque ali era casa de orações e não feiras livres, causando as maiores badernas em frente da casa do Senhor. Além do evento comercial, obviamente, aconteciam outros fatos obscenos que não eram do agrado do líder dos cristãos.
Retornando a Idade Média, observa-se a importância das feiras, num pedido da população de Poix ao Rei, para o funcionamento de um mercado semanal, e duas feiras; e, eis o que respondeu o Rei: 
recebemos a humilde petição de nosso querido e bem amado Jeham de CRÉQUY, Senhor de Canaples e de Poix... informando-nos que a mencionada cidade e arredores de Poix estão localizados em terreno bom e fértil, e a mencionada cidade e arredores são bem construídos e providos de casas, povo, mercadores, habitantes, e outros, e também lá afluem, passam e tornam a passar, muitos mercadores e mercadorias das vizinhanças e outras regiões, e isto é requisito, e necessário à realização das duas feiras anuais e um mercado cada semana... Por essa razão é que nós... criamos, organizamos e estabelecemos para a mencionada cidade de Poix... duas feiras por ano e um mercado por semana.
Como se observa, as autoridades tinham grande interesse quanto a colocação de feiras em suas regiões, porque, em verdade, aumentaria o fluxo de recursos para aquele ambiente, como da mesma forma se negociariam os da própria localidade.
Por isso, ao pensar em mercados, fala-se em feiras. Disto surge uma diferença entre estes dois pontos de análise, qual será? 
os mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria agrícola. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negaciavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Nordeste e Sul
 
cujo pensamento foi extraído dos comentários de Leo HUBERMAN (1959) [3] que trabalhou esta questão com muita eficiência e propriedade.

Ainda com este autor[4] faz-se referência a uma das mais importantes feiras, com a seguinte conclamação de 1349, sobre as feiras de Champagne; pois, 
todas as companhias de mercadores e também os mercadores individuais, lianos, transalpinos, florentinos, milaneses, luqueses, genoveses, venesianos, alemãs, provençais e os de outros paises, que não pertencem ao nosso reino, se desejarem comerciar aqui e desfrutar os privilégios e os impostos vantajosos das mencionadas feiras... podem vir sem perigo, residir e partir - eles, sua mercadoria, e seus guias, com o salvo-conduto das feiras, sob o qual os conservamos e recebemos, de hoje em diante, juntamente com sua mercadoria e produtos, sem que estejam jamais sujeitos a apreensão, prisão ou obstáculos, por outros que não os guardas das feiras.
É importante salientar que as feiras, desde os tempo das verdadeiras feiras livres, os governos, ou mandatários de uma localidade incentivavam aos participantes das feiras para conseguirem seus benefícios.
Nos tempos modernos, as feiras têm diversificado ao máximo possível o seu lastro de comércio, possuindo desde produtos sofisticados até mínimas coisas que a classe mais pobre precisa. As feiras constituem realmente o princípio fundamental que define mercado e como já se viu anteriormente, serem diferentes, contudo, hoje se confundem. Numa abordagem econômica, as feiras constituem um ponto de encontro entre compradores e vendedores para trocarem seus produtos, se bem que hoje em dia, dadas as concentrações oligopolísticas e cartelizações, as feiras que hoje coincidem com os mercados, passam a ser apenas um contexto, por causa dos meios de comunicação.
O que se nota nos tempos modernos, não são as feiras tradicionais ingênuas; mas, as grandes bienais, que constituem as feiras mais sofisticadas ou uma maneira de preservar os primeiros modos de formação dos preços. Paralelamente com as bienais, existem também as exposições de animais, muito comuns no mundo inteiro, que buscam claramente, os grandes comércios de animais e produtos agrícolas situados particularmente, nos interiores dos Estados brasileiros. No Nordeste, por exemplo, são famosas as feiras de gado de Feira de Santana, a feira de Caruaru, cantada em prosa e versos, as feiras de gado da Paraíba que originaram muitas cidades do interior nordestino, especificamente.
Inegavelmente, as feiras contribuíram para o desenvolvimento e até mesmo da formação dos mercados, quer seja oligopolístico ou mesmo monopolístico; e, neste sentido, é que se ver o desaparecimento das tradicionais feiras que determinam preços ingenuamente, entre compradores e vendedores. A falência das feiras é devido ao que previu MARX, já no século XVIII, o poder de concentração e centralização da economia industrial, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Portanto, o movimento voluntário entre compradores e vendedores é a melhor forma do mercado atender a todos, sem prejuízo de alguém; mas, com ganhos para todos os agentes participativos da economia.
No mundo dos oligopólios, as feiras livres ficam no segundo plano do convívio comercial, tendo em vista que, o que predomina hoje em dia é a formação de supermercados. Os supermercados substituem as feiras livres e até mesmo, o comércio natural da cidade, ao se considerar que tudo que se busque para o dia-a-dia do ser humano, encontra-se nos supermercados. Dentro deste complexo de comércio existem as subdivisões que funcionam como empresas individualizadas, com todas as funções próprias e independentes, trabalhando a sua própria realidade. Portanto, nesta estrutura de mercado já não existe a pichincha (pedir para baixar os preços) e nem a competição acirrada na busca de conseguir consumidores, como no mercado livre.

 


[1] MAIOR, Armando Souto. História Geral. São Paulo, Editora São Paulo, 1978, p. 190.
[2] São MARCOS. A Bíblia Sagrada. São Paulo, Stampley Publicações LTDa, 1974, p. 1021.
[3] HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores, 1976, p. 31.
[4] HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores, 1976, p. 30.


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