GARCIA MARQUEZ
2012 - 60 ANOS DA PUBLICAÇÃO DE
"OS FUNERAIS DA MAMÃE GRANDE"
(3 - FINAL)
GARCIA MARQUEZ, Gabriel - Os funerais da Mamãe Grande. Os funerais da Mamãe Grande. Trad. de Édson Braga. Ilustrações de Carybé. 3ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975. pp 148 -171.
Comentando o conto "OS FUNERAIS DA MAMÃE GRANDE"
Vicente D. Moreira
Como podemos observar, o conto a ser comentado na postagem de hoje, 5 de janeiro (a última da série), tem o mesmo título da coletânea de cujo total, oito, comentamos apenas três contos.
Em "OS FUNERAIS DA MAMÃE GRANDE", o conto, a história se passa no povoado de Macondo. Povoado, mas bem que pode ser qualquer cidade, qualquer estado e qualquer país ... desde que localizado, preferencialmente, na América Latina e que - isso é decisivo - tenha um dono ou, como no caso do conto em leitura, uma dona, vale dizer uma donna, a Mamãe Grande - uma donna que é dona de Macondo.
Como acontece com muitos povoados, pequenas e grandes cidades e até capitais nordestinas/brasileiras/macondianas, Macondo nasce num berço de ouro agrícola do latifúndio improdutivo e do ventre poderoso de uma mulher (de uma ou mais de uma família) igualmente poderosa. A Mamãe Grande, "nádegas monumentais", abraça e abarca latifúndios improdutivos de perder de vista, exploração de trabalhadores à última gota de suor, sangue e lágrimas; e, por conseguinte, todos os atributos de uma latifundiária, de uma senhora de engenho ou de casa grande.
Ao seu funeral comparecem as mais elevadas e respeitáveis (respeitáveis?) autoridades políticas, econômicas e eclesiásticas ... incluindo o santo padre, o papa.
O povoado de Macondo jamais havia recebido a visita de tantas e diferentes gentes que, inevitavelmente, deixaram uma quantidade. jamais vista, de detritos.
O povoado de Macondo jamais havia recebido a visita de tantas e diferentes gentes que, inevitavelmente, deixaram uma quantidade. jamais vista, de detritos.
No enorme leito de morte a Mamãe Grande, não chega a concluir seu longo relato dos bens materiais, humanos, naturais, econômicos e espirituais de sua propriedade
"Não chegou a terminar. A trabalhosa enumeração abreviou seu último suspiro. Afogando-se no mare magnun de fórmulas abstratas que durante dois séculos constituíram a justificação moral do poderio da família. Mamãe Grande emitiu um sonoro arroto e expirou" (GARCIA MARQUEZ, Op. Cit p.159)
Sinos dobravam com tristeza até então desconhecida e o próprio presidente consternado, autoridades e povos mil davam o inusitado tom do funeral.
Quem ler verá.
Um livro me veio à mente enquanto eu lia o conto: Os donos do poder de Raymundo Faoro. Nenhum brasileiro deveria morrer sem antes ter lido esse livro. Nele estão as Mamães (e os Papais) Grandes que não aparecem com estes nomes no livro, mas que exerceram alguma forma de poder, ao longo da história do Brasil. Em Os donos do poder reside a crítica vigorosa do patrimonialismo brasileiro: ou seja, a prática perversa de abocanhar o patrimônio financeiro e econômico do Estado, dos cidadãos e anexá-lo ao seu patrimônio pessoal e/ou da família. Ou anexar este último àquele. Naquilo que, nos dias de hoje, nos habituamos chamar de corrupção, a face do patrimonialismo brasileiro que com seu insidioso caráter crônico-degenerativo destrói saúde, educação e ... a esperança de um dia sermos o Brasil que queremos.
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