quarta-feira, 4 de julho de 2012

POR ONDE ANDA O MALANDRO 'MEIA NOITE'?

  POR ONDE ANDA O MALANDRO 'MEIA NOITE'?

 

 Boa noite! Bacana o blog! Carioca da Gema mesmo.
Sobre o malandro meia noite, alguém teriam alguma informação a mais sobre este personagem? Disem foi morto em 1938.
Forte abraço,
Marcos.
  

 MALANDRO, MORRO E CIDADE ... (7)

MALANDRO, MORRO E CIDADE: passado e atualidade de uma trilogia carioca na MPB (7)

Vicente Deocleciano Moreira


Na tipologia sociológica humana, festejada por Noel Rosa, também há lugar para outros personagens:


... o joão-ninguém, o joão=-teimoso, a maria fumaça, o malandro, a dama do cabaré, o agiota, o bicheiro, a mulata fuzarqueira, o atleta de ombreiras, o homossexual valente, a operária de fábrica, o pão-duro, o coronel (como era conhecido o velho rico que sustentava moça bonita), o motorneiro (do "bonde que parece uma carroça"), o gaurda-civil ("que o salário ainda não viu"). (MÁXIMO, 2010, p. 35)


Como acontece o passado e atualidade da relação morro / cidade no universo carioca retratado pela MPB?


Em Noel Rosa e nos demais compositores e cantores (MPB) da primeira metade do século XX o morro é, algumas vezes, pintado com cores bucólicas, românticas e até ingênuas; ele está distante social, fisica e ecologicamente da cidade. A cidade fica lá em baixo. Desce-se do morro para ir à cidade a fim de passear, trabalhar, buscar algum amor, ir à praia ou simplesmente lá nada fazer.

O morro fica lá em cima. Da cidade, sobe-se o morro para chegar em casa, para chegar ao barraco, para
fazer e dançar samba.

Arcos da Lapa - Rio de Janeiro - Brasil

Na plêiade formada por Chico Buarque e outros de compositores e intérpretes(MPB) desde a segunda metade do século XX, perderam-se os pincéis e os tons fortes das cores bucólicas e românticas de outrora; não há mais lugar para ingenuidades. O malandro é uma 'espécime' em extinção:


Feijão com arroz, goiabada com queijo, Lapa com… boemia. Impossível pensar uma coisa sem a outra. A noite bem vivida, o pecado rasgado, a malemolência do samba, a síntese perfeita da carioquice - está tudo ali, na Lapa, ao alcance até dos engravatados e das enfatuadas, que cruzam o bairro durante o dia, no azáfama do cotidiano.

Lapa da malandragem, criminalidade inocente se comparada com a guerra urbana vivida nos dias de hoje; dos becos e ladeiras, onde se guardam todas as preciosas histórias de um Rio boêmio e de bem com a vida e seus prazeres.

Lapa dos Arcos, pondo diante dos nossos olhos a densidade do passado ido e vivido porém presente; dos bares onde a saideira é eterna; dos conflitos envolvendo quem não leva desaforo pra casa.

Lapa de Miguelzinho, Meia-Noite, Edgar - malandros históricos; de Madame Satã, contraditória mistura de macheza valente com sensibilidade homossexual; da igreja de uma torre só, vítima inocente na briga de Floriano.

Ah, Lapa de todos os amores! Lapa da linda visão oferecida aos que passeiam suas saudades descendo no bondinho de Santa Tereza.

A Lapa é o coração do Rio, onde se encontram, sentimental e democraticamente, os que vêm da zona sul com os que vêm da zona norte.

Todos nós, cariocas, amamos a Lapa, somos a Lapa, com seus contrastes, lugar especial que o espírito do Rio sobrevoa, livre, leve, solto, bem-humorado, sentindo-se bem nessa zona livre de todas as censuras.

A Lapa, sedutora e matreira, se renova, convivendo numa boa com as novidades da cidade. Mas não tem jeito: no fim de cada madrugada, quando os albores da manhã dissolvem as trevas e trazem o imperioso chamado do trabalho, os mais sensíveis ainda podem ter uma visão do malandro entrando por um dos becos, com seu chapéu de lado, a mulata pendurada no braço e a eterna navalha no bolso.

Antes de sumir na bruma, o malandro parece nos acenar, demonstrando o orgulho de ser carioca... e de ser da Lapa.
(CARINO, J. Blog Lapa, Amor e Malandragem)

Lapa - Rio de Janeiro - Brasil

O fato é que nem o malandro não é mais aquele. A Lapa não é mais aquela. Com a palavra, Chico Buarque de Hollanda ("Homenagem ao Malandro"):

Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.

Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.

Mas o malandro pra valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
dizem as más linguas que ele até trabalha
mora no morro e chacoalha no trem da central


E agora, na atualidade, mudaram os malandros ou mudou o Rio de Janeiro? Se covardia não matar ou amputar, eu direi que malandro e Rio de Janeiro os dois mudaram. Há, proporcionalmente, mais chances e diversidades de trabalho, de emprego que na primeira metade do século XX.

dizem as más linguas que ele até trabalha
mora no morro e chacoalha no trem da central
(Chico Buarque - "Homenagem ao Malandro)

Também o dasein do malandro, da malandragem e o conteúdo conceitual de ambos desceu o morro e se espalhou pela cidade até mesmo entre as gentes "de bem': políticos, colunáveis, empresários ...

Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.

(Chico Buarque - "Homenagem ao Malandro)

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O malandro não é mais aquele também porque: as mulheres também não são mais aquelas, conquistaram direitos civis, políticos e de cidadania, conquistaram a Lei "Maria da Penha", tornaram-se in dependentes do homem pois passaram a ser senhoras e protagonistas de sua própria economia libidinal, afetiva e economico-financeira.

O Mundo mudou, e também o Brasil não é mais aquele.


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MÁXIMO, João - Noel Rosa. São Paulo, Editora MEDIAfashion, 2010. PP. 34-35 (Coleção Folha Raízes da Música Popular Brasileira, v. 1)

3 comentários:

  1. Olá.
    Me chamo Maus sou de Fortaleza-Ce, tive vários acontecimentos religiosos onde tem alguns anos que passei a trabalhar com um malandro, porém teve vários acontecimentos que em deixaram com uma "pulga atrás da orelha".
    Ano passado recebi a historia do meu malandro ao qual recentemente fiquei sabendo que ele é de nação através de búzios, fui confirmar o que já desconfiava, e resumindo: O ano que vc deu é 1938 e o meu malandro na historia dele desencarnou em 1936, será que estamos falando da mesma entidade?

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    1. Me chamo Kauê*

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    2. Meu amigo, boa noite!
      O ano do falecimento é 1938 mesmo.
      Ele trabalha com uma falange de 7 malucos.
      Ele tem um jeito peculiar de cumprimentar as pessoas.
      Abçs

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