OJIMA, SILVA e PEREIRA - A
Mobilidade Pendular na Definição das Cidades-Dormitório (2)
A Mobilidade Pendular na Definição das Cidades-Dormitório:
caracterização sociodemográfica e novas territorialidades no
contexto da urbanização brasileira
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Este
estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto "Dinâmica intrametropolitana
e vulnerabilidade sócio-demográfica nas metrópoles do interior paulista",
desenvolvido no Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp) com o
financiamento da Fapesp e Cnpq.
e vulnerabilidade sócio-demográfica nas metrópoles do interior paulista",
desenvolvido no Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp) com o
financiamento da Fapesp e Cnpq.
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Ricardo Ojima
Doutor
em Demografia; Pesquisador Colaborador do Núcleo de Estudos de População
(NEPO/Unicamp)
e Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp).
Robson Bonifácio da Silva
Geógrafo;
Mestrando em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp);
Bolsista
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Rafael H. Moraes Pereira
Sociólogo;
Mestrando em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp);
Bolsista
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Cano
(1988) relaciona a origem das cidades-dormitório ao processo de urbanização. A
periferização dos assentamentos humanos e industriais e aespeculação
imobiliária teriam provocado importantes mudanças no processo de
urbanização
como a conurbação e a conseqüente metropolização, fazendo surgir aí as
“cidades-dormitório”. Santos (1990) também destaca a significativa importância
da especulação imobiliária que, por conseqüência, contribuiu para o crescimento
fragmentado da metrópole paulistana. Trata-se da concretização do espaço urbano
alienado queaumenta o abismo entre a estruturação desse espaço urbano e as
necessidades sociais da população. Assim, a periferização se acentuou na medida
em que houve um aumento da especulação imobiliária e do custo de vida.
Entretanto,
a causa desse processo pode não ser uma exclusividade da concentração
industrial, pois mesmo as regiões metropolitanas com menor concentração também
vivenciam a situação. O baixo dinamismo econômico, a pouca diversidade das
atividades de comércio e serviços, e o uso predominantemente residencial de
alguns municípios são os elementos destacados por Caiado (2005) na
caracterização das cidades-dormitório em sua análise sobre a estruturação
intra-urbana na região do Distrito Federal e seu entorno. A pesquisadora ainda
menciona as elevadas taxas de crescimento populacional da região devido à
intensidade do processo de periferização.
Nas
últimas décadas pode-se destacar, no Brasil, algumas cidades cujas características,
diferentes das mencionadas anteriormente, trazem novos contornos à discussão do
tema e problematizam essa categoria das cidades-dormitório. Esses novos
contornos podem ser exemplificados pelo município de Valinhos (SP). Valinhos é
um município pertencente à Região Metropolitana de Campinas que apresenta
baixos índices de criminalidade e violência e alta proliferação de condomínios
e loteamentos fechados criados na década de 1990, principalmente, pela
justificativa de uma busca por segurança e qualidade de vida (Miglioranza, 2005).
O
exemplo de Valinhos1 imprime novos contornos para a categoria de cidades dormitório. Se
antes a “expulsão” das pessoas de baixa renda para as áreas distantes dos
centros pelo processo de periferização da população era uma característica,
hoje verificamos também a ocupação de áreas periféricas por pessoas de mais
alta renda que procuram essas áreas em busca de um nível de vida requerido
pelas classes média e alta da população (Cunha e Miglioranza,
2006).
A informação de deslocamento pendular: uma aproximação metodológica
Como
vimos, uma das evidências empíricas que caracterizam as cidades dormitório é o
fato que essas, como o nome sugere, são cidades essencialmente
utilizadas
como local de residência e as demais atividades cotidianas, sobretudo o
trabalho,
são realizadas em outros municípios. Esta relação, normalmente percebida como
parasitária dentro do contexto das redes urbanas brasileiras assume conotação
negativa pelas razões expostas na seção anterior.
Uma
das maneiras de captar empiricamente a dinâmica populacional que configura as
cidades-dormitório é a utilização da informação censitária que registra o município
que a pessoa trabalha ou estuda. Assim, é possível captar a mobilidade das
pessoas em um contexto regional quando o município de residência é diferente daquele
no qual a pessoa informa como local de trabalho ou estudo. Essa modalidade é
normalmente denominada como “deslocamento pendular” por se considerar que
trabalhando ou estudando em municípios distintos este movimento possui uma
regularidade cotidiana.
Mas,
embora não seja uma abordagem nova tanto na área de geografia como na
demografia, só recentemente essa variável passou a ser utilizada com mais freqüência
do ponto de vista analítico. Isso pode ser explicado por, pelo menos, duas
razões principais: uma delas, de cunho metodológico, é a retomada do quesito no
Censo Demográfico 2000 com abrangência e representatividade em todo o território
nacional2; e outra, de ordem empírica, é o significativo crescimento do
peso relativo deste de movimento.
Assim,
embora tenha sido objeto de investigação no Brasil desde a delimitação oficial
das primeiras nove Regiões Metropolitanas3, não
se configurou como preocupação em muitas análises. Até então, os movimentos
populacionais mais evidentes eram as migrações de longa distância, sendo
exemplar os fluxos Nordeste-Sudeste, além dos fluxos rural-urbano. Assim, só
quando arrefecem os ímpetos de tais fluxos é que os movimentos pendulares
passam a receber maior atenção (HOGAN, 2005).
O uso
da informação de deslocamento pendular com objetivo de trabalho ou estudo é uma
importante ferramenta para entender os processos de metropolização, pois
permitem verificar o grau de extensão da circularidade de pessoas em uma determinada
região. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, o Census Bureau define a abrangência e a
extensão das Áreas Metropolitanas a partir da atualização regular, a cada
levantamento censitário, com o uso dos dados de deslocamento pendular para
trabalho (FEDERAL REGISTER, 1998).
De
modo geral, mesmo que a informação censitária não capte movimentos que não
sejam motivados por trabalho ou estudo (JARDIM e HERVATTI, 2006), pode ser considerado
suficiente para caracterizar, principalmente, as aglomerações urbanas devido
aos efeitos indiretos que podem ser supostos a partir dela. Ou seja, mesmo que
a informação não contemple os movimentos para lazer, compras e atendimento de
serviços é possível entender com relativa confiabilidade os principais fluxos populacionais
em uma região, pois os deslocamentos para trabalho possuem uma regularidade
maior na vida cotidiana, sobretudo em relação aos deslocamentos para lazer e
compras.
Em
verdade, pesquisas mais específicas, como a Pesquisa Origem-Destino, trazem
elementos mais detalhados sobre os fluxos de pessoas dentro de uma mesma
aglomeração e permitem com isso identificar as espacializações locais que
configuram
a complexidade da rede urbana nos principais centros urbanos brasileiros
contemporâneos4. Entretanto, estas pesquisas ainda são reduzidas a algumas poucas
Regiões Metropolitanas brasileiras e, além disso, não possuem uma continuidade
temporal que permita uma avaliação do desenvolvimento deste
processo.
Branco,
Firkowski e Moura (2005a; 2005b), realizam uma revisão sobre o conceito e o
quesito censitário de movimentos pendulares e apontam para a importância desse
critério para a identificação dos processos de metropolização. Confirmam,
portanto, a idéia de que as fronteiras político-administrativas escondem importantes
fluxos que podem ser apreciados à luz dos movimentos pendulares. Entretanto,
embora em termos absolutos o movimento pendular seja um fenômeno
urbano
concentrado em grandes cidades (ANTICO, 2004 e ARANHA, 2005), em termos
relativos estes movimentos assumem grande importância nas dinâmicas
intra-urbanas
de diversas regiões do país. Segundo Hogan (1990, 1993 e 2005), os movimentos
pendulares jogam um importante papel na diluição dos riscos enfrentados pelo
desenvolvimento sustentável; analisando o perfil das pessoas que fazem
movimentos pendulares em Cubatão (SP), pôde-se observar que essa dinâmica
populacional refletiu impactos relevantes no desenvolvimento econômico da
região. Assim, apesar de Cubatão, em termos absolutos, não ter a expressividade
de movimentos pendulares como encontrados em São Paulo ou Rio de Janeiro, em
termos relativos esses processos se constituem em peças fundamentais na
estruturação da dinâmica regional.
Assim,
considerando o país como um todo, os movimentos
pendulares somam 7,4 milhões de pessoas; ou seja, 4,4% da população brasileira
em 2000 trabalhava
ou
estudava fora do município de residência. Deste total, 38% são movimentos originados
em municípios que se localizam nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de
Janeiro que, respectivamente, correspondem a cerca de 6,5% e 7,5% da população
residente nestas regiões.
Observando
as principais características sociodemográficas, a população que realiza este
tipo de movimentos se diferencia do conjunto da população, ilustrando a seletividade
que este grupo assume. Como podemos perceber na Erro! A origem da
referência não foi encontrada., trata-se de uma
característica que possui maior concentração entre os homens embora tenha
diminuído significativa quando comparado aos dados de 1980. Assim, se em 1980
os homens correspondiam a cerca de 75% das pessoas com mais de 10 anos que
faziam movimentos pendulares, em 2000 essa proporção diminui para cerca de 60%
dos movimentos pendulares.
___________
1 A
peculiaridade das características de Valinhos enquanto cidade-dormitório também
é apontada nos trabalhos de Cunha et all (2005) e de Jakob & Sobreira (2005).
2 Com
abrangência territorial nacional os Censos Demográficos são realizados
decenalmente pela Fundação IBGE. A pesquisa do Censo, contudo, só tratou dessa
questão nos de 1970, 1980 e 2000.
3 As
Regiões Metropolitanas (RM) no Brasil foram instituídas através da lei
complementar no14, em 8 de junho de 1973, com o objetivo de promover o
planejamento integrado e a prestação de serviço scomuns de interesse
metropolitano, com comando da Unidade da Federação e sob o financiamento da
União. Primeiramente, oito RMs foram criadas: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza,
Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo, sendo criada no ano seguinte a RM
do Rio de Janeiro pela lei complementar no 20, totalizando nove RMs até o final
do ano de 1974.
4 Realizadas
de forma descentralizada por órgãos municipais ligados ao planejamento urbano e
de
transportes, as pesquisas Origem-Destino são relativamente recentes e se
restringem apenas a
algumas
Regiões Metropolitanas do Brasil.
(continua
amanhã)
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