quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ORTH e CUNHA - Praças e áreas de lazer como ambiente construído influenciando na qualidade de vida urbana


 ORTH, Dora Maria; CUNHA, Rita Dione Cunha. Praças e áreas de lazer como ambiente construído influenciando na qualidade de vida urbana. In: ENTAC 2000, Salvador, BA. 2000. v. 01, p. 474-475.
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PRAÇAS E ÁREAS DE LAZER COMO AMBIENTE CONSTRUÍDO INFLUENCIANDO NA QUALIDADE DE VIDA URBANA

RESUMO
Diante do intenso processo de densificação das cidades brasileiras em geral, as áreas públicas de lazer devem atuar como elementos de compensação com funções que aliam acessibilidade, salubridade, sociabilidade além de lazer , sendo um prolongamento dos espaços privados e integrando os espaços urbanos com seus habitantes. Este trabalho apresenta um estudo preliminar de avaliação das praças e áreas de lazer do centro urbano de Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, caracterizada por uma alta densidade predial. Pretende-se iniciar a responder de que forma essas áreas podem estar influenciando a qualidade ambiental urbana ou agregando qualidade aos espaços como ambientes construídos que são, através de sua caracterização por tipos e funções por meio de observações e levantamentos locais.
ABSTRACT
Because of the brazilian's cities intensive density process, the recreation public areas should act like compensation elements with access, healthy, social and leisure funtions, being the private spaces prolongation and integrating the urban space with their inhabitants. This paper presents a preliminary avaluation study of squares and recreation spaces localized in a highly built area from Florianópolis' urban center in Santa Catarina Island. The purpose is begin to answer how these areas may influense the urban environmental quality or give quality to these built spaces, observering and characterizing the public areas by their types and their functions.

1. INTRODUÇÃO
O lazer, hoje, é visto como uma necessidade na vida urbana para reabilitação da saúde física, mental e moral humana. PEREIRA (1998) avalia o tempo livre fora das obrigações do trabalho e espaço existente nas cidades para sediar as práticas de lazer como elementos básicos para suprir a necessidade de equilíbrio nas relações sociais em ambientes densamente povoados como as cidades. Os espaços de lazer constituídos por praças, parques, largos e outros destinados ao encontro, convívio, descanso e ou recreio da população possuem uma importância acentuada em áreas onde a densidade predial (manifestação do crescimento urbano) alcança limites máximos de ocupação do solo, sendo a alternativa para agregar qualidade ao ambiente construído e qualidade a vida das pessoas que nele habitam.
Florianópolis, localizada na Ilha de Santa Catarina, tem sua área central urbana densamente ocupada com índices que ultrapassam os 46 hab/1000m2 de densidade demográfica bruta. Durante as últimas três décadas vem sofrendo os efeitos de um crescimento que pouco tem valorizado os espaços públicos de lazer. O triângulo central tem sido palco de uma acelerada ocupação imobiliária com padrões de densidade e gabaritos que dificultam a circulação e a visualização dos lindos morros e praias que circundam essa área. Dois aterros importantes foram construídos ao longo das praias com o intuito de atender as necessidades crescentes de espaço para circulação, para áreas de lazer e implantação de equipamentos urbanos.
Considerando essa realidade, está sendo feito o estudo objeto desse artigo, na área delimitada no desenho anexo. O presente estudo exploratório das áreas públicas de lazer faz parte do início de uma série de análises baseadas em técnicas usadas em avaliação pós-ocupação do ambiente construído e buscam revelar o seu grau de contribuição na qualidade do ambiente urbano.
2. ESPAÇO, QUALIDADE,USO E FUNÇÃO DAS ÀREAS DE LAZER

As pressões do mercado imobiliário nos grandes centros urbanos é em geral responsável pela criação de legislações injustas que definem mal a distribuição dos espaços livres de edificações, rareando-os em benefício de mais e mais construções. Com isso, as áreas já existentes destinadas ao lazer, tornam-se esparsas num emaranhado de prédios, tornando-se verdadeiros "bolsões de escape" para o cidadão vislumbrar o céu ou um pouco de verde (se existir), dentro da massa edificada compacta. Por outro lado, a densificação predial dos centros urbanos fazem com que esses "bolsões de escape" tenham crescente importância para agregar qualidade ao ambiente em torno deles.
Segundo MACEDO (1995), "em quase todas as cidades do país inexistem programas reais de implementação de sistemas de espaços livres de edificação destinados ao lazer" e evidencia que a importância dos espaços livres (e aqui enfatiza-se o caso das áreas de lazer) só é percebida nos momentos de escassez e crise, quando o contexto urbano está fracionado e disperso, todo comprometido por construções e arruamentos. Embora não seja o caso de toda Florianópolis, a área de estudo é um caso bem típico deste contexto.
O uso ou não uso dos espaços públicos está condicionado às suas funções, sejam as propostas nos projetos originais ou aquelas vinculadas às reais ou às novas necessidades dos cidadãos. As praças e áreas livres de lazer possuem funções, em princípio, atreladas aos conceitos de lazer, mas por se inserirem no contexto urbano como ambiente construído, passam a incorporar outros significados como elementos de ligação entre setores da cidade, referenciais de localização ou histórico-culturais, impacto visual, saneamento e conforto ambiental, etc. Como ambiente construído que são, os espaços públicos de lazer devem ser avaliados quanto ao uso, considerando-se a sua adequação funcional (relativa à morfologia, e dimensão que permitem a utilização do espaço e ou equipamentos), adequação ambiental (ligada às condições de salubridade e conforto) e adequação estético-simbólica (referente a padrões, estilos e expectativas sociais). Tais fatores relacionados por MACEDO (1995), serão levados em conta na continuação deste trabalho, como parte de tese de doutorado, cujo objetivo é a avaliação pós-ocupação das áreas de lazer da área de estudo já mencionada.
Para a realização deste trabalho considerou-se duas classificações de lazer: o lazer passivo e o lazer ativo. Como lembra PEREIRA (1998), " a distinção do lazer entre passivo e ativo tornou-se mais comum devido ao sedentarismo do homem moderno e ao desenvolvimento do esporte de performance". Geralmente o lazer passivo refere-se ao lazer de consumo (cinema, teatro, shopping), mas a contemplação, a leitura e os jogos "sentados" estão nesta categoria e são incluídos como propostas de parques, calçadões e outros espaços de lazer. O lazer ativo refere-se aquele ligado às atividades físicas (caminhadas e esportes diversos) e lúdicas (brincadeiras e jogos infantis). Atualmente observa-se, em Florianópolis, uma cultura que valoriza mais o contato com a natureza, buscando-se o lazer contemplativo associado a atividades de caminhadas, corridas e esportes em geral, talvez buscando associar uma vida saudável ao recente status de Capital da Qualidade de Vida que ganhou a cidade, tanto pelo nível sócio-econômico e cultural, como pelos próprios atributos naturais de sua paisagem.
Em vista de que muitas das praças e espaços de lazer aqui referenciados não têm somente funções associadas ao lazer, foram identificadas as suas funções principais e secundárias conforme as categorias apresentadas por COSTA (1993):
- Circulação - quando o espaço é passagem entre pontos significativos dentro da dinâmica da cidade
- Amenização - quando a área apresenta vegetação que ofereça contraste em relação ao entorno, podendo influenciar o clima local. A amenização não é um critério apenas ambiental no sentido climático ou de saneamento pela presença do verde, mas também paisagístico, quando quebra o ritmo da volumetria local das edificações e da trama das ruas. Assim, dividiu-se a categoria em amenização ambiental (salubridade) e amenização paisagística.
- Recreação - quando o espaço oferece equipamentos para tal como parques infantis, áreas ou quadras para jogos, etc.
- Embelezamento - quando o espaço apresenta elementos que agregam valores estéticos ao entorno, destacando-se no todo ou ainda quando oferece encantos paisagísticos artificiais ou disponibiliza o contato aberto com as belezas naturais do entorno (morros, mar, praias, lagos, etc.).

Ainda acrescenta-se como outras funções apresentadas por outros autores:
- Função Cívica ou de Cidadania ,(OLIVEIRA FILHO & DERNTL, 1995) - quando o lugar é palco de diversas manifestações públicas, desde religiosas, militares e políticas até festas populares.
- Referencial e Simbólica, (BARTALINI, 1986) - quando o espaço se tornou marco referencial local ou é dotado de um significado especial apropriado pelo usuário ou habitantes da cidade (algum sentido histórico importante ou característica incorporada que descaracterizaria o ambiente caso fosse extinto).

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(continua amanhã, sexta-feira)

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