ORTH, Dora Maria; CUNHA, Rita Dione Cunha. Praças e áreas de lazer como ambiente construído influenciando na qualidade de vida urbana. In: ENTAC 2000, Salvador, BA. 2000. v. 01, p. 474-475.
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PRAÇAS E ÁREAS DE LAZER COMO AMBIENTE CONSTRUÍDO INFLUENCIANDO NA QUALIDADE DE VIDA URBANA (FINAL)
3. ANÁLISE PRELIMINAR DAS ÁREAS PÚBLICAS DE LAZER
Foram feitos levantamentos de 19 espaços públicos considerados áreas de lazer na área de estudo delimitada (vide desenho).Tais levantamentos incluem observações, fichas de cadastros e documentação fotográfica, além de bibliografias, projetos e mapas. Como o trabalho encontra-se em andamento, uma primeira apreciação do material colhido é apresentada a seguir na forma de análises introdutórias.
A Praça XV de Novembro, a mais antiga da área de estudo, foi e continua sendo um dos marcos mais importantes do centro urbano de Florianópolis. Com uma massa verde bastante expressiva (em relação ao entorno)constitui passagem obrigatória de quem vem dos terminais de transporte coletivo do Aterro Sul para os setores comerciais dessa parte da cidade. Tem forte influência amenizadora climática e fornece muitos bancos para descanso e contemplação. Nos dia úteis da semana é o principal ponto de lazer para quem trabalha naquele setor, durante a pausa do almoço.
A Praça Fernando Machado, conhecida também por Praça Floriano Peixoto sofreu uma forte transformação, desde o seu surgimento. Seus antigos canteiros cederam lugar ao piso de pedra e quiosques foram erigidos para abrigar pequenos comércios. Em certos dias da semana, sedia uma feira livre bastante movimentada. Mas a principal função da praça é a de circulação, fazendo o elo entre o Aterro Sul e a Praça XV de Novembro.
O Largo da Alfândega se caracteriza por abrigar um comércio de apelo turístico, estando próximo a edificações históricas muito visitadas (o Velho Mercado e o Edifício da Alfândega). Além de circulação, tem uma função amenizadora paisagística, possuindo muitos elementos arquitetônicos que enaltecem a cultura local. A área agrega muitos eventos culturais, feiras e festas de cunho regional e folclórico. Aos Domingos, funciona um comércio informal de artesãos e camelôs que expõem suas mercadorias sobre o chão para atrair o público que vem passear.
Próximo ao Largo da Alfândega e da Praça XV de Novembro, está o Calçadão da Rua Filipe Schimidt, que além de circulação é área de convívio com bancos e pequenas mesas de jogos que agregam trabalhadores, idosos aposentados e transeuntes em geral para jogar conversa fora, dominó e discutir o futebol dos dois grandes times da Cidade. No final do mesmo Calçadão, está o Largo Fagundes, uma área que abriga uma garagem subterrânea sobre a qual recebeu um trabalho paisagístico, transformando-a em praça. Quase não é freqüentada nos fins de semana, já que seus pontos de atração são as lanchonetes que só abrem em dias comerciais.
A Praça Getúlio Vargas, mais conhecida como Praça dos Bombeiros, é uma grande opção de lazer da área residencial imediata, aos domingos e feriados, sendo principalmente o parquinho e seus brinquedos o pólo de atração de pais com crianças pequenas. Seu jardim com canteiros arborizados oferecendo densa sombra e caminhos de terra largos e sinuosos convidam seus usuários para o passeio, o namoro ou o simples descanso. Nos dias úteis, a Praça serve principalmente de passagem, mas também de área de convívio para estudantes em folga nos horários de recreio dos colégios próximos.
A Pç. Olívio Amorim constitui uma estreita faixa de canteiros arborizados que se destacam e dão uma certa amenização paisagística a Avenida Hercílio Luz comprida e densamente ocupada por prédios predominantemente residenciais. É passagem e área de encontro de jovens, mas o seu perímetro é largamente explorado como área de estacionamento de veículos. Quase semelhante a esta é o Largo Bejamim Constant, que embora maior, com mais canteiros e árvores, está sempre circundada de carros estacionados, mas também ameniza o entorno residencial próximo à Av. Trompowsky.
As praças Esteves Júnior e dos Namorados, semelhantes em porte e em função, paralelas à Avenida Beira-Mar são bastante utilizadas pelos moradores locais para o passeio e as brincadeiras das crianças e para a conversa e o passeio com cães, podendo ser caracterizadas como pracinhas de vizinhança. A Praça Governador Celso Ramos, também na mesma avenida é maior que as já citadas e dividida por uma pista de veículos que compartimenta suas funções : um espaço abriga jardins e área de passeio com bancos e outro um "Play-Ground" com brinquedos e extensa área coberta de areia.
O calçadão da Avenida Beira-Mar Norte sobre o Aterro da Baía Norte é, no entanto, a área pública mais utilizada como lazer das imediações. Além de fornecer um forte impacto visual sobre o ambiente, proporcionando a contemplação de bela paisagem e contato com o mar, é extremamente procurada para a prática de exercícios físicos, passeios e até encontros, graças a alguns pontos específicos com certa infra-estrutura e comércio (estacionamentos, um bar e feiras domingueiras de artesanato). ORTH & CUNHA (1998) ressaltam que a redução da qualidade ambiental das áreas centrais da cidade, devido a pouca arborização existente, contribui para que a população migre para pontos alternativos de lazer, longe de sua residência, em busca de áreas livres como praias distantes e, dentro da área de estudo, a Avenida Beira-Mar.
As demais pracinhas levantadas neste trabalho quase não possuem expressão, tanto em porte, como em uso para lazer, pois, além de pequenas, parecem ter sido implantadas em sobras de terreno, quando não são colocadas em canteiros, formando rotatórias na malha viária. Este é o caso da Pç. do Banco Redondo, que apesar de minúscula e sem equipamentos que a caracterize como espaço de lazer, virou um referencial de localização pela presença de um banco circular que lhe ocupa quase toda a área.
Uma das tentativas para suprir a demanda por áreas de lazer, em Florianópolis, se fez pela criação do Parque Metropolitano, grande área com tratamento paisagístico sobre o Aterro da Baía Sul, entorno ambiental de um complexo rodoviário e pretensa área com função de lazer. Cortado por vias de tráfego intenso, porém, o grande Parque é atualmente uma área pouco freqüentada e praticamente abandonada, mesmo sendo o projeto de Burle Marx, grande paisagista brasileiro. Questiona-se que sua escala "não humana", com desenhos somente vislumbrados de longe ou do alto não tenha alcançado resposta dos usuários, SANTOS (1997). Possivelmente, o não uso deste espaço, que hoje compromete o jardim marxiano, deve-se a uma grande distância entre essa parte do aterro e os setores residenciais contidos na área de estudo. Em concurso público recente, tenta-se reverter a situação com uma grande reurbanização local proposta pelo projeto vencedor .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho está sendo continuado dentro do programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção da UFSC como parte de uma tese de doutorado. No momento, pode-se tecer algumas considerações quanto a influência das áreas de lazer como ambiente construído sobre a qualidade de vida urbana, através do caso apresentado neste artigo.
O centro urbano de Florianópolis, caracteriza-se por uma densificação predial crescente no triângulo central e uma progressiva intensificação dos usos dos aterros que o limitam com o mar. O triângulo central passou de um modelo de ocupação caracterizado por edificações baixas ou residências com jardins para um modelo essencialmente vertical com edificações de doze andares em média, sem alteração expressiva do sistema de vias de circulação e áreas de lazer. A construção dos aterros veio complementar o espaço urbano, abrigando funções de apoio como vias de circulação, estacionamentos, terminais de transporte, equipamentos urbanos variados, e áreas de lazer.
Em termos gerais, tem-se praças urbanas entremeadas à malha urbana tradicional da cidade complementadas pelas área de lazer construídas sobre os aterros. As praças urbanas são espaços limitados pelas fachadas que as circundam e com elas compõem a paisagem urbana que é um dos critérios de qualidade do ambiente. A medida que edificações antigas baixas são substituídas por novas em altura ou áreas antes livres são edificadas em torno da praça, o espaço da mesma vai se modificando em termos de amplitude visual, iluminação, aeração. A medida que as residências, antes com jardins, vão sendo substituídas por apartamentos, na sua maioria de pequenas dimensões, as necessidades de espaços públicos para circulação e lazer vão aumentando. No entanto, em Florianópolis, essas necessidades parecem não terem sido sentidas. A circulação se faz bastante difícil, não existe estacionamentos suficientes, as praças estão cada vez mais confinadas entre novos edifícios, o parque urbano existente não é
utilizado e as pressões se fazem no sentido de construir sempre mais e inclusive, sobre as poucas áreas públicas restantes. Talvez sejam os tempos de insegurança urbana ou talvez a proximidade ilusória de praias ou o modo de vida sedentária da maioria das pessoas. O que se deve perguntar é quais serão as conseqüências daqui a dez anos? Será que a questão da densificação extrema do solo do Centro Urbano de Florianópolis não será um ponto de deterioração do espaço e da vida da cidade, e com isso sua imagem de qualidade e seu potencial turístico? Será que as áreas públicas de lazer terão ainda menos importância na construção de nossas cidades que nos dias atuais?
4. BIBLIOGRAFIA
BARTALINI,V. Áreas verdes e espaços livres urbanos. In: Paisagem Ambiente - ensaios, edição especial nº1 e 2. São Paulo: FAU-USP, 1986. p.49-54.
COSTA, M. L. Urbanismo e paisagismo na concepção de praças. In: 4º ENEMA, Cuiabá, 1993, ANAIS do 4º ENEMA. ICHS/UFMT,1993. p.241-249.
SANTOS DOS, P.C. Espaço e memória: o aterro da Baía Sul e o desencontro Marítimo de Florianópolis. Florianópolis, 1997. Dissertação de Mestrado,UFSC.
MACEDO, S.S. Espaços livres. In: Paisagem Ambiente - ensaios. São Paulo: FAU-USP, 1995. p. 15- 56.
MACEDO, S.S. Introdução a um quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: FAU-USP/FAPESP/CNPq, 1998. 46 p.
OLIVEIRA FILHO, J.M. & DERNTL, M. F. Significados do espaço público. In: Paisagem Ambiente - ensaios. São Paulo: FAU-USP, 1995. p. 57-66.
ORTH, M. & CUNHA, R.D. A. Áreas públicas : uma questão de qualidade do ambiente urbano. In: IV ENEPEA, Florianópolis,18-20/out, 1998, no prelo.
PEREIRA, S.C. A prática do lazer em Blumenau: execução ou apropriação do espaço. DYNAMIS, Blumenau, 6 (23): 227- 245, abr/jun,1998.
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