sexta-feira, 16 de março de 2012

AQUÍFEROS URBANOS - TORORÓ - SALVADOR - BAHIA - BRASIL

DIQUE DO TORORÓ


SALVADOR - BAHIA
BRASIL


 
(Trecho do Dique do Tororó com imagens de vários Orixá, obras do escultor baiano Tati Moreno)

EU FUI NO TORORÓ


http://www.youtube.com/watch?v=Wf2u_XlWPec


Eu fui no Tororó
Beber água
E não achei
Encontrei bela morena 
Que no Tororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Quem não dormir agora
Só dorme de madrugada .... 
Oh Dona/Seu (nome do/a participante)
Dona/Seu ...
Se não entras na roda,
Ficarás sozinha(o).
- Sozinha(o) eu não fico
Nem hei de ficar
Porque tenho (nome do/a participante)
Para seu meu par.


(Velha Cantiga de Roda baiana que encantou a infância de muitas idosas e idosos de hoje)






FERNANDO DANNEMANN - 
Textos
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 eE
Leitor(a): Caso você tenha interesse
 em continuar lendo os meus textos 
(novos e antigos), eles podem ser 
encontrados emwww.efecade.com.br.
 Dentro de prazo ainda indefinido 
(mas não dilatado), eles serão retirados
 do Recanto das Letras.

DIQUE DO TORORÓ – Século 18
Salvador – Bahia

        O Dique do Tororó, ou simplesmente Dique, 
é uma lagoa artificial que embeleza e ameniz
parte de uma das áreas centrais de Salvador, 
capital da Bahia. Atualmente ela é margeada 
pelas avenidas Vasco da Gama e Presidente
 Costa e Silva, e está encravada entre os bairros
 de Tororó, à sua esquerda; Engenho Velho do Brotas,
 à direita; estádio Otávio Mangabeira 
(mais conhecido como Fonte Nova), ao norte; 
e bairro do Garcia, ao sul. Mas nos tempos
 do Brasil colonial, determinava o limite norte
 da então capital do Brasil.

            Sua história é longa e interessante. 
No início do século 17, época em que
 Portugal, então sob o domínio da Espanha,
 e a Holanda estavam em guerra, a 
Companhia das Índias Ocidentais, 
empresa holandesa que controlava os
 interesses mercantis do seu país, 
aproveitou-se da situação para enviar ao 
Brasil uma frota com 23 navios transportando
 3.300 homens e 500 peças de artilharia, 
comandada por Jacob Willekeins, Pieter 
Heys e Johan Van Dorn, este último na chefia
 geral e nomeado governador das terras 
conquistadas. Quando esses navios 
chegaram a Salvador (09 de maio de 1624),
 os soldados holandeses desembarcaram 
praticamente sem encontrar resistência,
 pois ela só durou dois dias, apossaram-se 
rapidamente da cidade, saquearam-na tanto
 quanto possível, e ainda por cima aprisionaram
 o governador, dom Diogo de Mendonça Furtado. 
Em seguida trataram de fortalecer suas posições,
 preparando-se para a contra-ofensiva portuguesa.

A construção de um dique incluía-se 
entre medidas defensivas determinadas, 
para que a água nele represada pudesse
 impedir ou dificultar a resistência dos 
locais. Segundo alguns relatos, “a lagoa foi
 feita a pá e picaretas por escravos 
comandados pelos invasores holandeses, 
que pretendiam cercar o palácio 
Rio Branco com um fosso que o 
tornasse inacessível aos portugueses”.
 Este palácio, um dos primeiros 
construídos no Brasil, começou a
 ser erguido por determinação do 
primeiro governador-geral do Brasil, 
Tomé de Sousa (na área que hoje forma a
 praça que tem o seu nome), em meados
 do século 16, para ser o centro da 
administração portuguesa. No início era de 
taipa de pilão, recebendo posteriormente 
pequenas ampliações.

Terminado o serviço braçal as 
águas represadas estavam contornando 
a cidade desde o lugar escolhido pelos 
holandeses para uma fortificação.
(construiu-se ali, em 1638, o forte de 
Nossa Senhora do Monte Carmelo, ou
 simplesmente Forte do Barbalho,
 localizado na atual rua Aristides Atico), 
até as trincheiras das Portas de São 
Bento (localizadas junto às muralhas da 
Cidade Alta, altura da atual praça Castro Alves),
 que na segunda metade do século 16 
integravam a linha de fortificações erguidas 
para defesa da cidadela, mas 
desmoronadas provavelmente em 1632. 
Porém, em 29 de março de 1625, 
uma armada luso-espanhola com 
52 navios, 14.000 homens e mil peças
 de artilharia, comandada pelos almirantes 
dom Manuel de Menezes, e dom Fradique
 de Toledo y Osório, chegou à baía de Todos 
os Santos, encurralando os holandeses no 
interior da cidade. Após quase trinta dias 
de cerco os invasores finalmente se renderam
 em 30 de abril, sendo-lhe permitido o retorno à 
Europa em suas embarcações.

Quase um século depois (1710-1711),
 quando o Rio de Janeiro foi invadido
 por corsários franceses, o Conselho
 Ultramarino português decidiu melhorar
 a defesa da cidade, já que pelo seu porto 
se embarcava para o reino o ouro extraído 
das minas no interior. Daí que por 
determinação do rei D. João V (1689-1750),
 cognominado O Magnânimo porque 
esbanjava os imensos tesouros que recebia ]
do Brasil, o francês Jean Massé, Capitão de 
Engenheiros em seu país, foi incumbido,
 em 1714, de elaborar um projeto que 
melhorasse o sistema defensivo local. 
Alguns anos depois (1720), quando
 Vasco Fernandes César de Meneses, 
1º Conde de Sabugosa, (1673-1741), 
assumiu o vice-reinado do Brasil, 
entregou a Massé a tarefa de engendrar 
algo que pudesse reforçar a defesa de 
Salvador, tendo este sugerido e depois
 orientado a construção de uma barragem 
cujas águas acumuladas em seu interior
 passassem a resguardar a então capital 
colonial de possíveis ataques feitos por terra.

Registros sobre o cinturão de água que
 primeiramente os holandeses haviam 
se dado ao trabalho de acumular atrás de
 um dique, para dificultar ou mesmo 
impedir qualquer tentativa de ataque 
por parte dos portugueses, esclarecem que 
depois dos trabalhos ali realizados o lago
 formado pela contenção do rio das Tripas alagou
 a região que começava onde hoje se encontra 
a Igreja de Sant’Ana do Rio Vermelho, 
estendendo-se até a Barroquinha, ou Baixa do
 Sapateiro. 

Ao lado deste foi construído no 
século 18, um prolongamento da barragem,
um novo dique denominado Tororó,
 formado pelo  represamento do rio
 Lucaia, que se estendia das proximidades
 do Campo Grande até a vizinhança do forte do 
Barbalho.

            Posteriormente, em meados do século 18,
 o governo da província da Bahia construiu a rua
 da Vala, atual avenida José Joaquim Seabra, 
canalizando o rio das Tripas (cujo curso atual, 
em sua maior parte, corre agora em galerias
 subterrâneas) no trecho da Barroquinha, e 
fazendo desaparecer o antigo lago dos holandeses. 
Já o dique de Tororó foi sendo gradativamente 
aterrado a partir dos anos 40 do século 20, quando
 as primeiras avenidas que hoje cortam a região 
começaram a ser abertas, construindo-se depois,
 em área que antigamente era ocupada pelas águas 
do dique, o estádio Otávio Mangabeira, mais 
conhecido como estádio da Fonte Nova.

            Para os adeptos do candomblé, o dique
 do Tororó é uma das moradas de seus orixás.
 Em razão disso, o artista plástico Tati Moreno
 fez oito esculturas dessas entidades, colocando-as 
dentro d’água, nas posições em que os filhos de santo,
 quando incorporados, costumam dançar nos 
terreiros de candomblé.  São elas: Ogum (deus 
do ferro e da guerra); Oxossi (deus das matas e 
da caça). Xangô (deus dos raios e trovão); Oxalá 
(o pai de todos os orixás); Iemanjá (deusa do 
mar e mãe dos orixás); Oxum (deusa dos rios,
 lagos e fontes); Nana (a mais velha dos orixás); 
Iansã (a deusa das guerras e das tempestades) 
No centro da roda existe uma fonte que lança um 
jato d’água a 40 metros de altura.

Nos tempos coloniais a população
 de Salvador tinha o costume de abastecer
 suas casas com a água retirada do dique.
 Vem dessa época uma quadrinha muito
 cantada pelas crianças de anos atrás, 
cujos versos diziam: "Eu fui no Tororó beber
 água e não achei. Encontrei linda morena que
 no Tororó deixei..."

18/03/2009



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