quinta-feira, 8 de março de 2012

LUIZ GONZAGA (100 ANOS/2) E A MULHER

LUIZ GONZAGA (100 ANOS) E A MULHER

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Da mais que vasta obra de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que se vivo fosse estaria completando 100 anos  (em 2012), selecionamos apenas três composições:

"Pra que mais mulher"

"Boiadeiro"

"Paraiba"

Nelas, transita  um olhar que dignifica a mulher. Quem as ler verá:


PRA QUE MAIS MULHER

Pra que mais mulher
Pra que mais mulher

Se tenho uma
Que faz tudo que eu quiser
Quando eu quero um chá quentinho
Ela vem me dar
Um balaio de carinho
Ela vem me dar
Ainda bota um forrozinho
Pra nóis dois dançar
Então diga pra que é
Que eu quero outra mulher?
E quando eu chego
Do trabalho atarentado
Morto, cansado
De quengo quente
Lá está ela
Formosa e bela
Lá na janela
Cheia de amor pra gente
Aí é quando eu me acabo
Agora diga pra que diabo
Que eu quero outra mulher } bis

Em "Pra que mais mulher", a defesa da fidelidade à mulher amada possível de ser traduzida - através de outra visão poética chamada "Soneto da Fidelidade" dos (também) poetas Vinicius de Moraes e Tom Jobim




SONNET OF FIDELITY


De tudo, ao meu amor serei atento

Above all, I will be carefull to my love

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

before, and with such zeal, and always, and so much

Que mesmo em face do maior encanto

that even in face of the greatest charm

Dele se encante mais meu pensamento.

it will be more enchanted about my thought.


Quero vivê-lo em cada vão momento

I want to live it in every vain moment

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

and in it's praise I will spread my song

E rir meu riso e derramar meu pranto

and laugh my laugh and shed my mourning

Ao seu pesar ou seu contentamento.

to it's sadness or contentment.


E assim, quando mais tarde me procure

And so, when later look for me

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

maybe death, anguish of who lives

Qem sabe a solidão, fim de quem ama

maybe lonelyness, end of who loves


Que eu possa dizer do amor (que tive):

I can tell it of the love (that I had):

Que não seja imortal, posto que é chama

don't be immortal, since it's flame

Mas que seja infinito enquanto dure.

but be infinit as long as it lasts.

[Traduzida para Inglês por ninasoares em 28/9/2010]


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Em "Boiadeiro", Luiz Gonzaga fala do lugar não só de um boiadeiro ... mas também de sujeito lírico. 



BOIADEIRO

Vai boiadeiro que a noite já vem
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem
De manhazinha quando eu sigo pela estrada
Minha boiada pra invernada eu vou levar
São dez cabeça é muito pouco é quase nada mas não tem outras mais bonitas no lugar
Vai boiadeiro que o dia já vem
Levo o teu gado e vai pensando no teu bem
De tardezinha quando eu venho pela estrada
A fiarada ta todinha a me esperar
São dez fiinho é muito pouco é quase nada mas não tem outros mais bonitos no lugar
Vai boiadeiro que a tarde já vem
Leva o teu gado e vai pensando no teu bem
E quando eu chego na cancela da morada
Minha Rosinha vem correndo me abraçar
É pequenina é miudinha é quase nada mas não tem outra mais bonita no lugar
Vai boiadeiro que a noite já vem
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem




Ele, Luiz,  diz de si para si "Vai boiadeiro que o dia/ a noite já vem"/ "Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem". Acostumado a tanger boi, gado, ele parece 'tanger' a si mesmo para o lar, para os braços da companheira. Novamente, a defesa da fidelidade: " ... e vai pensando no teu bem".



E quando eu chego na cancela da morada
Minha Rosinha vem correndo me abraçar
É pequenina é miudinha é quase nada mas não tem outra mais bonita no lugar

Aí as palavras diminutivo-carinhosas ... "pequenina",  "miudinha", "quase nada" ... dirigidas à companheira e, por fim, o elogio: "mas não tem outra mais bonita no lugar".




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PARAIBA


Quando a lama virou pedra
E Mandacaru secou
Quando o Ribação de sede
Bateu asa e voou
Foi aí que eu vim me embora
Carregando a minha dor
Hoje eu mando um abraço
Pra ti pequenina
Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô
Eita pau pereira
Que em princesa já roncou
Eita Paraíba
Muié macho sim sinhô
Eita pau pereira
Meu bodoque não quebrou
Hoje eu mando
Um abraço pra ti pequenina
Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô
Quando a lama virou pedra
E Mandacaru secou


Quando arribação de sede
Bateu asa e voou
Foi aí que eu vim me embora
Carregando a minha dor
Hoje eu mando um abraço
Pra ti pequenina
Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô
Eita, eita


"PARAIBA" é um grande clássico não só de Luiz Gonzaga , o "Lua", nem apenas do cancioneiro do Nordeste brasileiro ... mas de toda a MPB (Música Popular Brasileira). Aí o destaque à mulher valente (paraíba masculina) que enfrenta com coragem e destemor o dia-a-dia das adversidades climáticas (secas, inundações ...) e socio-econômicas (violência, latifúndio, grilagem, coronelismo,  miséria, doença, mortalidade infantil ...) que marcam e diminuem a qualidade de vida da(o) nordestina(o).

Seja bemvindo Luiz ... hoje e sempre

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