quarta-feira, 5 de outubro de 2011

NITERÓI - NIZAN GUANAES

[jornal Folha de São Paulo, São Paulo (SP  Brasil), 4 de outubro de 2011, p, B8]

NITERÓI 

Por Nizan Guanaes

Neste momento em que o Brasil pensa tanto em inovação e em competitividade, é importante que o país olhe com olhos novos para os velhos problemas e para as velhas questões.
É uma espécie de insanidade agir igual, fazer igual e esperar que dos mesmos procedimentos surjam novas respostas para nossos novos desafios e oportunidades.
O novo não nasce no lugar tradicional. O novo não nasce em Roma, o novo nasce em Belém. O novo não nasce em Londres. As revoluções nascem em Liverpool.
E muitas vezes a resposta para uma questão difícil está bem na nossa frente. Mas não a vemos porque o óbvio é difícil de ver. E não enxergamos o que está na nossa frente por termos muitas vezes os olhos voltados para o passado.
A bela cidade de Niterói é um exemplo disso. "Prima pobre" do Rio de Janeiro, ela sempre foi tratada como a cidade piada. Aquela que o carioca que não perde uma tem sempre uma boa tirada sobre ela.
Mas a cidade é linda e poderosa. Estudo divulgado neste ano pela Fundação Getulio Vargas classificou Niterói como a cidade com a população mais rica do Brasil, com 30% de seus moradores na classe A e 43% nas classes A e B.
A cidade tem todos os terrenos que faltam para construir os hotéis de que o Rio tanto precisa para o seu desenvolvimento empresarial e turístico. Ela fica perto do aeroporto Santos Dumont, do porto Maravilha e do centro do Rio de Janeiro.
Basta olharmos com olhos de futuro. E não de preconceito. Geralmente, quem consegue olhar assim é estrangeiro ou criança. Porque chegam com olhos zerados, sem bloqueios e sem preconceitos.
O Brasil está lotado de oportunidades como Niterói. Ali na nossa frente, prontas para aqueles que tiverem mentes abertas para elas e espírito empreendedor.
E o mundo não tem dinheiro nem reservas naturais para seguir vivendo de maneira tradicional. Existem hábitos que sugam a nossa energia, o nosso tempo, o nosso foco e que mesmo assim continuamos praticando por absoluto decurso de prazo.
Imagine, por exemplo, quanto o Brasil consumiria se todos os níveis de governo -federal, estadual, municipal- e se os partidos de situação e de oposição simplesmente abolissem discursos e solenidades. Ou se ao menos diminuíssem o número de solenidades, inaugurações, posses. E se acabassem com discursos que geram gastos, consomem tempo e, cá entre nós, enchem a paciência de todo mundo: dos que fazem e dos que escutam.
Lembro de uma vez em que fui a uma cerimônia de posse do segundo escalão com duração de duas horas.
De quem é a culpa desse hábito? Do passado.
São homens de hoje repetindo ritos do passado. Porque duvido que alguém endocrinologicamente sadio goste dessas solenidades intermináveis.
Pensar diferente é difícil. Porque mudar um hábito, por mais simples que seja, não é fácil. E é preciso sair de sua zona de conforto para progredir.
Sempre dou um exemplo bobo, mas facilmente observável. Todos nós temos aquele pé no qual colocamos a meia primeiro. Agora, experimente trocar o pé de praxe pelo outro pé. Nos primeiros dias você até consegue, mas a força do hábito, da tradição, o empurrará de volta ao pé de praxe.
O mundo precisa trocar de pé em muitas e muitas áreas, abandonar crenças antigas, hábitos insustentáveis, práticas jurássicas. O novo mundo imporá mudanças cada vez mais rápidas; é bom você se acostumar a mudar. Só que trocar de hábito, trocar de pé, não é fácil.
O Brasil tem à sua frente oportunidades incríveis. Sobretudo porque o mundo mais desenvolvido não tem muitas Niteróis à sua frente. E nós temos muitas, do Oiapoque ao Chuí.
Portanto, basta apenas atravessar a ponte do novo. E de barca, a nado, pensarmos fora da caixa e descobrirmos a cidade maravilhosa vista por um novo ângulo.

Nizan Guanaes
Publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, no jornal Folha de S. Paulo.

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