JOVENS URBANOS, “ENVELHEÇAM DEPRESSA” SE DESEJAM VENCER PELA EDUCAÇÃO (3)
Vicente Deocleciano Moreira,
Maria da Luz Silva,
Edna Lucia do Nascimento Macedo.
(Continuação)
(Continuação)
I – Jovens mães
Em 2007, a proporção de mulheres adolescentes de 15 a 17 anos de idade com filhos era de 6,3% - na verdade, os mesmos patamares de dez anos atrás. O Norte, Centro-Oeste e Nordeste concentraram as proporções mais elevadas: 9,4%, 7,7%, 7,5%, respectivamente. No Sul e no Sudeste, as mais baixas, as duas com 5%
II – Analfabetismo
Cinqüenta e dois por cento (maior percentual) do total de analfabetos brasileiros de 15 anos de idade estão no Nordeste. No Brasil, em 2007, havia 14,1 milhões de analfabetos com 15 anos (ou mais) de idade, expressando uma taxa de 10%, menor do que em 1997 cuja taxa foi de 14,7%. Em 1997, 12% da população de 15 a 24 anos eram analfabetos. Esse percentual foi reduzido, em 2007, para 5,3%. Porém, Norte (6,0%) e Nordeste (6,5%) apesar de terem também experimentado essa mesma redução, de modo expressivo, ainda assim têm taxas que são quase o dobro das apresentadas pelas demais regiões brasileiras.
Em 2007, do total de pouco mais de 14 milhões de analfabetos, no Brasil, cerca de 9 milhões (mais da metade) eram negros e pardos. Neste quadro, a taxa de analfabetismo da população branca era de 6,1% para jovens de 15 anos ou mais de idade; nessa mesma idade, negros e pardos apresentavam taxa de 14% (mais que o dobro da taxa referente aos brancos).
III – Analfabetismo funcional
Chamamos analfabeto funcional a pessoa que lê minimamente, letras, números, frases, textos..., mas não têm capacidade de interpretar textos ou de fazer operações matemáticas simples.
Em 2007, do total de 28,3 milhões de crianças de 7 a 14 anos de idade (oficialmente em idade de estarem alfabetizadas) 2,4 milhões não sabiam ler e escrever; dentro destes 2,4 milhões, 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola. Duas grandes preocupações surgem dessa informação: 1) essa faixa etária corresponde ao Ensino Fundamental, hoje praticamente universalizado para 97,6% dos jovens brasileiros; 2) dos 2,1 milhões, 7 a 14 anos de idade que não sabiam ler (2007), apesar de freqüentarem a escola, 1,2 milhão residiam no Nordeste. Freqüentar aulas nem sempre significa receber ensino de qualidade.
Comparando os dados de 2007 com os de 1997, houve redução da taxa de analfabetismo funcional mais expressiva para jovens pardos e negros que para brancos. Isto porém, não significa superação das desigualdades entre os dois grupos de jovens porque a referida taxa, em 2007, foi de 16,1% para jovens brancos e de 27,5% - mais que o dobro, portanto – para negros e pardos.
IV - Idade inadequada
O percentual de estudantes em idade inadequada (15 a 17 anos) para o nível médio aumentou de 28,6% (1997) para 48% (2007). Apesar disso, a freqüência à escola cresceu, com muita força, de 1997 para 2007. Entre crianças de 0 a 6 anos, cresceu de 29,2% (1997) para 36,5%. (2002) e daí para 44,5% em 2007. Em 1997, 77,3% de jovens entre 15 e 17 anos de idade freqüentavam a escola; esse percentual subiu para 82,1% em 2007.
V - Freqüência à escola
Do total de jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos de idade (os adultos jovens), 30,9% disseram que freqüentavam a escola quando, se não fossem as desigualdades sociais que marcam as juventudes brasileiras, eles deveriam estar na universidade. Longe disso, mais da metade deles (57,6%) cursavam ainda o ensino fundamental, médio ou pré-vestibular, supletivo ou alfabetização de adultos. Na outra margem, menos da metade, 42,4% estavam cursando graduação ou pós- graduação. O “consolo” é que, dez anos atrás (1997) este último percentual era quase a metade: 21,5%.
A distribuição por cor ou raça da população na faixa etária entre 15 e 24 anos, que freqüenta a escola, apresenta o seguinte quadro:
► grupo etário entre 15 e 17 anos:
Jovens brancos/as – cerca de 85,2% estavam estudando, sendo que desse total 58,7% deles freqüentavam o nível médio de modo adequado a essa faixa etária.
Jovens negros/as – 79,8% freqüentavam a escola, mas apenas 39,4% cursavam o nível médio.
►grupo etário entre 18 e 24 anos
Jovens brancos/as – 57,9% freqüentavam curso universitário.
Jovens negros/as e pardos/as – aproximadamente 25% freqüentavam curso universitário.
VI - Anos de estudo
Apesar de a média de anos de estudo dos/as jovens entre 10 e 17 anos de idade ter aumentado, em todas as faixas etárias, no período 1997 – 2007, a média não atingiu os 4 anos de estudo completos para crianças com 11 anos de idade. Essas crianças apresentaram apenas 3,3 anos de estudo; as de 14 anos, somente 5,8 anos quando deveriam ter no mínimo, 7 anos de estudo; os jovens de 17 anos de idade tiveram 7,9 anos de estudo quando é esperado 10 anos de estudo.
Ainda quanto aos anos de estudo (população de 15 anos ou mais), o estudo do IBGE (BRASIL, 2008) aponta que a média apresenta vantagem de dois anos para jovens brancos (8,1 anos de estudos) em relação a negros e pardos (6,3 anos de estudos).
VII – Acesso à universidade
Sem muita variação entre as regiões brasileiras, em 2007, a taxa de freqüência a cursos universitários para jovens brancos/as entre 18 e 25 anos foi de 19,4%. Jovens negros/as e pardos/as, nessa mesma faixa etária, tiveram taxa quase três vezes menos: 6,8%; aliás, estes jovens sequer alcançaram a mesma taxa que, em 1997, valeu para jovens brancos/as.
Essas desigualdades no acesso e na conclusão de cursos universitários tendem a se agravar. Isto porque se em 1997, 9,6% dos/as jovens brancos/as tinham nível superior, apenas 2,2% de jovens negros/as e pardos/as tinham esse nível de instrução; em 2007, esses percentuais totalizavam 13,4% em favor dos/as brancos/as e 4,0 para negros/as e pardos/as. O quadro fica mais preocupante ao concluirmos que o ‘fosso’ que separa esses dois grupos de jovens cresceu de 7,4% (1997) para 9,4% (2007).
2 – Apenas jovens talentosos... e privilegiados?
Em sua edição de 11 de dezembro de 2010, a revista Veja publicou matéria sobre rapazes e moças que começaram a trilhar o caminho do sucesso profissional, ainda adolescentes (computadores, web, empresas, etc.), todos eles com passagens em bons cursos Pré-Vestibulares, escolas e universidades de elite e de prestígio no Brasil e no Exterior. Como se diz popularmente, nascidos em “berço de ouro”. Na secção Educação, a matéria, (pp. 128 – 138) de autoria de Renata Betti, recebeu o seguinte título: Apostas nota 10: os jovens que ilustram as páginas desta reportagem, os mais talentosos de sua geração, estão se preparando para ocupar cargos de comando nas empresas e na política – e, melhor, ambicionam consertar o Brasil.
Eis alguns trechos da reportagem de Betti (2010, 128-138):
Donos de currículo impecável e trajetória precocemente ascendente [grifo nosso], os 100 jovens que ilustram as páginas desta reportagem compõem o retrato da nova elite que emerge no Brasil. Universitários ou recém-formados em dez áreas distintas, como economia, engenharia e administração de empresas, eles se despregaram da média de maneira espantosa, e em muitas modalidades – a começar pelo desempenho intelectual notável. Suas notas escolares raramente ficam aquém de 10. As universidades em que ingressaram figuram no topo dos rankings nacionais, quando não dos estrangeiros (alguns estudam em Harvard, Yale, Stanford). (BETTI, 2010, p. 130)
(...)
Os dois estudantes acima passaram a desfrutar de súbita fama em Cruzeiro do Sul, uma cidade de 80.000 habitantes a 700 quilômetros de Rio Branco, a capital do Acre. Isso ocorreu depois que ambos foram agraciados com uma medalha de ouro por seu notável desempenho na última Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, competição nacional que premiou as vinte melhores redações do país entre 7 milhões de alunos da rede pública. Dadas as condições pouco favoráveis, o feito de Eduarda Moura Pinheiro, 13 anos, e Mateus Albuquerque de Souza, 15 anos, é, no mínimo, improvável... Ambos provêm de família pobre, em que os pais quase não têm estudo nem dinheiro para comprar livros. Quando querem ler, Eduarda e Mateus vão à biblioteca da escola pública onde estudam. Ali, devoram clássicos da literatura. (...). Determinados, Eduarda e Mateus sonham alto. Ela quer se tornar uma médica-cirurgiã de renome, ele, juiz.
(...)
A trajetória desses jovens reforça também a idéia de que o esforço em grau elevado acaba por lapidar o talento de forma decisiva. Pode-se dizer, sem exagero, que desde a infância eles vês se debruçando sobre os estudos com rara curiosidade, à custa de menos tempo para todo o resto [grifo nosso]
(...)
Eles estão chegando ao mercado num momento em que a demanda por gente tão gabaritada supera a oferta em certas áreas, o que os torna profissionais disputados pelas empresas. “A conversa aqui se inverteu. Agora, somos nós que nos esmeramos para atraí-los, dando liberdade de horário e até a chance de fazerem mestrado fora do país, sem perder o emprego”, relata o diretor de recursos humanos da Procter & Gamble.
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(Amanhã, terça-feira, última parte)
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(Amanhã, terça-feira, última parte)
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