[fonte - jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 28 de fevereiro de 2012, p. B12]
OPORTUNIDADE
BENJAMIN STEINBRUCH
Países aproveitaram seus bônus demográficos para enriquecer; para o Brasil, a oportunidade é agora
Até os mais pessimistas concordam que o Brasil vive um dos bons momentos de sua história. Atravessou sem traumas a crise financeira de 2008, provocada pelos Estados Unidos, e parece fazer o mesmo na atual crise da Europa.
Desde o início do século, a economia brasileira foi beneficiada pelo duradouro movimento de alta dos preços das commodities em geral, decorrente, em grande parte, da demanda da China. Por aqui, políticas eficientes de distribuição de renda, durante muitos anos desprezadas pelo poder público, acabaram sendo adotadas e deram importante impulso ao mercado interno.
Essa ampliação do consumo interno não ocorreu devido a nenhuma política genial. Fez-se o óbvio. Aos que sofrem pela miséria ofereceu-se uma renda mínima, por meio dos programas sociais, para que pudessem pelo menos ter acesso a itens essenciais. Aos assalariados de baixíssima renda concedeu-se um salário mínimo mais elevado, com reajustes anuais acima da inflação. Aos demais cidadãos, ampliou-se a capacidade de acesso ao crédito, ainda que as taxas de juros continuem altas demais.
Tudo isso se deu em um ambiente econômico de relativa estabilidade monetária, conseguido desde o lançamento do Plano Real, em 1994.
Não estou aqui para sustentar que o país não tem problemas. Na verdade, tudo o que foi feito é apenas o começo. Falta um eficiente sistema de educação pública, o atendimento no setor de saúde é vergonhoso e a infraestrutura precária exige recursos e agilidade para ser transformada. A própria indústria, setor no qual sempre trabalhei, encontra-se em um momento crucial, sendo assolada pela competição externa e sem condições de reagir, à espera de mudanças no câmbio e nos custos internos.
Mas isso é outra história. O objetivo aqui é lembrar que o Brasil tem, apesar dos problemas, uma oportunidade histórica de enriquecer. Isso é o que pensam as pessoas que observam nosso país lá de fora. Há até um sentimento explícito de inveja nos comentários de quem compara as condições de países europeus com as do Brasil de hoje.
Se prevalecer o bom-senso, vem aí, com toda certeza, um novo ciclo de prosperidade, decorrente dos pesados investimentos que estão sendo feitos no setor de energia, especialmente no de petróleo. A exploração das gigantescas reservas do pré-sal tendem a proporcionar grande afluxo de riqueza para o país.
Não fosse tudo isso, o país vive um período de bônus demográfico, porque a maioria da população está em idade economicamente ativa. Há hoje, no país, mais de 130 milhões de pessoas na faixa de 15 a 64 anos, 67% da população total.
Ter essa parcela da população majoritária em relação à camada de dependentes (velhos e crianças) é uma dádiva que precisa ser aproveitada, porque ela vai durar apenas uns 20 ou 30 anos.
Em 2020, segundo as previsões do IBGE, esse bônus demográfico será ainda maior, quando a população em plena atividade alcançará 71% do total dos brasileiros. A partir de 2025, o número de idosos começará a crescer, o que determinará a diminuição gradual dessa vantagem demográfica.
Entre 1965 e 1990, a Coreia do Sul, por exemplo, passou por um período de bônus demográfico e soube aproveitá-lo -seu PIB aumentou 88 vezes nesse período, de US$ 3 bilhões para US$ 264 bilhões. Os chineses se beneficiam neste momento de sua estrutura etária favorável, decorrência do rigoroso controle de natalidade imposto no país na segunda metade do século passado.
O Brasil precisa aproveitar essa benesse demográfica. Manter o crescimento do PIB em pelo menos 5% a 6% ao ano é fundamental. Políticas públicas devem ser capazes de absorver a mão de obra disponível em grande quantidade e dar incentivo à produção e à produtividade internas. Além disso, o momento exige planejamento cuidadoso de políticas para a educação da imensa massa de pessoas em idade produtiva e para cuidar de sua saúde.
EUA, França, Alemanha, Coreia, Japão e outros países aproveitaram seus bônus demográficos para enriquecer com democracia. Para o Brasil, pelo menos neste século, não haverá uma segunda janela demográfica. A oportunidade é agora.
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BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 14 dias, nesta coluna.
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