[fonte - jornal Folha de São Paulo. São Paulo (SP - Brasil), 22 de outubro de 2011, p, E10]
SUPERPOPULAÇÃO
DRAUZIO VARELLA
A POPULAÇÃO mundial aumenta em velocidade vertiginosa. Haverá alimentos e espaço para tanta gente? Desde que Thomas Malthus levantou essa questão em 1798, os acadêmicos se dividem: de um lado, os pessimistas que preveem um futuro de guerras, fome e devastação ambiental; do outro, os que consideram o crescimento populacional preocupante, porém capaz de acelerar o desenvolvimento econômico.
A revista "Science" dedicou um número à análise do aumento da população mundial. A série de artigos começa com a interrogação: 9 bilhões?
Vale a pena conhecer alguns dados:
1) Desde que descemos das árvores nas savanas da África, levamos 5 milhões de anos para chegarmos à marca de 1 bilhão de pessoas, no ano de 1800.
2) Cem anos mais tarde, já éramos 1,6 bilhão. Hoje somos 6,1 bilhões. Embora incertas, as previsões para 2050 são de 9 bilhões; e de 10 bilhões, para 2100.
3) Foram necessários 130 anos (1800 a 1930) para irmos de 1 para 2 bilhões. Em apenas 60 anos (1950 a 2010), juntaram-se a nós mais 4 bilhões. O próximo bilhão será acrescido em apenas 13 anos.
4) Entre 1950 e 2010, a expectativa de vida ao nascer na América Latina aumentou de 51 para 73 anos; de 38 para 55 na África; de 42 para 69 na Ásia; de 65 para 75 na Europa; e de 68 para 78 na América do Norte. O ganho médio foi de 20 anos.
5) O crescimento populacional mais rápido na história da humanidade aconteceu entre 1965 e 1970. Desde então, esse aumento caiu pela metade: a taxa de fertilidade global diminuiu de 5 filhos por mulher, em 1950, para a média de 2,5 em 2010. Nos países em desenvolvimento a queda foi de 6 para 3 (sem contar a China, por causa da política de filho único).
6) A queda esconde grandes diferenças regionais, no entanto. Enquanto a mulher europeia ou norte-americana tem menos de dois filhos, a africana que vive nos países situados abaixo do deserto do Saara ainda dá à luz a mais de cinco.
7) Parte expressiva do crescimento populacional dos últimos 50 anos ocorreu graças ao aumento da expectativa de vida nos países em desenvolvimento, resultado dos avanços em saúde pública e do acesso à alimentação.
8) Virtualmente, todo o crescimento que nos espera até 2050 será por conta dos países em desenvolvimento: quanto mais pobre, mais alta a natalidade. As taxas de crescimento serão mais altas na África, mas em números absolutos é na Ásia que o total de habitantes aumentará mais.
9) Até 2050, a população da América Latina deverá ir de 590 para 750 milhões. A da África irá de 1 bilhão para 2,2 bilhões.
10) Nos países em desenvolvimento, o grande número de crianças e de jovens assegura aumento rápido da população. O envelhecimento dos que vivem nos países mais ricos aponta a direção oposta. Enquanto abaixo do Saara 43% dos habitantes têm menos de 15 anos e apenas 3% já completaram 65 anos, na Europa 16% estão na primeira condição e outros 16% na segunda.
11) Em 1950, de cada três habitantes do planeta, dois viviam nos países mais pobres. Em 2050, a proporção entre pobres e ricos será de 6 : 1.
12) Em 2050, os países desenvolvidos não contarão com trabalhadores jovens em número suficiente para cobrir os gastos da previdência com seus conterrâneos mais idosos. Já naqueles em desenvolvimento faltarão empregos para os que chegarem à idade de trabalhar. O contingente de emigrantes internacionais crescerá.
13) Nos países mais ricos, há 4 trabalhadores para cada aposentado; em 2050, esse número cairá para 2. Nos mais pobres há 17 jovens trabalhadores para cada aposentado; proporção que em 2050 diminuirá para 9 : 1
14) Os números revelam que nosso destino será viver nas cidades. Em 1950, cerca de 30% da população mundial morava em áreas urbanas. Hoje somos 50%. Seremos 70% em 2050. Nos países em desenvolvimento a urbanização é bem mais rápida.
15) Em 1975 as cinco cidades mais populosas do mundo eram Tóquio (26,6 milhões), Nova York-Newark, Cidade do México, Osaka-Kobe e São Paulo (9,6 milhões). Em 2025, serão Tóquio (37,1 milhões), Nova Déli, Mumbai, São Paulo e Dacca (20,9 milhões).
Virtualmente, todo o crescimento que nos espera até 2050 será por conta dos países em desenvolvimento
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